Adeus, Lenin!, O Cheiro do Ralo, Irreversível, Os Sonhadores. Eu poderia ficar até amanhã escrevendo os belíssimos filmes que assisti no Cinecultura, agradável cinema alternativo de Campo Grande - subsidiado (até então) pelo Governo do Estado - que acaba de fechar suas portas. O motivo eu já sei e desconfio há muito tempo: falta de público, prestígio e atenção com este maravilhoso lugar que, a meu ver, era um dos meus favoritos em Campo Grande. Se não o favorito.
Lembro-me ainda o ano de 2007, estava em Campo Grande, de férias da faculdade. Em paralelo, ocorria o 4o Festival de Cinema do MS, promovido pelo Cinecultura. A paixão pelo cinema, aliado ao ócio do verão, me fazia ir com a Danusa a cada dois dias assistir a um dos filmes escolhidos pelo festival. Vimos o João Miguel despontar em seu início de carreira em dois filmes, Eu me lembro (fraco) e O Céu de Suely (interessante); Fonte da Vida, na época a nova obra do mesmo diretor do tão polêmico Requiem para um Sonho e outros filmes meticulosamente escolhidos. Meu pai que não entendeu nada, quase todo dia lhe pedia cinco reais para ir ao cinema. Deve ter pensado que eu ia sempre comprar alguns gramas de substâncias ilícitas.
Uma vez, assistindo a um documentário com meu amigo Diogo sobre o Lula (aquele onde nosso presidente conta que quando metalúrgico, tomava quatro, cinco dozes de pinga antes do almoço pra vencer o insuportável calor), ainda no Cinecultura antigo, que era anexo ao Museu do Índio, tomamos um susto dos grandes. Um transformador da rede elétrica, que ficava bem ao lado da sala, explodiu e causou um apagão geral! Não sabíamos o que fazer, sair correndo, esperar na sala... Acabamos fazendo nada mesmo. Tempos depois o cinema se mudaria para o Pátio Avenida, conjunto comercial bem-localizado na Afonso Pena. O som, imagem e conforto também melhoraram bastante.
Tenho certeza que o Cinecultura, além de me proporcionar inúmeros momentos de prazer, fez com que eu passasse a apreciar muito mais o cinema. Mas quando falo cinema, quero dizer cinema dos bons, filmes interessantes, brasileiros, europeus, latino-americanos, turcos. Não os filmes que passavam e ainda passam no miserável Cinemark, bem ao lado do Cinema Lado B, porém classe A.
É realmente muito triste uma capital como Campo Grande perder um de seus lugares mais interessante e responsável, por vários anos, pela disseminação da pouca cultura que circula nesta cidade. Não posso, porém, ficar reclamando muito: apesar de ter alguns amigos que sempre me acompanharam no Cinecultura, a grande maioria deles, apesar de valorizarem pelo menos um pouco a cultura, nunca foi um frequentador assíduo. Alguns deles nunca se deram o luxo de conhecer este belo reduto que acaba de fechar suas portas. Uma pena para Campo Grande, uma lágrima para o Cinecultura.
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
piloto automático
comemoração de um ano de formado chácara em sorocaba chegamos à noite bem à noite a luz não funciona que rolo liga pro caseiro ele fala que está tudo ok tenta de novo agora liga o outro disjuntor desliga aê agora ligou vamos fazer uma compra no mercado pra fazer um churassco agora mesmo está de madrugada compramos tudo o churrasco começa que delícia carne e cerveja no meio da madrugada e isso é só o começo as pessoas vao dormir mas outras continuam o churrasco continua começo a infernizar quem está dormindo bato na janela acorda seus preguiçosos mais carne e cerveja cerveja cerveja eles estao dormindo ainda mais uma volta pela casa batendo nas portas e janelas mais uma mais outra entro na cozinha o neder me pega pelo pescoço está furioso é melhor eu parar o churrasco continua já está claro as pessoas começam a acordar você está acordado até agora o churrasco continua pessoas que não haviam chegado na sexta começam a chegar a música continua o churrasco a cerveja já é quase meio dia vou dormir um pouco pra descansar passam alguns minutos eles me pegam me solta me solta o que é isso o que eu fiz me larga vocês são meus brothers não me joguem na piscina isso é ridiculo me soltem tbummmm caramba eles me jogaram quero só ver quem vai dormir essa próxima noite ok estou acordado de novo mais churrasco mais carne mais cerveja música diversão mais pessoas estão chegando vou dormir um pouco escondido de todo mundo poucos minutos se passam e eles me acham de novo agora batucando em uma mesa de metal que eles trouxeram pro meu quarto todos estão felizes estão revidando dando o troco eu só quero dormir um pouco isso não é justo o que eu fiz para vocês o churrasco continua mais festa mais gente chegando várias conversas ao mesmo tempo já está escuro mas a churrasqueira não pára de soltar fumaça em cima de todos a chaminé não funciona assim como as luzes no primeiro dia está tudo muito divertido minha cabeça começa a doer acho que é falta de sono e excesso de cerveja vou dormir me acordem uma da manhã quero continuar com tudo isso durmo rápido acordo de madrugada quero conversar com o pessoal vou até a churrasqueira está tudo escuro todo mundo já foi dormir volto a dormir acordo bem melhor algumas pessoas começam a bater na janelo do quarto não querem realmente que eu durma mais pelo menos já descansei já tem várias pessoas acordadas outras pessoas estão chegando quanta gente veio pro encontro começamos a jogar bola chuto várias vezes pra fora sou o fiasco do time canso de jogar vou comprar cerveja com o fefinha no extra sorocaba comemos algo estamos com fome voltamos todo mundo fala que compramos muita cerjeva quero só ver só tem esponja aqui o churrasco já está saindo está tudo muito bom cerveja pra acompanhar o joãozão chegou incrível só fala bosta mas eu morro de rir ele assume a churrasqueira churrasco argentino uma delícia começa o festival de músicas rídiculas menininha eu sou o seu fã dança da vassoura todo mundo dança dança da cadeira alguns caem a diversão é geral tem muita gente aqui meu deus alguns começam a dormir os fortes ficam comendo churrasco tomando cerveja e escutando música outros vão dormir colocamos mamonas assassinas como eles eram bons ficamos rindo é a vez do rage against the machine eu e o tio e mais não sei quem começamos a derrubar mesas e cadeiras batucar fazer barulho estragar as coisas o neder está com a gente e nos sensura ainda bem senão a casa caía o sol está nascendo está ficando claro o neder vai dormir depois o tio na barraca e fica eu e o gui que desta vez apareceu a música continua tocando o tio morreu não acorda mais eu eu o gui cansamos vamos dormir também acordo no último dia o pessoal já está preparando o almoço é a primeira refeição que não churrasco o ânimo está menor é sempre assim no último dia a comida atrasa vou comprar cerveja com o fefinha não falei que iria acabar só tinha esponja aqui ficamos bebendo mais um pouco o almoço sai como demais só preciso dormir mais um pouco agora eles me acordam está na hora de ir vou no carro com capitão tio e neder chegamos em sao paulo depois de um pouco de trânsito chego em casa arrumo meu quarto pra dormir estou exausto.
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Os automóveis
Primeiro foram os americanos e logo depois os europeus. Os japoneses de ontem perderam lugar pros coreanos de hoje. Mas quando o sol brilhar de novo, será a vez dos chineses.
Montevideo
Continuando o relato anterior, cheguei em Montevidéu tarde da noite, talvez até da madrugada, não me lembro. Sim, da madrugada, agora sei, eram duas horas passadas. Fui até o hostel que havia reservado, me arrumei e desmaiei na cama. Acordei bem mais disposto e conversei com a recepcionista pra pegar umas dicas da cidade, sendo a melhor delas a ideia de alugar uma bicicleta e andar pela rambla. Já-já conto mais.
Essa foi a terceira vez que estive na capital do Uruguai, cada vez um pouco diferente das outras. A primeira, com meus pais, vindo de carro do Brasil. Com os amigos de Campo Grande foi a segunda, estávamos em Buenos Aires e fomos até a capital vizinha, enquanto, no Brasil, as pessoas jogavam confetes uma nas outras e bebiam demais. Desta vez fui a trabalho e, como era feriado no nosso país, acabei indo um dia mais cedo para aproveitar a cidade.
Devo dizer, adoro Montevidéu! Não sei explicar porquê, apenas me identifiquei com esta cidade desde a primeira vez que estive nela. É um lugar calmo para caminhar, cheio de praças, as pessoas são educadas... Pra não falar nas ruas cheias de árvores, o cheiro especial da cidade e a culinária, carne, carne e mais carne, com um pouco de bom vinho para acompanhar.
Na primeira vez, com meus pais, acabamos entrando em um restaurante e tivemos um dos melhores almoços de todos os tempos, estava tudo muito bom. Eu e meu pai tomamos uma garrafa de vinho, enquanto isso chovia torrencialmente lá fora. Foi uma tarde muito especial, ficamos conversando e, depois de muito tempo, voltamos a caminhar por Montevidéu. Tentei porque tentei achar este mágico restaurante na segunda vez, quando estive com o pessoal, mas não consegui. Mas não é que eu estava andando pelo centro com minha bicicleta (daqui a pouco conto mais!) e me deparo com o tão esperado restaurante? Desta vez não cometi o mesmo erro, marquei o nome do lugar e até ganhei um imã de geladeira; agora, toda vez que abro a porta do congelador, vejo o nome La Torre. Da próxima vez será mais fácil.
Foi um pouco entranho passar por lugares que havia visitado com meus pais ou amigos, o porto, as praças, os prédios, as playas. Foi até um pouco melancólico, pra falar a verdade. Desta vez estava sozinho, não que seja um problema, eu viajo bastante sozinho e me viro nos 30, mas com (boa) companhia a viagem fica muito mais legal.
Agora, finalmente, o breve relato sobre o aluguel da bicicleta. Como comentei, fui recomendado a alugar a bicicleta e ficar andando pela rambla. Dito e feito, foi um dos passeios ou turismo mais legal que já fiz. Como a rambla é muito extensa, com a bicicleta é muito mais legal e se pode ver muito mais da cidade. Não sei como não tivemos esta ideia antes. Com os amigos, ficamos caminhando por horas e não andamos nem a metade do que eu andei com a bicicleta. O fato da capital uruguaia ser plana também ajuda bastante.
Como não podia ser diferente, parei em uma biblioteca (muito legal, por sinal) e me dei de presente três livros de autores uruguaios: um do consagrado Mario Benedetti, outro do Horacio Quiroga, que também já conhecia, e o último do Gabriel Richieri, que enquanto escrevo estas linhas, foi o único dos três que li até agora. Gostei bastante do livro, que é uma autobiografia do autor em forma de novela ou pequenos contos, deu pra sentir bastante como era a Montevideu de décadas passadas. Até transcrevi uma parte do livro aqui no blog, posts atrás.
De volta ao aeroporto, três dias, algumas reuniões e uma palestra em portunhol depois, percebi como o aeroporto é bonito: estrutura ampla, limpa, claro e cheia de vidros. Uma ótima primeira impressão para quem chega a um país; pra quem vai embora, um adeus simpático.
Essa foi a terceira vez que estive na capital do Uruguai, cada vez um pouco diferente das outras. A primeira, com meus pais, vindo de carro do Brasil. Com os amigos de Campo Grande foi a segunda, estávamos em Buenos Aires e fomos até a capital vizinha, enquanto, no Brasil, as pessoas jogavam confetes uma nas outras e bebiam demais. Desta vez fui a trabalho e, como era feriado no nosso país, acabei indo um dia mais cedo para aproveitar a cidade.
Devo dizer, adoro Montevidéu! Não sei explicar porquê, apenas me identifiquei com esta cidade desde a primeira vez que estive nela. É um lugar calmo para caminhar, cheio de praças, as pessoas são educadas... Pra não falar nas ruas cheias de árvores, o cheiro especial da cidade e a culinária, carne, carne e mais carne, com um pouco de bom vinho para acompanhar.
Na primeira vez, com meus pais, acabamos entrando em um restaurante e tivemos um dos melhores almoços de todos os tempos, estava tudo muito bom. Eu e meu pai tomamos uma garrafa de vinho, enquanto isso chovia torrencialmente lá fora. Foi uma tarde muito especial, ficamos conversando e, depois de muito tempo, voltamos a caminhar por Montevidéu. Tentei porque tentei achar este mágico restaurante na segunda vez, quando estive com o pessoal, mas não consegui. Mas não é que eu estava andando pelo centro com minha bicicleta (daqui a pouco conto mais!) e me deparo com o tão esperado restaurante? Desta vez não cometi o mesmo erro, marquei o nome do lugar e até ganhei um imã de geladeira; agora, toda vez que abro a porta do congelador, vejo o nome La Torre. Da próxima vez será mais fácil.
Foi um pouco entranho passar por lugares que havia visitado com meus pais ou amigos, o porto, as praças, os prédios, as playas. Foi até um pouco melancólico, pra falar a verdade. Desta vez estava sozinho, não que seja um problema, eu viajo bastante sozinho e me viro nos 30, mas com (boa) companhia a viagem fica muito mais legal.
Agora, finalmente, o breve relato sobre o aluguel da bicicleta. Como comentei, fui recomendado a alugar a bicicleta e ficar andando pela rambla. Dito e feito, foi um dos passeios ou turismo mais legal que já fiz. Como a rambla é muito extensa, com a bicicleta é muito mais legal e se pode ver muito mais da cidade. Não sei como não tivemos esta ideia antes. Com os amigos, ficamos caminhando por horas e não andamos nem a metade do que eu andei com a bicicleta. O fato da capital uruguaia ser plana também ajuda bastante.
Como não podia ser diferente, parei em uma biblioteca (muito legal, por sinal) e me dei de presente três livros de autores uruguaios: um do consagrado Mario Benedetti, outro do Horacio Quiroga, que também já conhecia, e o último do Gabriel Richieri, que enquanto escrevo estas linhas, foi o único dos três que li até agora. Gostei bastante do livro, que é uma autobiografia do autor em forma de novela ou pequenos contos, deu pra sentir bastante como era a Montevideu de décadas passadas. Até transcrevi uma parte do livro aqui no blog, posts atrás.
De volta ao aeroporto, três dias, algumas reuniões e uma palestra em portunhol depois, percebi como o aeroporto é bonito: estrutura ampla, limpa, claro e cheia de vidros. Uma ótima primeira impressão para quem chega a um país; pra quem vai embora, um adeus simpático.
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quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Salão do Automóvel: a retroalimentação do caos
Primeiro foi o Daniel, chegou em casa contando que havia visitado o Salão do Automóvel. Carro de 1000 cavalos, um Subaru fatiado no meio para as pessoas conhecerem o interior do mesmo, sem falar nas tradicionais marcas como Ferrari, Porsche e Masserati. Uma semana depois foi a vez dos meus pais. Meu pai, que havia tentando visitar o último Salão na edição anterior, mas não conseguiu por causa do trânsito, desta vez pôde ver as novidades automobilísticas. E levou minha mãe junto, que chegou em casa cheia de fotos na câmera, encantada com o estande da Mercedes.
Eu, como alguns de vocês já devem desconfiar, não tive vontade alguma de ver os mais novos e exorbitantes carros do momento. E não me arrependo disso. Porém, senti na pele os reflexos deste mega evento sem graça, que fez São Paulo parar por vários dias. O pior, eu não tinha nada a ver com isso.
Aconteceu que me apareceu uma viagem de última hora a trabalho para o Uruguai, que fez com que eu tivesse que ir até o aeroporto de Guarulhos, bem mais longe do usual Congonhas. Tudo bem. Como eu viajaria na segunda-feira, no meio do feriado do 2 de novembro, cheguei à conclusão de que o trajeto demoraria mais ou menos uma hora. Meu voo era às 20:20 e saí pontualmente às cinco da tarde do trabalho. A corrida começou bem, avenidas Vereador José Diniz e Ibirapuera uma beleza, vai demorar pouco mais de meia hora desta vez, pensei.
Chegando perto da 23, a surpresa: tudo parado, travado, engarrafado, congestionado. Dê o nome que quiser. O taxista sintonizou o rádio e, minuto após minuto, os boletins sobre o trânsito não paravam de cuspir informações negativas. Eu escutava o adjetivo moroso, qualificando nosso amigo trânsito, a cada segundo. O motorista, que conhecia São Paulo na palma da mão, fez mil desvios mas, mesmo assim, não conseguíamos fugir da aglomeração. Demoramos 2 horas e quarenta minuros até o aeroporto.
Lógico, perdi o voo.
A dinâmica funciona assim: muitas pessoas dependem do carro para irem ao trabalho, faculdade ou qualquer compromisso; as ruas, pontes e avenidas de São Paulo (e de qualquer outra cidade grande), que foram construídas há muitos anos, não suportam mais a infinita quantidade de automóveis; mesmo assim, os motoristas não abrem mão de utilizar o transporte individual porque o público é muito ruim; e, para finalizar, a cada dois anos, como os brasileiros gostam de carros, muitos deles visitam o Salão do Automóvel, onde ficam babando pelos novos modelos e idolatrando cada vez mais este meio de transporte que está se mostrando inviável nesta cidade. O resultado é que, apesar da falta de espaço nas vias, cada vez mais as concessionárias de automóveis estão enchendo o bolso de dinheiro.
Existe uma especulação de quando que São Paulo vai parar. Mas não está claro que já parou? Qual o verdadeiro sentido de parar? Conversando com taxistas a estatística é sempre a mesma: a cada dia São Paulo licencia 800 novos carros. Em São Paulo não se pode simplesmente sair a qualquer hora do dia se você tem que andar um percurso um pouco distante. Eu, por exemplo, quando saio de sexta-feira à noite, volto do trabalho, faço hora em casa (algumas horas, na verdade), e só depois, quando o horário de pico acabou, rumo para o ponto de ônibus. Se choveu ou está chovendo... Esquece. E tem gente pensando ainda que essa cidade só vai parar em 2017.
Mas é claro que o governo e administração pública têm sua parcela de culpa nesta história. Faltam ônibus, trens e metrôs. Como eu já citei acima, é difícil as pessoas acabarem com a dependência dos carros se o transporte público não é eficiente. O metrô comemora que em 2013 o bairro de Santo Amaro estará interligado com as outras linhas mais centrais. Mas era pra estar há muito tempo, era pra existir muito mais linhas e estações. Os ônibus deveriam ser muito melhores e passar com mais frequência nos pontos. E o governo pensando em trem bala pra ligar São Paulo ao Rio de Janeiro. Dá licença!
A solução? Talvez criar o Salão do Transporte Público, onde os cidadãos possam conferir as novidades em matéria de ônibus, trens, metrôs e vans. Poderiam daí, em vez de babar por carros que nunca vão ter, escolher algo que seria útil para todos. Outra ideia: que o Cristovam Buarque dos Transportes imite o da Educação e proponha uma lei (como estão dizendo por aí) onde os políticos e sua trupe sejam obrigados a utilizar somente transporte público, nada de carros. Radical? Pois um cidadão, como muitos em São Paulo, perder quatro horas todo dia no trânsito é muito mais radical pra mim.
Eu, como alguns de vocês já devem desconfiar, não tive vontade alguma de ver os mais novos e exorbitantes carros do momento. E não me arrependo disso. Porém, senti na pele os reflexos deste mega evento sem graça, que fez São Paulo parar por vários dias. O pior, eu não tinha nada a ver com isso.
Aconteceu que me apareceu uma viagem de última hora a trabalho para o Uruguai, que fez com que eu tivesse que ir até o aeroporto de Guarulhos, bem mais longe do usual Congonhas. Tudo bem. Como eu viajaria na segunda-feira, no meio do feriado do 2 de novembro, cheguei à conclusão de que o trajeto demoraria mais ou menos uma hora. Meu voo era às 20:20 e saí pontualmente às cinco da tarde do trabalho. A corrida começou bem, avenidas Vereador José Diniz e Ibirapuera uma beleza, vai demorar pouco mais de meia hora desta vez, pensei.
Chegando perto da 23, a surpresa: tudo parado, travado, engarrafado, congestionado. Dê o nome que quiser. O taxista sintonizou o rádio e, minuto após minuto, os boletins sobre o trânsito não paravam de cuspir informações negativas. Eu escutava o adjetivo moroso, qualificando nosso amigo trânsito, a cada segundo. O motorista, que conhecia São Paulo na palma da mão, fez mil desvios mas, mesmo assim, não conseguíamos fugir da aglomeração. Demoramos 2 horas e quarenta minuros até o aeroporto.
Lógico, perdi o voo.
A dinâmica funciona assim: muitas pessoas dependem do carro para irem ao trabalho, faculdade ou qualquer compromisso; as ruas, pontes e avenidas de São Paulo (e de qualquer outra cidade grande), que foram construídas há muitos anos, não suportam mais a infinita quantidade de automóveis; mesmo assim, os motoristas não abrem mão de utilizar o transporte individual porque o público é muito ruim; e, para finalizar, a cada dois anos, como os brasileiros gostam de carros, muitos deles visitam o Salão do Automóvel, onde ficam babando pelos novos modelos e idolatrando cada vez mais este meio de transporte que está se mostrando inviável nesta cidade. O resultado é que, apesar da falta de espaço nas vias, cada vez mais as concessionárias de automóveis estão enchendo o bolso de dinheiro.
Existe uma especulação de quando que São Paulo vai parar. Mas não está claro que já parou? Qual o verdadeiro sentido de parar? Conversando com taxistas a estatística é sempre a mesma: a cada dia São Paulo licencia 800 novos carros. Em São Paulo não se pode simplesmente sair a qualquer hora do dia se você tem que andar um percurso um pouco distante. Eu, por exemplo, quando saio de sexta-feira à noite, volto do trabalho, faço hora em casa (algumas horas, na verdade), e só depois, quando o horário de pico acabou, rumo para o ponto de ônibus. Se choveu ou está chovendo... Esquece. E tem gente pensando ainda que essa cidade só vai parar em 2017.
Mas é claro que o governo e administração pública têm sua parcela de culpa nesta história. Faltam ônibus, trens e metrôs. Como eu já citei acima, é difícil as pessoas acabarem com a dependência dos carros se o transporte público não é eficiente. O metrô comemora que em 2013 o bairro de Santo Amaro estará interligado com as outras linhas mais centrais. Mas era pra estar há muito tempo, era pra existir muito mais linhas e estações. Os ônibus deveriam ser muito melhores e passar com mais frequência nos pontos. E o governo pensando em trem bala pra ligar São Paulo ao Rio de Janeiro. Dá licença!
A solução? Talvez criar o Salão do Transporte Público, onde os cidadãos possam conferir as novidades em matéria de ônibus, trens, metrôs e vans. Poderiam daí, em vez de babar por carros que nunca vão ter, escolher algo que seria útil para todos. Outra ideia: que o Cristovam Buarque dos Transportes imite o da Educação e proponha uma lei (como estão dizendo por aí) onde os políticos e sua trupe sejam obrigados a utilizar somente transporte público, nada de carros. Radical? Pois um cidadão, como muitos em São Paulo, perder quatro horas todo dia no trânsito é muito mais radical pra mim.
terça-feira, 9 de novembro de 2010
O amor é outra coisa
Estados
El romance es un juego. El noviazgo, un intento. El casamiento es una celebración. El matrimonio, un acuerdo. El amor es otra cosa.
Gravedad, Gabriel Richieri
El romance es un juego. El noviazgo, un intento. El casamiento es una celebración. El matrimonio, un acuerdo. El amor es otra cosa.
Gravedad, Gabriel Richieri
A República Dominicana de hoje e a da ditadura no passado
Depois de três dias em Bogotá acabei indo para Santo Domingo, capital da República Dominicana. Nunca imaginei que fosse conhecer este país, ainda mais tão cedo assim. O congresso para o qual eu havia sido convidado era sobre o mercado de carbono na America Latina e Caribe. Fiz uma apresentação no segundo dia do encontro sobre Programa de Atividades (PoA), um tipo de programa de crédito de carbono onde se pode agrupar vários pequenos projetos semelhantes. Estava um pouco ansioso no começo, nunca havia feito uma palestra pra tanta gente, ainda mais em inglês. Mas deu tudo certo, passei a mensagem.
Pra falar a verdade, eu estava a princípio mais interessado em descobrir como seria a vida neste país caribenho do que nas praias em si. A primeira impressão que tive ao chegar em Santo Domingo foi o calor. Ou melhor, o calor e a umidade, lembrando bastante Manaus, mas talvez não tão perto do inferno quanto a capital do Amazonas.
Tive sorte de ficar hospedado no mesmo hotel onde a conferência se realizou. Uma: o hotel era na beira-mar; apesar de ficar o dia todo infurnado nas salas de conferência, dava pra dar uma escapada até o saguão do hotel e olhar o mar (do lado de dentro, lá fora era muito quente!), parado e verde. Outra: ter um quarto no mesmo local da conferência serviu como ponto de apoio para trabalhar ou até descansar.
Na primeira noite, logo após minha chegada à ilha, pedi informação no guichê e fui até um restaurante pra tirar a barriga da miséria. No pequeno percurso (o restaurante ficava na mesma quadra do hotel) fui abordado mais ou menos 13 vezes por cafetões que queriam porque queriam que eu entrasse nas casas e conhecesse suas garotas. Incrível com eles reconhecem um gringo de longe. Eu não sabia que eu parecia um gringo. Será? Após me desvencilhar de todos eles, cheguei ao restaurante, comi um sanduíche sem graça e conversei um pouco com o garçom, que, segundo ele, havia atendido nosso presidente Lula há pouco tempo. Coitado do Lula se comeu o mesmo sanduíche que eu.
Fiquei impressionado com o tanto de SUVs que andam pelas ruas de Santo Domingo. A cada dois carros, um era grande e alto. Depois de averiguar um pouco descobri as razões: status (como não?) mas também lei da sobrevivência, já que as ruas não são muito boas e no período das chuvas parte delas ficam inundadas. Havia também muitos desses caminhões enormes que a gente só vê nos filmes americanos, como aquele no doFalcão.
Já que não conseguia aproveitar durante o dia, acabei saindo à noite e descobrindo um pouco como a cidade funcionava depois do horário comercial. Nos três dias do fórum acabei indo para bares ou restaurantes com um pessoal que conheci durante o dia. Isso foi bem legal, pessoas do continente todo, alguams eu já conhecia de outros eventos, a maioria não. Em um desses bares, depois de um cocktail organizado pelo evento, estava conversando com meus novos amigos quando, de repente, olho para o fundo do bar e vejo um caboclo, capacete na cuca, taco de beiseball na mão, rebatendo as bolinhas que uma máquina cuspia. Achei incrível, parecia que estava sonhando. Imaginem um bar no Brasil onde se pode jogar beiseball sozinho! Depois fiquei sabendo, este é o esporte mais difundido na República, eles até exportam jogadores pros Estados Unidos. Cada país com seu esporte.
Na útima noite, quando o congresso havia acabado, fomos comemorar em um restaurante requintado na Cidade Colonial. Esta parte da cidade é bem interessante, parece um forte com construções muito antigas, nunca havia visto algo parecido. Comemos muito bem e, pra variar, seguimos pra outro bar depois. Encarnamos o espírito espanhol e acabamos mundando pra outro bar ainda. Esta noite foi bem divertida.
Pra fechar a viagem com chave de ouro, fomos no sábado pra uma praia chamada Guayacanes, distante uma hora da capital. Quem nos levou foi uma local que tinha trabalhado no seminário e fez amizade com a gente. É claro, fomos de SUV para a praia, que era linda! A água do mar era verde azulada ou azul esverdeada, impossível definir. Ficamos a manhã e tarde toda conversando, dando rizada e até eu, que não sou muito fã de água, acabei entrando no mar. Valeu a pena!
***
Um pouco antes de embarcar para a Colômbia e República Dominicana, a Danusa me presenteou com mais um livro do Mario Vargas Llosa, A Festa do Bode. O momento não podia ser melhor, já que a história se passa na Santo Domingo do começo da década de 60 e ilustra quão terrível era vida sob a ditadura de Trujillo, presidente do país que acabou sendo assassinato em 1961.
Até o nome da cidada mudou durante o período da ditadura, tornando-se Capital Trujillo. O ditador era ferrenho, mandava matar seus companheiros por qualquer desconfiança, abusava de suas mulheres, humilhava o povo, e daí pra pior. Lendo o livro tive a impressão de que as ditaduras do Brasil ou Argentina foram fichinhas em comparação com a da República Dominicana.
Como na maioria dos livros do Vargas Llosa que li, a trama é muito bem elaborada. O personagem principal é uma mulher, filha de um alto funcionário durante o regime ditatorial, que volta para Santo Domingo após vários anos de refúgio nos Estados Unidos. Conforme a leitura vai se desenvolvendo, começamos a perceber os reais motivos da volta da personagem principal à terra natal. Paralelamente (característica do escritor) outra trama se desenvolve lentamente: um grupo contra o regime está prestes a atacar o carro do ditador para matá-lo e, talvez assim, acabar com o regime sangrento e injusto.
Foi interessante pelo menos começar a ler o livro antes de chegar em Santo Domingo, pude identificar algumas coisas como nome de praias ou bairros, clima e até a cerveja local, Presidente, que por sinal é muito boa. Talvez se o livro não possuísse tantos detalhes, a leitura fosse um pouco mais dinâmica, mas, de maneira geral, o livro ainda é muito bom e passa um belo panorama das dificuldades deste país durante sua ditadura. Provavelmente se a ditadura ainda estivesse presente, eu não teria conhecido a República Dominicana. Muito menos escrito estas linhas, é claro.
Pra falar a verdade, eu estava a princípio mais interessado em descobrir como seria a vida neste país caribenho do que nas praias em si. A primeira impressão que tive ao chegar em Santo Domingo foi o calor. Ou melhor, o calor e a umidade, lembrando bastante Manaus, mas talvez não tão perto do inferno quanto a capital do Amazonas.
Tive sorte de ficar hospedado no mesmo hotel onde a conferência se realizou. Uma: o hotel era na beira-mar; apesar de ficar o dia todo infurnado nas salas de conferência, dava pra dar uma escapada até o saguão do hotel e olhar o mar (do lado de dentro, lá fora era muito quente!), parado e verde. Outra: ter um quarto no mesmo local da conferência serviu como ponto de apoio para trabalhar ou até descansar.
Na primeira noite, logo após minha chegada à ilha, pedi informação no guichê e fui até um restaurante pra tirar a barriga da miséria. No pequeno percurso (o restaurante ficava na mesma quadra do hotel) fui abordado mais ou menos 13 vezes por cafetões que queriam porque queriam que eu entrasse nas casas e conhecesse suas garotas. Incrível com eles reconhecem um gringo de longe. Eu não sabia que eu parecia um gringo. Será? Após me desvencilhar de todos eles, cheguei ao restaurante, comi um sanduíche sem graça e conversei um pouco com o garçom, que, segundo ele, havia atendido nosso presidente Lula há pouco tempo. Coitado do Lula se comeu o mesmo sanduíche que eu.
Fiquei impressionado com o tanto de SUVs que andam pelas ruas de Santo Domingo. A cada dois carros, um era grande e alto. Depois de averiguar um pouco descobri as razões: status (como não?) mas também lei da sobrevivência, já que as ruas não são muito boas e no período das chuvas parte delas ficam inundadas. Havia também muitos desses caminhões enormes que a gente só vê nos filmes americanos, como aquele no doFalcão.
Já que não conseguia aproveitar durante o dia, acabei saindo à noite e descobrindo um pouco como a cidade funcionava depois do horário comercial. Nos três dias do fórum acabei indo para bares ou restaurantes com um pessoal que conheci durante o dia. Isso foi bem legal, pessoas do continente todo, alguams eu já conhecia de outros eventos, a maioria não. Em um desses bares, depois de um cocktail organizado pelo evento, estava conversando com meus novos amigos quando, de repente, olho para o fundo do bar e vejo um caboclo, capacete na cuca, taco de beiseball na mão, rebatendo as bolinhas que uma máquina cuspia. Achei incrível, parecia que estava sonhando. Imaginem um bar no Brasil onde se pode jogar beiseball sozinho! Depois fiquei sabendo, este é o esporte mais difundido na República, eles até exportam jogadores pros Estados Unidos. Cada país com seu esporte.
Na útima noite, quando o congresso havia acabado, fomos comemorar em um restaurante requintado na Cidade Colonial. Esta parte da cidade é bem interessante, parece um forte com construções muito antigas, nunca havia visto algo parecido. Comemos muito bem e, pra variar, seguimos pra outro bar depois. Encarnamos o espírito espanhol e acabamos mundando pra outro bar ainda. Esta noite foi bem divertida.
Pra fechar a viagem com chave de ouro, fomos no sábado pra uma praia chamada Guayacanes, distante uma hora da capital. Quem nos levou foi uma local que tinha trabalhado no seminário e fez amizade com a gente. É claro, fomos de SUV para a praia, que era linda! A água do mar era verde azulada ou azul esverdeada, impossível definir. Ficamos a manhã e tarde toda conversando, dando rizada e até eu, que não sou muito fã de água, acabei entrando no mar. Valeu a pena!
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Um pouco antes de embarcar para a Colômbia e República Dominicana, a Danusa me presenteou com mais um livro do Mario Vargas Llosa, A Festa do Bode. O momento não podia ser melhor, já que a história se passa na Santo Domingo do começo da década de 60 e ilustra quão terrível era vida sob a ditadura de Trujillo, presidente do país que acabou sendo assassinato em 1961.
Até o nome da cidada mudou durante o período da ditadura, tornando-se Capital Trujillo. O ditador era ferrenho, mandava matar seus companheiros por qualquer desconfiança, abusava de suas mulheres, humilhava o povo, e daí pra pior. Lendo o livro tive a impressão de que as ditaduras do Brasil ou Argentina foram fichinhas em comparação com a da República Dominicana.
Como na maioria dos livros do Vargas Llosa que li, a trama é muito bem elaborada. O personagem principal é uma mulher, filha de um alto funcionário durante o regime ditatorial, que volta para Santo Domingo após vários anos de refúgio nos Estados Unidos. Conforme a leitura vai se desenvolvendo, começamos a perceber os reais motivos da volta da personagem principal à terra natal. Paralelamente (característica do escritor) outra trama se desenvolve lentamente: um grupo contra o regime está prestes a atacar o carro do ditador para matá-lo e, talvez assim, acabar com o regime sangrento e injusto.
Foi interessante pelo menos começar a ler o livro antes de chegar em Santo Domingo, pude identificar algumas coisas como nome de praias ou bairros, clima e até a cerveja local, Presidente, que por sinal é muito boa. Talvez se o livro não possuísse tantos detalhes, a leitura fosse um pouco mais dinâmica, mas, de maneira geral, o livro ainda é muito bom e passa um belo panorama das dificuldades deste país durante sua ditadura. Provavelmente se a ditadura ainda estivesse presente, eu não teria conhecido a República Dominicana. Muito menos escrito estas linhas, é claro.
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sábado, 6 de novembro de 2010
Bogotá DC
Há mais ou menos dois anos, quando estava morando em Londres, mudei totalmente meu conceito sobre a Colômbia. Como a grande maioria dos brasileiros eu relacionava este país somente com pobreza, tráfico e violência. Estava muito enganado, preso em mais uma das armadilhas do preconceito. O que fez mudar minha imagem na capital da Inglaterra? Um livro de fotos de Medellin que uma amiga colombiana me mostrou. O fato de ter outros amigos colombianos (incrível como existiam pessoas deste país no curso de inglês que fiz) também ajudou a me esclarecer algumas coisas. Eles falavam que seu país era muito bonito, legal pra sair a noite e não tão violento como os jornais noticiavam.
Por sorte, tive a oportunidade de conhecer Bogotá há mais ou menos um mês. Foi sorte mesmo, fui convidado pelo trabalho a participar de um fórum na Republica Dominicana e, como não havia nenhum voo direto, acabei indo pela Avianca, empresa colombiana. Como o fórum começava na quarta e na terça era feriado, remarquei minha passagem para domingo e passei três dias andando pela capital colombiana e confirmando que fizera muito bem em mudar meu conceito sobre este país.
Fiquei hospedado em um albergue no centro da Candelária, um bairro muito pitoresco e agradável de Bogotá. Sua pequenas casas e prédios antigos, a maioria deles coloridos, fazem com que um passeio por essa região seja bem agradável. É na Candelária que está localizada a praça Bolívar e, bem em frente da praça, a catedral da cidade, cartão postal de Bogotá. Mas não é só isso, existem muitas outras coisas interessantes na Candelária como museus, praças, restaurantes...
Por falar em restaurantes, devo dizer que gostei muito da culinária colombiana, comi bastante arepas (salgado de milho recheado com queijo), ajiaco (sopa com vários tipos de batata, espiga de milho e frango desfiado) e um outro prato que não me lembro o nome, basicamente com vários tipos de carne, linguiças, arroz, feijão e abacate. Sim, eles comem abacate com tudo! Aprovei. Sem falar nos sucos, tinha um de frutas vermelhas que era uma delícia. Bom, minha mãe sempre fala, o turismo que eu mais gosto é o gastronômico, deve ser verdade.
Me marcou em Bogotá DC - maneira como os colombianos chamam sua capital - a dinâmica da cidade, maior do que eu imaginava. A cidade se espalha no eixo norte e sul, limitada a leste por montanhas e a oeste... talvez pela preguiça de se contruir para esta direção, acredito. A arquitetura é única, muitos prédios, mesmo os comerciais, são de tijolinho à vista, criando uma imagem única e original da cidade. As ruas se dividem em carreras e calles, e o mais legal é que eles não se importam em dar nomes de políticos e celebridades às ruas, mas sim números. As carreras cortam a cidade de norte a sul e as calles de leste a oeste. É muito fácil de se localizar e calcular a distância de um lugar ao outro, penso que toda cidade deveria adotar este sistema. O que adianta ter uma avenida chamada Afonso Pena? Eu mesmo nem sei quem ele foi.
Outra coisa legal de Bogotá é o sistema de transporte público. Há alguns anos eles criaram os corredores para os ônibus Transmilênio, todos vermelhos, novos e articulados. O projeto foi inspirado nos corredores de Curitiba, porém, no caso de Bogotá, foi o primeiro projeto de crédito de carbono no setor de transportes a ser registrado na ONU. A justificativa: conseguiram provar que com os corredores, os ônibus andariam mais uniformemente e, assim, economizariam combustível, reduzindo as emissões de gases efeito estufa.
A componente social também foi contemplada: em muitos lugares onde os corredores do Tranmilênio foi contruídos, locais públicos como praças, parques e ruas foram revitalizados, trazendo as pessoas de volta às ruas e criando uma intereção maior cidadão/cidade assim como cidadão/cidadão. Muito interessante, sinto falta disto em São Paulo.
Ainda no contexto social e da urbanização, é interessante destacar a abrupta queda da violência que a Colombia alcançou. Com todos colombianos que conversei, a resposta foi unânime: o país está agora muito mais seguro, fruto de um combate acirrado com as FARC e outras organizações criminosas. Andando pelas ruas de Bogotá eu não me senti ameaçado nenhuma vez; claro que evitei andar em locais desconhecidos pela noite, mas dava para perceber que as pessoas estavam tranquilas e sem medo. Fiquei surpreso ao saber que grande parte dos colombianos não gosta da Ingrid Bittencourt, política que estava concorrendo à presidência e foi sequestrada durante sua campanha eleitoral, ficando refém das FARC durante seis anos. O povo alega que ela foi longe demais e que era óbvio que ela seria sequestrada. Muitos querem ainda que ela perca sua cidadania colombiana, já que está refugiada, junto com sua família, na França.
Como me disseram os amigos de Londres, Bogotá tem uma vida noturna muito badalada. No última dia de minha estada nesta cidade fui para o norte, onde está localizada uma região cheia de casas noturnas, bares e restaurantes. É como se fosse uma Rua Agusta de Bogotá, com a diferença que é muito mais agradável de caminhar, as calçadas são largas, o bairro bonito.
Acabei indo (sozinho) em uma bar-balada-restaurante chamado Andrés Carne de Résl, uma das paradas obrigatórias em Bogotá. O dono do lugar é meio artista, meio empreendedor e o conceito é muito original: em um prédio de 5 andares, pode-se comer, beber e dançar. Nos andares mais baixos, estão as pessoas comendo. Nos mais alto, apenas dançando e bebendo. Nos intermediários, os três, tudo misturado! Sem falar que a música ambiente é uma só pro prédio todo e a decoração também é única. Teria sido muito legal caso eu estivesse com amigos. Os colombianos são, de maneira geral, muito simpáticos e receptivos, mas não muito neste bar. Devia ser a nata (nariz em pé) da sociedade colombiana. Mas tudo bem, toda cidade tem seu defeito.
Por sorte, tive a oportunidade de conhecer Bogotá há mais ou menos um mês. Foi sorte mesmo, fui convidado pelo trabalho a participar de um fórum na Republica Dominicana e, como não havia nenhum voo direto, acabei indo pela Avianca, empresa colombiana. Como o fórum começava na quarta e na terça era feriado, remarquei minha passagem para domingo e passei três dias andando pela capital colombiana e confirmando que fizera muito bem em mudar meu conceito sobre este país.
Fiquei hospedado em um albergue no centro da Candelária, um bairro muito pitoresco e agradável de Bogotá. Sua pequenas casas e prédios antigos, a maioria deles coloridos, fazem com que um passeio por essa região seja bem agradável. É na Candelária que está localizada a praça Bolívar e, bem em frente da praça, a catedral da cidade, cartão postal de Bogotá. Mas não é só isso, existem muitas outras coisas interessantes na Candelária como museus, praças, restaurantes...
Por falar em restaurantes, devo dizer que gostei muito da culinária colombiana, comi bastante arepas (salgado de milho recheado com queijo), ajiaco (sopa com vários tipos de batata, espiga de milho e frango desfiado) e um outro prato que não me lembro o nome, basicamente com vários tipos de carne, linguiças, arroz, feijão e abacate. Sim, eles comem abacate com tudo! Aprovei. Sem falar nos sucos, tinha um de frutas vermelhas que era uma delícia. Bom, minha mãe sempre fala, o turismo que eu mais gosto é o gastronômico, deve ser verdade.
Me marcou em Bogotá DC - maneira como os colombianos chamam sua capital - a dinâmica da cidade, maior do que eu imaginava. A cidade se espalha no eixo norte e sul, limitada a leste por montanhas e a oeste... talvez pela preguiça de se contruir para esta direção, acredito. A arquitetura é única, muitos prédios, mesmo os comerciais, são de tijolinho à vista, criando uma imagem única e original da cidade. As ruas se dividem em carreras e calles, e o mais legal é que eles não se importam em dar nomes de políticos e celebridades às ruas, mas sim números. As carreras cortam a cidade de norte a sul e as calles de leste a oeste. É muito fácil de se localizar e calcular a distância de um lugar ao outro, penso que toda cidade deveria adotar este sistema. O que adianta ter uma avenida chamada Afonso Pena? Eu mesmo nem sei quem ele foi.
Outra coisa legal de Bogotá é o sistema de transporte público. Há alguns anos eles criaram os corredores para os ônibus Transmilênio, todos vermelhos, novos e articulados. O projeto foi inspirado nos corredores de Curitiba, porém, no caso de Bogotá, foi o primeiro projeto de crédito de carbono no setor de transportes a ser registrado na ONU. A justificativa: conseguiram provar que com os corredores, os ônibus andariam mais uniformemente e, assim, economizariam combustível, reduzindo as emissões de gases efeito estufa.
A componente social também foi contemplada: em muitos lugares onde os corredores do Tranmilênio foi contruídos, locais públicos como praças, parques e ruas foram revitalizados, trazendo as pessoas de volta às ruas e criando uma intereção maior cidadão/cidade assim como cidadão/cidadão. Muito interessante, sinto falta disto em São Paulo.
Ainda no contexto social e da urbanização, é interessante destacar a abrupta queda da violência que a Colombia alcançou. Com todos colombianos que conversei, a resposta foi unânime: o país está agora muito mais seguro, fruto de um combate acirrado com as FARC e outras organizações criminosas. Andando pelas ruas de Bogotá eu não me senti ameaçado nenhuma vez; claro que evitei andar em locais desconhecidos pela noite, mas dava para perceber que as pessoas estavam tranquilas e sem medo. Fiquei surpreso ao saber que grande parte dos colombianos não gosta da Ingrid Bittencourt, política que estava concorrendo à presidência e foi sequestrada durante sua campanha eleitoral, ficando refém das FARC durante seis anos. O povo alega que ela foi longe demais e que era óbvio que ela seria sequestrada. Muitos querem ainda que ela perca sua cidadania colombiana, já que está refugiada, junto com sua família, na França.
Como me disseram os amigos de Londres, Bogotá tem uma vida noturna muito badalada. No última dia de minha estada nesta cidade fui para o norte, onde está localizada uma região cheia de casas noturnas, bares e restaurantes. É como se fosse uma Rua Agusta de Bogotá, com a diferença que é muito mais agradável de caminhar, as calçadas são largas, o bairro bonito.
Acabei indo (sozinho) em uma bar-balada-restaurante chamado Andrés Carne de Résl, uma das paradas obrigatórias em Bogotá. O dono do lugar é meio artista, meio empreendedor e o conceito é muito original: em um prédio de 5 andares, pode-se comer, beber e dançar. Nos andares mais baixos, estão as pessoas comendo. Nos mais alto, apenas dançando e bebendo. Nos intermediários, os três, tudo misturado! Sem falar que a música ambiente é uma só pro prédio todo e a decoração também é única. Teria sido muito legal caso eu estivesse com amigos. Os colombianos são, de maneira geral, muito simpáticos e receptivos, mas não muito neste bar. Devia ser a nata (nariz em pé) da sociedade colombiana. Mas tudo bem, toda cidade tem seu defeito.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Física quântica no dia a dia
Passar camisa é como o princípio de Heisenberg: passamos um lado e, ao atacar o outro, a parte que acabamos de passar já está amassada.
Cerveja é tudo igual
No último final de semana fui mais uma vez com amigos da faculdade para Avaré. Quando vamos pra lá não fazemos muitas coisas, ficamos basicamente em frente à churrasqueiro conversando, comendo e bebendo cerveja. Algumas vezes acabamos indo para a represa, que fica a uns 500 metros da casa. É sempre muito divertido.
Desta vez, conforme eu havia prometido pro pessoal, realizei um teste cego com quatro cervejas: Antarctica, Brahma, Itaipava e Skol. Meu motivo maior era mostrar pra todos que é muito difícil diferenciar uma marca da outra e, na grande maioria das vezes, a decisão de optar por uma marca ou excluir outra é tomada basicamente por questões de marketing.
Dito e feito. As duas pessoas que mais acertaram, souberam diferenciar apenas duas das quatro cervejas. O teste mostrou claramente duas tendências: a) quase todas as pessoas acharam a Itaipava, de longe, a pior das cervejas. Por isso, falaram que era a Antarctica - o pessoal da Ambev precisa trabalhar mais a imagem dela; b) a cerveja que foi mais acertada foi a Skol. Entretanto, pode ser que isso se deu devido a influências que a primeiras pessoas podem ter causado nas que fariam o teste depois, visto que todos ficamos debruçados na mesa escutando o palpite de cada mestre cervejeiro. E as primeiras pessoas, coincidentemente ou não, palpitaram Skol para o mesmo copo.
O meu resultado? Não fui bem, não; acertei apenas uma: Itaipava, claramente a pior delas. Confesso também que era muito difícil sentir alguma diferença entre Skol, Brahma e Antarctica. E a conclusão dos meus amigos? De que, realmente, é muito difícil diferenciar uma marca da outra mas, mesmo assim não vão começar a tomar Antarctica porque, segundo eles, é a que mais dá dor de cabeça. Acho que desta vez não serei capaz de conduzir um teste que prove que o que causa dor de cabeça é a quantidade tomada, e não se escolhemos a marca A, B ou C. Palmas aos marqueteiros!
Desta vez, conforme eu havia prometido pro pessoal, realizei um teste cego com quatro cervejas: Antarctica, Brahma, Itaipava e Skol. Meu motivo maior era mostrar pra todos que é muito difícil diferenciar uma marca da outra e, na grande maioria das vezes, a decisão de optar por uma marca ou excluir outra é tomada basicamente por questões de marketing.
Dito e feito. As duas pessoas que mais acertaram, souberam diferenciar apenas duas das quatro cervejas. O teste mostrou claramente duas tendências: a) quase todas as pessoas acharam a Itaipava, de longe, a pior das cervejas. Por isso, falaram que era a Antarctica - o pessoal da Ambev precisa trabalhar mais a imagem dela; b) a cerveja que foi mais acertada foi a Skol. Entretanto, pode ser que isso se deu devido a influências que a primeiras pessoas podem ter causado nas que fariam o teste depois, visto que todos ficamos debruçados na mesa escutando o palpite de cada mestre cervejeiro. E as primeiras pessoas, coincidentemente ou não, palpitaram Skol para o mesmo copo.
O meu resultado? Não fui bem, não; acertei apenas uma: Itaipava, claramente a pior delas. Confesso também que era muito difícil sentir alguma diferença entre Skol, Brahma e Antarctica. E a conclusão dos meus amigos? De que, realmente, é muito difícil diferenciar uma marca da outra mas, mesmo assim não vão começar a tomar Antarctica porque, segundo eles, é a que mais dá dor de cabeça. Acho que desta vez não serei capaz de conduzir um teste que prove que o que causa dor de cabeça é a quantidade tomada, e não se escolhemos a marca A, B ou C. Palmas aos marqueteiros!
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Banco do Brasil engessado
Vi algumas vezes na TV uma propaganda, não me lembro de qual empresa, onde um funcionário aparece com os dois braços engessados. Em uma mão eles está segurando um telefone e tentando utilizar o aparelho; ao mesmo tempo, com a mão restante, ele tenta mexer no computador. Nem preciso dizer a trapalhada que vira a cena. A mensagem do anúncio é que uma empresa engessada terá a mesma performance do funcionário pateta. Semana passada descobri que o Banco do Brasil é uma empresa engessada.
Há mais de seis anos sou correntista do maior banco brasileiro. Ao passar no vestibular e me mudar para Sorocaba, abri uma conta universitária em uma agência localizada dentro do Extra desta cidade. Como era conta para estudante, não tive quase nenhuma dificuldade para abri-la. No meu dia a dia resolvia tudo pela internet, eu era o responsável na repúblicar em cuidar das contas de energia e internet. Visitas na agência, nem pensar. Incrível como economizamos tempo (e dinheiro) quando utilizamos o sistema bancário na internet, que, por sinal, foi um dos pioneiros no mundo, se não o pioneiro.
Como a vida é feita de ciclos, minha faculdade chegou ao fim e, após alguns meses perambulando sem rumo por Indaiatuba, arrumei um emprego em São Paulo. Como já não utilizava a agência mesmo, no começo de minha experiência paulistana continuei com a conta na agência de Sorocaba. O problema foi que comecei a ter uns problemas como limite diário de transferência e resolvi transferir para uma agência próxima ao trabalho.
Meus problemas começaram.
Em princípio, como fui informado pelo telefone, a transferência entre agências seria bem simples, só precisaria ir na agência nova com poucos documentos (o olerite entre eles) e tudo estaria resolvido. Fui lá, tomei um chá de cadeira e, quando fui atendido por J. (qualquer semelhança ou analogia com jumento é pura coincidêcia), um escriturário do BB, fui informado que eu não podia utilizar aquele documento porque meu nome havia sido impresso em cima da palavra NOME. Um mero erro gráfico. Era muito fácil reconher que meu nome inicial era ANDRÉ, mas na xerox, ele disse, não dava para distinguir.
Mas eu já tenho conta no Banco do Brasil, vocês tem o meu cadastro, por que não utilizar esse mesmo olerite?, eu perguntei. Regras do bando, ele disse. OK, ótimo. Combinei com ele que iria ao trabalho procurar outro olerite com meu nome aparecendo e voltaria em um instante. Como não trabalho há muito tempo, só possuia um olerite onde meu nome havia sido impresso sem sobrepor o campo NOME. Peguei o olerite salvador e rumei, novamente, para o banco. Chegando lá, o problema: "Ahh, mas esse seu olerite é mais antigo que três meses, não posso utilizá-lo", disse J. Mas você já não viu o outro que, apesar de não conter meu nome legível (na xerox), é mais recente que 90 dias?
O J. havia jogado fora a xerox anterior e eu teria que voltar novamente ao trabalho e trazer os dois olerites: o com o nome legível (fora do prazo) e o mais recente (mas com o primeiro nome ilegível). Reclamei, insisti, mas não teve jeito. Na hora lembrei da propaganda e ao J., sobrepus automaticamente uma imagem sua, porém, não apenas com os braços engessado, mas sim com o corpo todo. Percebi no mesmo instante o que não sabia: o Banco do Brasil havia quebrado os braços. Quem sabe as pernas também?
Se eu falar que no dia seguinte voltei com meus cinco olerites e ainda escutei que eles estavam tendo problemas com a xerox e não estava ficando legível, vocês vão achar que é exagero. Dei uma risada cínica com a legenda de "se vira mermão, agora é com vocês, isso não é problema meu", que foi imediatamente entendida. Resolveram finalmente o problema com a xerox, assinei mais de dez folhas e, segundo J., teria minha conta transferia até a próxima sexta-feira.
Hoje é quinta-feira e a próxima sexta-feira se tranformou na passada. Liguei hoje para minha gerente de Sorocaba, que me falou que a conta havia sido de fato criada, porém não havia solicitação de transferência. Palmas ao J.! A situação atual é que até amanha, de novo próxima sexta-feira, a transferência deve ser efetuada.
Só de pensar que quando minha conta for transferida, terei de fazer mais uma visita aos meus amigos bancários para aumentar meu limite diário - catalizador de toda essa confusão - sinto calafrios pelo corpo todo. Engraçada a lógica do BB: quando era estudante, sem renda alguma, tinha um limite de tranferência de RS 1.000,00. Agora, com renda comprovada pelos malditos olerites, meu limite é de incríveis R$ 600,00! Mal posso esperar para reencontrar o J.
Há mais de seis anos sou correntista do maior banco brasileiro. Ao passar no vestibular e me mudar para Sorocaba, abri uma conta universitária em uma agência localizada dentro do Extra desta cidade. Como era conta para estudante, não tive quase nenhuma dificuldade para abri-la. No meu dia a dia resolvia tudo pela internet, eu era o responsável na repúblicar em cuidar das contas de energia e internet. Visitas na agência, nem pensar. Incrível como economizamos tempo (e dinheiro) quando utilizamos o sistema bancário na internet, que, por sinal, foi um dos pioneiros no mundo, se não o pioneiro.
Como a vida é feita de ciclos, minha faculdade chegou ao fim e, após alguns meses perambulando sem rumo por Indaiatuba, arrumei um emprego em São Paulo. Como já não utilizava a agência mesmo, no começo de minha experiência paulistana continuei com a conta na agência de Sorocaba. O problema foi que comecei a ter uns problemas como limite diário de transferência e resolvi transferir para uma agência próxima ao trabalho.
Meus problemas começaram.
Em princípio, como fui informado pelo telefone, a transferência entre agências seria bem simples, só precisaria ir na agência nova com poucos documentos (o olerite entre eles) e tudo estaria resolvido. Fui lá, tomei um chá de cadeira e, quando fui atendido por J. (qualquer semelhança ou analogia com jumento é pura coincidêcia), um escriturário do BB, fui informado que eu não podia utilizar aquele documento porque meu nome havia sido impresso em cima da palavra NOME. Um mero erro gráfico. Era muito fácil reconher que meu nome inicial era ANDRÉ, mas na xerox, ele disse, não dava para distinguir.
Mas eu já tenho conta no Banco do Brasil, vocês tem o meu cadastro, por que não utilizar esse mesmo olerite?, eu perguntei. Regras do bando, ele disse. OK, ótimo. Combinei com ele que iria ao trabalho procurar outro olerite com meu nome aparecendo e voltaria em um instante. Como não trabalho há muito tempo, só possuia um olerite onde meu nome havia sido impresso sem sobrepor o campo NOME. Peguei o olerite salvador e rumei, novamente, para o banco. Chegando lá, o problema: "Ahh, mas esse seu olerite é mais antigo que três meses, não posso utilizá-lo", disse J. Mas você já não viu o outro que, apesar de não conter meu nome legível (na xerox), é mais recente que 90 dias?
O J. havia jogado fora a xerox anterior e eu teria que voltar novamente ao trabalho e trazer os dois olerites: o com o nome legível (fora do prazo) e o mais recente (mas com o primeiro nome ilegível). Reclamei, insisti, mas não teve jeito. Na hora lembrei da propaganda e ao J., sobrepus automaticamente uma imagem sua, porém, não apenas com os braços engessado, mas sim com o corpo todo. Percebi no mesmo instante o que não sabia: o Banco do Brasil havia quebrado os braços. Quem sabe as pernas também?
Se eu falar que no dia seguinte voltei com meus cinco olerites e ainda escutei que eles estavam tendo problemas com a xerox e não estava ficando legível, vocês vão achar que é exagero. Dei uma risada cínica com a legenda de "se vira mermão, agora é com vocês, isso não é problema meu", que foi imediatamente entendida. Resolveram finalmente o problema com a xerox, assinei mais de dez folhas e, segundo J., teria minha conta transferia até a próxima sexta-feira.
Hoje é quinta-feira e a próxima sexta-feira se tranformou na passada. Liguei hoje para minha gerente de Sorocaba, que me falou que a conta havia sido de fato criada, porém não havia solicitação de transferência. Palmas ao J.! A situação atual é que até amanha, de novo próxima sexta-feira, a transferência deve ser efetuada.
Só de pensar que quando minha conta for transferida, terei de fazer mais uma visita aos meus amigos bancários para aumentar meu limite diário - catalizador de toda essa confusão - sinto calafrios pelo corpo todo. Engraçada a lógica do BB: quando era estudante, sem renda alguma, tinha um limite de tranferência de RS 1.000,00. Agora, com renda comprovada pelos malditos olerites, meu limite é de incríveis R$ 600,00! Mal posso esperar para reencontrar o J.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
A energia do Brasil
Nesta última segunda fui a um evento da revista EXAME chamado Fórum Energia, muito bem organizado, palestras e debates interessantes e presença de personalidades importantes como o ministro de minas e energia - que fez sua palestra e logo depois abandonou o fórum -, presidente da EPE e outros pesos-pesados do setor energético brasileiro.
Em geral, a pauta mais marcante e discutida foi a nova capitalização da Petrobras (não tinha como não), onde a companhia pretende arrecadar mais de R$ 200 bi para poder dar continuidade nos investimentos e explorar os recém-descobertos poços de petróleo, principalmente os do pré-sal. Como objetivo intrínseco de cada debate, algumas rodas de discussão (uma pena que não todas elas) possuíam um debatedor contra a opinião geral. No caso do gigantismo da Petrobras, um comentário interessante foi tecido: O Brasil não correria grande risco de abandonar sua critividade em desenvolver energia limpa e renovável caso o petróleo passe a ser abundante e domine o setor energético brasileiro?
Mesmo com toda esta tematização, uma coisa não se discute: a necessidade de nossa estatal do petróleo ser capitalizada. Porém, muitas críticas foram feitas na maneira como o governo está conduzindo tal processo. A mudança do tipo de exploração do petróleo, que para os blocos do pré-sal deixará de ser concessão, se tornando modo partilha, ainda gera muitos comentários controversos pelos especialistas. Uma opinião interessante foi que o Brasil, ao realizar esta mudança, abandonará o clube de países como Estados Unidos, Noruega e Reino Unido para entrar no grupo do Irã, Arábia Saudita, Venezuela e Argélia, tidos como ditaduras e regimes instáveis.
Sem contar a cessão onerosa de alguns poços que a Petrobras incorporou do Estado por um preço relativamento baixo, criando assim a controvérsia de que para o contribuinte brasileiro, ainda mais aquele que não é acionista da estatal, o governo entregou de bandeija um ativo que possuía à uma empresa que a grande maioria dos cidadãos não é acionista. Ficou claro que o Brasil está querendo aumentar significativamente o controle na maior empresa brasileira e neste setor que se torna cada dia mais importante para a economia brasileira. Entretanto, segundo um analista presente no evento, os preços das ações da companhia estão pagando caro por essa intervenção política.
Fugindo um pouco do tema central do evento, foi discutido também outras fontes de energia como a fotovoltaica, etanol e hídrica. No caso da energia proveniente do Sol, a mensagem ficou clara: o preço desta tecnologia está caindo abruptamente. Talvez presenciaremos em apenas poucos anos o mesmo fenômemo que, embora ainda um pouco nebulos e inexplicável, está acontecendo com as eólicas no Brasil, ou seja, grande desenvolvimento de parques, empresas fabricantes de aerogeradores se instalando no nosso páis e o preço chegando a ser competitivo com os das PCHs.
Já o futuro do etanol e da energia elétrica gerada por este setor, através da queima do bagaço da cana-de-acúcar, não está tão promissor. O presidente da UNICA, união das usinas sucro-alcooleiras do Estado de São Paulo, presente no fórum, mencionou que os boom dos investimentos entre os anos 2006 e 2008 não continuaram nos anos seguintes. Caso esta tendência continue, haverá um decréscimo no consumo de etanol pela frota brasileira devido à escassez desta commodity.
No caso das PCHs, as pequenas centrais hidrelétricas com potência instalada de até 30 MW, a grande barreira enfrentada pelos empreendedores e companhias é o licensiamento ambiental. Falta de critério e demasiado poder atribuído a funcionários juniores, foram citados como os principais entraves. Exemplos engraçados porém preocupantes foram mencionados como o motivo para grandes atrasos na execução das pequenas hidrelétricas. O primeiro deles causado por uma questão indígena, que reivindicou que a cachoeira onde a PCH estava sendo instalada foi, há milhares de anos, palco do casamento entre o Sol e a lua, sendo assim este argumento acatado pelo orgão licenciador temporariamente; já o segundo caso, o reservatório de outra usina precisou ser desviado devido à presença de uma bromélia na área que seria inundada. Mesmo sendo um engenheiro ambiental, não posso deixar de comentar quão hilário são estes exemplos!
Outro fator que aumentou a qualidade do Fórum EXAME de Energia foi a presença do George Vidor, jornalista/economista da Globo News, que mediou muito bem os debates e apresentações. Sem contar que estava trajando sua gravata borboleta indefectível. Engraçado ver pessoalmente as celebridades que estamos acostumados a encontrar quase todos os dias na TV. Agora é só esperar o próximo fórom no ano que vem, tomara que tão bom quanto este.
Em geral, a pauta mais marcante e discutida foi a nova capitalização da Petrobras (não tinha como não), onde a companhia pretende arrecadar mais de R$ 200 bi para poder dar continuidade nos investimentos e explorar os recém-descobertos poços de petróleo, principalmente os do pré-sal. Como objetivo intrínseco de cada debate, algumas rodas de discussão (uma pena que não todas elas) possuíam um debatedor contra a opinião geral. No caso do gigantismo da Petrobras, um comentário interessante foi tecido: O Brasil não correria grande risco de abandonar sua critividade em desenvolver energia limpa e renovável caso o petróleo passe a ser abundante e domine o setor energético brasileiro?
Mesmo com toda esta tematização, uma coisa não se discute: a necessidade de nossa estatal do petróleo ser capitalizada. Porém, muitas críticas foram feitas na maneira como o governo está conduzindo tal processo. A mudança do tipo de exploração do petróleo, que para os blocos do pré-sal deixará de ser concessão, se tornando modo partilha, ainda gera muitos comentários controversos pelos especialistas. Uma opinião interessante foi que o Brasil, ao realizar esta mudança, abandonará o clube de países como Estados Unidos, Noruega e Reino Unido para entrar no grupo do Irã, Arábia Saudita, Venezuela e Argélia, tidos como ditaduras e regimes instáveis.
Sem contar a cessão onerosa de alguns poços que a Petrobras incorporou do Estado por um preço relativamento baixo, criando assim a controvérsia de que para o contribuinte brasileiro, ainda mais aquele que não é acionista da estatal, o governo entregou de bandeija um ativo que possuía à uma empresa que a grande maioria dos cidadãos não é acionista. Ficou claro que o Brasil está querendo aumentar significativamente o controle na maior empresa brasileira e neste setor que se torna cada dia mais importante para a economia brasileira. Entretanto, segundo um analista presente no evento, os preços das ações da companhia estão pagando caro por essa intervenção política.
Fugindo um pouco do tema central do evento, foi discutido também outras fontes de energia como a fotovoltaica, etanol e hídrica. No caso da energia proveniente do Sol, a mensagem ficou clara: o preço desta tecnologia está caindo abruptamente. Talvez presenciaremos em apenas poucos anos o mesmo fenômemo que, embora ainda um pouco nebulos e inexplicável, está acontecendo com as eólicas no Brasil, ou seja, grande desenvolvimento de parques, empresas fabricantes de aerogeradores se instalando no nosso páis e o preço chegando a ser competitivo com os das PCHs.
Já o futuro do etanol e da energia elétrica gerada por este setor, através da queima do bagaço da cana-de-acúcar, não está tão promissor. O presidente da UNICA, união das usinas sucro-alcooleiras do Estado de São Paulo, presente no fórum, mencionou que os boom dos investimentos entre os anos 2006 e 2008 não continuaram nos anos seguintes. Caso esta tendência continue, haverá um decréscimo no consumo de etanol pela frota brasileira devido à escassez desta commodity.
No caso das PCHs, as pequenas centrais hidrelétricas com potência instalada de até 30 MW, a grande barreira enfrentada pelos empreendedores e companhias é o licensiamento ambiental. Falta de critério e demasiado poder atribuído a funcionários juniores, foram citados como os principais entraves. Exemplos engraçados porém preocupantes foram mencionados como o motivo para grandes atrasos na execução das pequenas hidrelétricas. O primeiro deles causado por uma questão indígena, que reivindicou que a cachoeira onde a PCH estava sendo instalada foi, há milhares de anos, palco do casamento entre o Sol e a lua, sendo assim este argumento acatado pelo orgão licenciador temporariamente; já o segundo caso, o reservatório de outra usina precisou ser desviado devido à presença de uma bromélia na área que seria inundada. Mesmo sendo um engenheiro ambiental, não posso deixar de comentar quão hilário são estes exemplos!
Outro fator que aumentou a qualidade do Fórum EXAME de Energia foi a presença do George Vidor, jornalista/economista da Globo News, que mediou muito bem os debates e apresentações. Sem contar que estava trajando sua gravata borboleta indefectível. Engraçado ver pessoalmente as celebridades que estamos acostumados a encontrar quase todos os dias na TV. Agora é só esperar o próximo fórom no ano que vem, tomara que tão bom quanto este.
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
O novo presidente dos hambúrgueres
Após a aquisição da rede Burger King mundial pelo fundo de investimentos brasileiro 3G Capital, Bernardo Hees, antigo presidente da ALL, também controlada pela 3G, foi escolhido para assumimir o mais alto posto da cadeia de lanchonetes. Na ALL, Hees era conhecido por dedicar uma semana de todo mês para conversar com maquinistas, operários, fazer viagens de trem, enfim, experienciar o cotidiano da parte operacional da empresa. Agora no Burger King, será que ele pedirá o combo Whooper todo dia no almoço?
Bicicleta em São Paulo!
Isso mesmo, comprei uma bike para pedalar em São Paulo! Desde quando me mudei pra cá, há uns seis meses, tinha na cabeça a ideia de comprar uma bicicleta pra ir pro trabalho alguns dias da semana e pra dar uma volta pelo bairro, aos finais de semana. O fato do meu carro ter sido roubado contribuiu bastante pra que eu finalmente comprasse a bicicleta. Com ela posso ir para alguns lugares que não são nem tão perto para ir a pé nem tão longe que justifique pegar um ônibus.
Comecei esta semana ainda a olhar as ofertas pela internet e logo me deparei com uma muito boa, aparentemente. Era uma Caloi, 21 marchas e quadro de alumínio por apenas 400 reais. Pra quem andou em uma bicicleta da década de 70 de apenas 3 marchas (detalhe que a intermediária não funcionava) durante o intercâmbio na Suíça, uma bicicleta dessas como a da oferta soou como uma Ferrari em duas rodas. Porém, ao chegar na Decathlon, percebi que o quadro da bike era um pouco pequeno. Outro problema: o câmbio era genérico, e não da Shimano, referência em quase todas bicicletas. Isso iria me trazer dores de cabeça no futuro. Pedi indicação a um vendedor preguiçoso e ele falou que, realmente, a promoção não valia a pena.
Comecei a olhar outros modelos e, ao me deparar com outro da Caloi, meu olho quase brilhou! Decidi que levaria esta bicicleta ao montar nela e dar uma pequena volta pela loja. Ela era muito mais confortável do que a da promoção. Sem contar que tinha amortecedor no garfo, o quadro era do tamanho indicado, trocadores bem melhores, etc. No final das contas acabei gastando mais do que o dobro do que pretendia inicialmente. Sem contar os apetrechos como capacete, luzes de iluminação e corrente com cadeado. Mesmo assim acho que fiz um belo investimento.
O detalhe é que São Paulo não é uma das cidades mais convidativas para dar uma volta de bike ou até utilizá-la como meio de transporte corrente, para não comentar as bicicletas brancas penduradas em postes de grandes vias com função de protesto ou lembrança. Justamente por isso a necessidade de andar quase que com uma armadura da idade-média. Mesmo assim tenho certeza que será muito divertido andar pela Chácara Santo Antonio nos finais de semana, quando os carros não marcam intensa presença.
Hoje mesmo (comprei a Caloi Supra ontem) já utilizei minha nova aquisição para ir ao KfW. A ida, uma beleza. Já a volta, aquele sofrimento, praticamente dois quilômetros de subida. Até parece a São Silvestre, quando tudo fica mais difícil no final. O problema é que, desconfio, não percorrerei este trecho somente no último dia do ano!
Comecei esta semana ainda a olhar as ofertas pela internet e logo me deparei com uma muito boa, aparentemente. Era uma Caloi, 21 marchas e quadro de alumínio por apenas 400 reais. Pra quem andou em uma bicicleta da década de 70 de apenas 3 marchas (detalhe que a intermediária não funcionava) durante o intercâmbio na Suíça, uma bicicleta dessas como a da oferta soou como uma Ferrari em duas rodas. Porém, ao chegar na Decathlon, percebi que o quadro da bike era um pouco pequeno. Outro problema: o câmbio era genérico, e não da Shimano, referência em quase todas bicicletas. Isso iria me trazer dores de cabeça no futuro. Pedi indicação a um vendedor preguiçoso e ele falou que, realmente, a promoção não valia a pena.
Comecei a olhar outros modelos e, ao me deparar com outro da Caloi, meu olho quase brilhou! Decidi que levaria esta bicicleta ao montar nela e dar uma pequena volta pela loja. Ela era muito mais confortável do que a da promoção. Sem contar que tinha amortecedor no garfo, o quadro era do tamanho indicado, trocadores bem melhores, etc. No final das contas acabei gastando mais do que o dobro do que pretendia inicialmente. Sem contar os apetrechos como capacete, luzes de iluminação e corrente com cadeado. Mesmo assim acho que fiz um belo investimento.
O detalhe é que São Paulo não é uma das cidades mais convidativas para dar uma volta de bike ou até utilizá-la como meio de transporte corrente, para não comentar as bicicletas brancas penduradas em postes de grandes vias com função de protesto ou lembrança. Justamente por isso a necessidade de andar quase que com uma armadura da idade-média. Mesmo assim tenho certeza que será muito divertido andar pela Chácara Santo Antonio nos finais de semana, quando os carros não marcam intensa presença.
Hoje mesmo (comprei a Caloi Supra ontem) já utilizei minha nova aquisição para ir ao KfW. A ida, uma beleza. Já a volta, aquele sofrimento, praticamente dois quilômetros de subida. Até parece a São Silvestre, quando tudo fica mais difícil no final. O problema é que, desconfio, não percorrerei este trecho somente no último dia do ano!
terça-feira, 7 de setembro de 2010
A independência
Hoje comemoramos o dia de nossa independência. Não somos mais colônia de Portugal há muito tempo. Muito bom. Mas e agora, quando vamos celebrar o dia da nossa independência dos políticos corruptos e salafrários? Daí sim, poderemos ir às ruas, bandeira à mão, e bradar: "Hoje somos independentes!"
O paraíso na outra esquina
Já tinha o Mario Vargas Llosa em alta conta e, agora que li O paraíso em outra esquina, passo a apreciar ainda mais o escritor peruano e sua obra. Não é para menos, este livro, que narra a vida errante do pintor Paul Gauguin e sua avó, a ativista e feminista Flora Tristan, é excepcional. Uma das coisas que mais me impressionou no romance é o detalhe dos acontecimentos que marcaram a vida da avó e do neto, como se o escritor tivesse vivido ao lado das duas figuras.
De forma intercalada, o livro vai narrando a vida de cada um, tendo como ponto de partida da avó sua viagem que realizou no final de sua vida com o intuito de consientizar os abusos sofridos pela classe operária e a submissão das mulheres. Flora classificava o casamento como um regime de escravidão, onde as mulheres se tornavam meras submissas, sem nenhum poder de voto ou participação real no casamento. Sua sofrida viagem por várias cidades francesas demonstram as barreiras enfrentadas pela idealizadora como a igreja, burguesia e, algumas vezes, até mesmo pela própria classe que ela tentava salvar.
Já no plano do pintor, a narrativa começa quando o mesmo decide morar na Polinésia Francesa em busca de paz e distanciamento da cultura europeia, que ele considerava uma péssima intervenção na produção de qualquer artista. Na cabeça de Gauguin, era no contato com o selvagem e com a natureza em sua forma primoridial que permitiria seus fluidos artísticos inundarem seu corpo. O desenrolar da história de Paul é marcado por deslocamentos cada vez mais longínquos e, entre eles, algumas breves visitas à França. Porém, como desejado pelo artista, o fim de sua história se dá em uma ilha na Polinésia, onde passou por maus bocados antes de falecer.
Apesar de na maioria das vezes a narração se desenvolver intercaladamente e de maneira temporal, alguns flash-backs são misturados abruptamente no texto. Vargas Llosa descreve o traumático casamento que Flora teve antes de abandonar o marido para ir visitar parentes da aristocracia de Lima, no Peru. Tal casamento e, posteriormente, o contato com seus familiares na América do Sul, fizeram com que o sentimento de desigualdade se aflorasse em Flora e fizesse com que ela lutasse por seus ideias. No passado do pintor descobrimos sua péssima relação com a mulher e seus cinco filhos; sua antiga profissão, um abilidoso funcionário do mercado financeiro francês; e o motivo que fez com que ele desse uma radical guinada em sua vida: a pintura.
Apesar de dar a ideia que no decorrer do livro a vida da avó e do neto se intercalariam, pouco se fala de um nas páginas do outro; os dois tiveram muito pouco contato entre si, se é que tiveram. É interessante também observar como a vida levada por Gauguin ia exatamente de encontro ao que a avó pregava: em todo ponto onde o pintor parava, procurava logo no começo uma mulher fácil para ser sua companheira e lhe prover prazer, mesmo que isso implicasse em uma relação submissa ou humilhante para a fêmea.
O encontro que Gauguin teve com Van Gogh, no livro chamado de O Holandês Louco, é outro ponto alto da narrativa. Após muito insistência do pintor holandês, Paul decide ir passar uma temporada na cidade vizinha de Paris onde Van Gogh mantinha seu ateliê. Porém, pouco tempo após o convívio dos dois, a relação se deteriora completamente e Paul decide abandonar o amigo, que fica deprimido com a reação. Foi exatamente nesta época que o Holandês Louco, cheio de aflito e amargura insolúveis, resolve cortar sua própria orelha.
A primeira vez que me deparei com a existência de Gauguin foi ao visitar uma galeria em Londres, onde um quadro seu estava pendurado. O obra de arte retratava uma onça escondida entre arbustos, imagem destoante de suas vizinhas que me chamou a atenção. A legenda dizia que o pintor decidira se refugiar em locais ermos onde seu dia a dia selvagem dava inspiração para suas obras. Como gostaria de poder voltar nesta galeria e observar sua obra, agora que sei muito mais sobre sua incrível história.
De forma intercalada, o livro vai narrando a vida de cada um, tendo como ponto de partida da avó sua viagem que realizou no final de sua vida com o intuito de consientizar os abusos sofridos pela classe operária e a submissão das mulheres. Flora classificava o casamento como um regime de escravidão, onde as mulheres se tornavam meras submissas, sem nenhum poder de voto ou participação real no casamento. Sua sofrida viagem por várias cidades francesas demonstram as barreiras enfrentadas pela idealizadora como a igreja, burguesia e, algumas vezes, até mesmo pela própria classe que ela tentava salvar.
Já no plano do pintor, a narrativa começa quando o mesmo decide morar na Polinésia Francesa em busca de paz e distanciamento da cultura europeia, que ele considerava uma péssima intervenção na produção de qualquer artista. Na cabeça de Gauguin, era no contato com o selvagem e com a natureza em sua forma primoridial que permitiria seus fluidos artísticos inundarem seu corpo. O desenrolar da história de Paul é marcado por deslocamentos cada vez mais longínquos e, entre eles, algumas breves visitas à França. Porém, como desejado pelo artista, o fim de sua história se dá em uma ilha na Polinésia, onde passou por maus bocados antes de falecer.
Apesar de na maioria das vezes a narração se desenvolver intercaladamente e de maneira temporal, alguns flash-backs são misturados abruptamente no texto. Vargas Llosa descreve o traumático casamento que Flora teve antes de abandonar o marido para ir visitar parentes da aristocracia de Lima, no Peru. Tal casamento e, posteriormente, o contato com seus familiares na América do Sul, fizeram com que o sentimento de desigualdade se aflorasse em Flora e fizesse com que ela lutasse por seus ideias. No passado do pintor descobrimos sua péssima relação com a mulher e seus cinco filhos; sua antiga profissão, um abilidoso funcionário do mercado financeiro francês; e o motivo que fez com que ele desse uma radical guinada em sua vida: a pintura.
Apesar de dar a ideia que no decorrer do livro a vida da avó e do neto se intercalariam, pouco se fala de um nas páginas do outro; os dois tiveram muito pouco contato entre si, se é que tiveram. É interessante também observar como a vida levada por Gauguin ia exatamente de encontro ao que a avó pregava: em todo ponto onde o pintor parava, procurava logo no começo uma mulher fácil para ser sua companheira e lhe prover prazer, mesmo que isso implicasse em uma relação submissa ou humilhante para a fêmea.
O encontro que Gauguin teve com Van Gogh, no livro chamado de O Holandês Louco, é outro ponto alto da narrativa. Após muito insistência do pintor holandês, Paul decide ir passar uma temporada na cidade vizinha de Paris onde Van Gogh mantinha seu ateliê. Porém, pouco tempo após o convívio dos dois, a relação se deteriora completamente e Paul decide abandonar o amigo, que fica deprimido com a reação. Foi exatamente nesta época que o Holandês Louco, cheio de aflito e amargura insolúveis, resolve cortar sua própria orelha.
A primeira vez que me deparei com a existência de Gauguin foi ao visitar uma galeria em Londres, onde um quadro seu estava pendurado. O obra de arte retratava uma onça escondida entre arbustos, imagem destoante de suas vizinhas que me chamou a atenção. A legenda dizia que o pintor decidira se refugiar em locais ermos onde seu dia a dia selvagem dava inspiração para suas obras. Como gostaria de poder voltar nesta galeria e observar sua obra, agora que sei muito mais sobre sua incrível história.
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segunda-feira, 16 de agosto de 2010
O homem que queria salvar o mundo
Existem livros bons e ruins. Dentre os bons, existem aqueles ainda que são capazes de abrir a cabeça e apresentar um novo mundo, pessoa, história ou movimento para o leitor. O último livro que li, O homem que queria salvar o mundo, da jornalista Samantha Power, pertence a essa categoria. Nele Samantha conta toda a história de Sergio Vieira de Mello, célebre diplomatada brasileiro da ONU, famoso por ter mediado vários conflitos internacionais como Timor Leste, Ruanda, Bósnia e Iraque, onde faleceu em 2003 após atentado contra a embaixada da ONU.
Vieira de Mello tinha todas as qualidades de um bom diplomata: bom de conversa, culto, pragmático e dinâmico. Gostava de atuar diretamente nos campos de ações, na maioria das vezes conflitos em países estáveis ou campos de refugiados. Tinha horror à vida de burocrata que fica a maioria do tempo dentro de um escritório lendo e escrevendo cartas ou e-mails. Outro fato que o ajudou a se formar ótimo profissional da ONU foi a vivência de sua infância e juventude em diversos países, por causa de seu pai que era funcionário do Itamaraty. Tendo morado na Itália, Beirute e Suíça, Sergio aprendeu a falar com perfeição vários idiomas.
Sua carreira na Organização das Nações Unidas começou muito cedo, quando o brasileiro estava recém-formado. Nos primeiros anos, Sergio se dedicou no braço desta organização responsável pela repatriação de milhares de refugiados que, por diferentes motivos, tiveram que abandonar seus países. Foi o caso de sua missão em Ruanda, onde incontáveis ruandeses se refugiaram no Zaire - que se tornaria posteriormente a República Democrática do Congo - e Uganda.
Tanto esta quanto as futuras missões de Sergio foram marcadas por extrema dificuldade, falta de recursos e complexas relações políticas entre povos e nações. Ainda no caso de Ruanda, o retorno dos ruandeses foram dificultados pelas várias minas terrestres alastradas pelo páis. Para que a repatriação de fato ocorrese, Vieira de Mello precisou conversar com o Kmehr Vermelho, grupo militar e rebelde responsável pela expulsão dos ruandeses de etnia diferente. Esta se tornaria uma das mais marcantes caracteristicas do diplomata: o pragmatismo (ante à burocracia da organização em que trabalhava) e a habilidade de dialogar com todos os lados e não fazer inimigos.
Porém, esta mesma habilidade de sempre prezar o diálogo e manter o caráter independente da ONU na época o fez cometer alguns erros. Um deles foi a falta de reação e conivência com a brutalidade que a Sérvia pressionava e destruia a Bósnia, outro conflito que teve Sergio mediador. Sergio sempre acreditava nas mudanças prometidas pelo governo sérvio, enquanto milhares de bósnios foram cruelmente assassinados e tiveram suas casas destruídas. A ONU só tomaria uma drástica providência no caso do Kosovo, quando a mesma Sérvia, por não cumprir as exigências da ONU de cessar fogo contra os kosovares, foi bombardeada pelas tropas da OTAN. Foi a primeira vez em que a ONU se utilizou da violência para a resolução de um conflito, neste caso pelo aparelhamento das forças militares da OTAN. Foi esta ocasição também que marcou a estréia do exército da OTAN.
Esta missão de paz marcou a história da ONU. Foi quando a organização deixou sua característica imparcial de lado e, forçada pela ocasião deplorável, tomou partido com o intuito de estabilizar a região dos Balcãs. E funcionou. Funcionou também na separação do Timor Leste, que, quando ainda parte da Indonésia, estava sendo atacada por insurgentes militares contra a separação. Neste caso, não havia melhor desiginação que Sergio Vieira de Mello para a missão, devido à sua já acumulada experiência em missões críticas e pelo fato de ser brasileiro, visto que no Timor Leste, antiga colônia de Portugal, também se falava português.
A separação e processo de independência do Timor Leste foi um caso de sucesso. O país estava à beira de ser exterminado pelos indonésios muçulmanos, maioria no país. Após muito luta e intervenção da ONU, a parte oriental da ilha se tornou independente e realizou sua primeira eleição livre. Os novos dirigentes do Timor Leste, eleitos democraticamente, eram os antigos militantes da vertente que apoiavam a independência do Timor Leste. Suas amizades com Vieira de Mello durou muito tempo mais após a partida do brasileiro, que era visto como ídolo pelos timorenses.
Quando a guerra do Iraque eclodiu, Sergio estava em uma nova fase de sua vida. Estava, pela primeira vez, dedicando parte de seu tempo com a vida privada. Estava fazendo planos particulares com sua recém-namorada, uma Argentina que também trabalhava na ONU. Sergio estava cansado de morar sempre em um lugar diferente, muitas vezes com nenhum luxo ou até mesmo em grande perigo. Ele foi, desde o começo, totalmente contra a guerra do Iraque. Porém, quando a ONU decidiu que iria manter uma tropa de paz neste país, Vieira de Mello era o candidato imbatível. Apesar de não estar animado de, mais uma vez, abandonar seus planos priavados e embarcar em uma missão do outro lado do mundo, Sergio era vaidoso. E, provavelmente, foi sua vaidade que o fez mudar de ideia. Em suas palavras, ele não podia negar um favor para o secretário-geral da ONU, na época Koffi Annan.
O diplomata brasileiro acabou embarcando na missão do Iraque. Sua tarefa no país árabe rico em petróleo, foi, de um lado, dialogar com o responsável pela força militar americana no país e, de outro, conversar e barganhar com a ONU com o intuito de direcionar a população do Iraque para um futuro promissor. O Iraque foi invadido e desestabilizado em pouco tempo. Os EUA achavam que já estava com a missão completa, poucos meses seriam necessário para colocar o Iraque de volta em funcionamento. Porém, como se mostrou, os maiores problemas começaram logo após a derrubado do ditador Saddam Husein. Insurgentes começaram a promover atentados contra a ocupação americana. Poucas pessoas estavam felizes com a novo país sitiado.
Sergio e seus colegas da missão do Iraque sabiam que a situação estava perigosíssima. Além da ocupação americana, a ONU começara a ser vista como uma presença indesejável. Rumores de atentados contra a organização começaram a se tornar mais comuns cada dia que passava. Até que o temido aconteceu: um caminhão carregado de bombas e explosivos rumou contra a sede da ONU no país e causou uma grande explosão. Muitas pessoas pagaram com suas vidas neste atentado, inclusive Sergio Vieira de Mello. O caminhão colidiu muito perto de ser escritório e o brasileiro, que não morreu instantaneamente, ficou soterrado e acabou não resistindo.
Após o trágico atentado que tirou a vida de um dos melhores diplomatas do Brasil, muito se foi discutido se a ONU deveria ou não permanecer no Iraque. Muitos colocaram a culpa na negligência da alta cúpula da organização, inclusive em Koffi Annan, que permitiu que seus trabalhadores ficassem em um local sem grande proteção. Os possíveis motivos do ataque foram exaustivamente investigados. O mais provável é que a ONU, principalmente Segio Vieira de Mello, devido à sua atuação no Timor Leste, era mal vista pelos iraquianos. A bandeira da ONU acabou se deixando confundir com a dos Estados Unidos. O fato é que o homem que queria salvar o mundo acabou morrendo tentando solucionar uma guerra que ele não havia começado. E pior, que era estritamente contra.
Vieira de Mello tinha todas as qualidades de um bom diplomata: bom de conversa, culto, pragmático e dinâmico. Gostava de atuar diretamente nos campos de ações, na maioria das vezes conflitos em países estáveis ou campos de refugiados. Tinha horror à vida de burocrata que fica a maioria do tempo dentro de um escritório lendo e escrevendo cartas ou e-mails. Outro fato que o ajudou a se formar ótimo profissional da ONU foi a vivência de sua infância e juventude em diversos países, por causa de seu pai que era funcionário do Itamaraty. Tendo morado na Itália, Beirute e Suíça, Sergio aprendeu a falar com perfeição vários idiomas.
Sua carreira na Organização das Nações Unidas começou muito cedo, quando o brasileiro estava recém-formado. Nos primeiros anos, Sergio se dedicou no braço desta organização responsável pela repatriação de milhares de refugiados que, por diferentes motivos, tiveram que abandonar seus países. Foi o caso de sua missão em Ruanda, onde incontáveis ruandeses se refugiaram no Zaire - que se tornaria posteriormente a República Democrática do Congo - e Uganda.
Tanto esta quanto as futuras missões de Sergio foram marcadas por extrema dificuldade, falta de recursos e complexas relações políticas entre povos e nações. Ainda no caso de Ruanda, o retorno dos ruandeses foram dificultados pelas várias minas terrestres alastradas pelo páis. Para que a repatriação de fato ocorrese, Vieira de Mello precisou conversar com o Kmehr Vermelho, grupo militar e rebelde responsável pela expulsão dos ruandeses de etnia diferente. Esta se tornaria uma das mais marcantes caracteristicas do diplomata: o pragmatismo (ante à burocracia da organização em que trabalhava) e a habilidade de dialogar com todos os lados e não fazer inimigos.
Porém, esta mesma habilidade de sempre prezar o diálogo e manter o caráter independente da ONU na época o fez cometer alguns erros. Um deles foi a falta de reação e conivência com a brutalidade que a Sérvia pressionava e destruia a Bósnia, outro conflito que teve Sergio mediador. Sergio sempre acreditava nas mudanças prometidas pelo governo sérvio, enquanto milhares de bósnios foram cruelmente assassinados e tiveram suas casas destruídas. A ONU só tomaria uma drástica providência no caso do Kosovo, quando a mesma Sérvia, por não cumprir as exigências da ONU de cessar fogo contra os kosovares, foi bombardeada pelas tropas da OTAN. Foi a primeira vez em que a ONU se utilizou da violência para a resolução de um conflito, neste caso pelo aparelhamento das forças militares da OTAN. Foi esta ocasição também que marcou a estréia do exército da OTAN.
Esta missão de paz marcou a história da ONU. Foi quando a organização deixou sua característica imparcial de lado e, forçada pela ocasião deplorável, tomou partido com o intuito de estabilizar a região dos Balcãs. E funcionou. Funcionou também na separação do Timor Leste, que, quando ainda parte da Indonésia, estava sendo atacada por insurgentes militares contra a separação. Neste caso, não havia melhor desiginação que Sergio Vieira de Mello para a missão, devido à sua já acumulada experiência em missões críticas e pelo fato de ser brasileiro, visto que no Timor Leste, antiga colônia de Portugal, também se falava português.
A separação e processo de independência do Timor Leste foi um caso de sucesso. O país estava à beira de ser exterminado pelos indonésios muçulmanos, maioria no país. Após muito luta e intervenção da ONU, a parte oriental da ilha se tornou independente e realizou sua primeira eleição livre. Os novos dirigentes do Timor Leste, eleitos democraticamente, eram os antigos militantes da vertente que apoiavam a independência do Timor Leste. Suas amizades com Vieira de Mello durou muito tempo mais após a partida do brasileiro, que era visto como ídolo pelos timorenses.
Quando a guerra do Iraque eclodiu, Sergio estava em uma nova fase de sua vida. Estava, pela primeira vez, dedicando parte de seu tempo com a vida privada. Estava fazendo planos particulares com sua recém-namorada, uma Argentina que também trabalhava na ONU. Sergio estava cansado de morar sempre em um lugar diferente, muitas vezes com nenhum luxo ou até mesmo em grande perigo. Ele foi, desde o começo, totalmente contra a guerra do Iraque. Porém, quando a ONU decidiu que iria manter uma tropa de paz neste país, Vieira de Mello era o candidato imbatível. Apesar de não estar animado de, mais uma vez, abandonar seus planos priavados e embarcar em uma missão do outro lado do mundo, Sergio era vaidoso. E, provavelmente, foi sua vaidade que o fez mudar de ideia. Em suas palavras, ele não podia negar um favor para o secretário-geral da ONU, na época Koffi Annan.
O diplomata brasileiro acabou embarcando na missão do Iraque. Sua tarefa no país árabe rico em petróleo, foi, de um lado, dialogar com o responsável pela força militar americana no país e, de outro, conversar e barganhar com a ONU com o intuito de direcionar a população do Iraque para um futuro promissor. O Iraque foi invadido e desestabilizado em pouco tempo. Os EUA achavam que já estava com a missão completa, poucos meses seriam necessário para colocar o Iraque de volta em funcionamento. Porém, como se mostrou, os maiores problemas começaram logo após a derrubado do ditador Saddam Husein. Insurgentes começaram a promover atentados contra a ocupação americana. Poucas pessoas estavam felizes com a novo país sitiado.
Sergio e seus colegas da missão do Iraque sabiam que a situação estava perigosíssima. Além da ocupação americana, a ONU começara a ser vista como uma presença indesejável. Rumores de atentados contra a organização começaram a se tornar mais comuns cada dia que passava. Até que o temido aconteceu: um caminhão carregado de bombas e explosivos rumou contra a sede da ONU no país e causou uma grande explosão. Muitas pessoas pagaram com suas vidas neste atentado, inclusive Sergio Vieira de Mello. O caminhão colidiu muito perto de ser escritório e o brasileiro, que não morreu instantaneamente, ficou soterrado e acabou não resistindo.
Após o trágico atentado que tirou a vida de um dos melhores diplomatas do Brasil, muito se foi discutido se a ONU deveria ou não permanecer no Iraque. Muitos colocaram a culpa na negligência da alta cúpula da organização, inclusive em Koffi Annan, que permitiu que seus trabalhadores ficassem em um local sem grande proteção. Os possíveis motivos do ataque foram exaustivamente investigados. O mais provável é que a ONU, principalmente Segio Vieira de Mello, devido à sua atuação no Timor Leste, era mal vista pelos iraquianos. A bandeira da ONU acabou se deixando confundir com a dos Estados Unidos. O fato é que o homem que queria salvar o mundo acabou morrendo tentando solucionar uma guerra que ele não havia começado. E pior, que era estritamente contra.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Eu, que gostava tanto daquele carro
A Bê fez a última curva do caminho e entrou na rua de casa. Como o prédio não ficava muito longe da esquina, percebi imediatamente que algo estranho acontecera. Sim, meu carro havia sido roubado!
É engraçado como nossa mente funciona; mesmo quando constatamos que algo ruim aconteceu, procuramos saídas para não acreditar no ocorrido, e muitas vezes é como se essas tentativas de escapatória nos levassem a ruas sem saída. Comigo não foi diferente. Pensei inicialmente que pudesse ter ido de carro para o trabalho... Não. Talvez houvesse deixado o carro na garagem, no lugar do carro do Daniel... Negativo. e se o Daniel tivesse pegado meu carro emprestado, por qualquer motivo? Muito improvável.
Confirmado, meu carro havia sido roubado. E olha que eu gostava tanto daquele carro.
Não pude acreditar que alguém tivesse conseguido furtar o meu único bem. Dias atrás havia deixado o carro em uma loja para que fosse instalada a famosa trava MUL-T-LOCK. Imaginava que com ela meu carro estaria seguro, mesmo estacionado na rua por vários dias seguidos. E eu dormia tranquilo: chave especial, sistema de trava do câmbio firmemente fixado no assoalho do veículo, necessidade de cartão do usuário para copiar a chave, etc. Mas eu aprendi, para os bandidos nada é empecilho. Aprendi da maneira mais amarga e ordinária possível: o carro não possuía seguro. Game Over.
Eu tinha planos com aquele carro. A princípio, quando o ganhei dos meus pais no início da faculdade, pensava em usá-lo até receber o diploma e depois trocar por outro, mais novo. Porém, o semestres letivos foram passando, me tornei engenheiro e não queria me desgrudar mais do esboço - apelido carinhosamente escolhido pelos amigos de Campo Grande, pelo fato do Clio não ter nenhum opcional.
Ele estava com 69.000 kilômetros rodados e eu já tinha feito a nova previsão de ficar com ele até os cem mil, pelo menos. O carro estava novinho ainda. E tem outra, fui me apegando à medida que novas viagens e travessias eram feitas com ele.
O último percurso foi feito para um bar de samba da Vila Madalena, um dia antes do furto. Houve também viagens épicas de Sorocaba para Campo Grande quando as férias do final de ano irrompiam, viagens estas que fiz a maioria das vezes sozinho. Fomos também, com o carro lotado, para o Festival de Inverno de Bonito; para Minas Gerais na casa do Daniel; Avaré com o pessoal da faculdade... Boas lembranças.
Na sexta-feira depois do trabalho estava em um happy-hour para a despedida de um colega do trabalho. Como tinha combinado com a Bê de sairmos à noite, ela parou no bar em que eu estava e tomamos umas cervejas. Depois rumamos para casa encontrar o Daniel, que também iria com a gente. Nosso plano era subir pro apartamento e logo depois ir até outro bar. Porém, assim que a Bê fez a última curva para chegar na rua de casa...
É engraçado como nossa mente funciona; mesmo quando constatamos que algo ruim aconteceu, procuramos saídas para não acreditar no ocorrido, e muitas vezes é como se essas tentativas de escapatória nos levassem a ruas sem saída. Comigo não foi diferente. Pensei inicialmente que pudesse ter ido de carro para o trabalho... Não. Talvez houvesse deixado o carro na garagem, no lugar do carro do Daniel... Negativo. e se o Daniel tivesse pegado meu carro emprestado, por qualquer motivo? Muito improvável.
Confirmado, meu carro havia sido roubado. E olha que eu gostava tanto daquele carro.
Não pude acreditar que alguém tivesse conseguido furtar o meu único bem. Dias atrás havia deixado o carro em uma loja para que fosse instalada a famosa trava MUL-T-LOCK. Imaginava que com ela meu carro estaria seguro, mesmo estacionado na rua por vários dias seguidos. E eu dormia tranquilo: chave especial, sistema de trava do câmbio firmemente fixado no assoalho do veículo, necessidade de cartão do usuário para copiar a chave, etc. Mas eu aprendi, para os bandidos nada é empecilho. Aprendi da maneira mais amarga e ordinária possível: o carro não possuía seguro. Game Over.
Eu tinha planos com aquele carro. A princípio, quando o ganhei dos meus pais no início da faculdade, pensava em usá-lo até receber o diploma e depois trocar por outro, mais novo. Porém, o semestres letivos foram passando, me tornei engenheiro e não queria me desgrudar mais do esboço - apelido carinhosamente escolhido pelos amigos de Campo Grande, pelo fato do Clio não ter nenhum opcional.
Ele estava com 69.000 kilômetros rodados e eu já tinha feito a nova previsão de ficar com ele até os cem mil, pelo menos. O carro estava novinho ainda. E tem outra, fui me apegando à medida que novas viagens e travessias eram feitas com ele.
O último percurso foi feito para um bar de samba da Vila Madalena, um dia antes do furto. Houve também viagens épicas de Sorocaba para Campo Grande quando as férias do final de ano irrompiam, viagens estas que fiz a maioria das vezes sozinho. Fomos também, com o carro lotado, para o Festival de Inverno de Bonito; para Minas Gerais na casa do Daniel; Avaré com o pessoal da faculdade... Boas lembranças.
Na sexta-feira depois do trabalho estava em um happy-hour para a despedida de um colega do trabalho. Como tinha combinado com a Bê de sairmos à noite, ela parou no bar em que eu estava e tomamos umas cervejas. Depois rumamos para casa encontrar o Daniel, que também iria com a gente. Nosso plano era subir pro apartamento e logo depois ir até outro bar. Porém, assim que a Bê fez a última curva para chegar na rua de casa...
terça-feira, 20 de julho de 2010
Em Floripa: meu tio, o Diogo e expeculação imobiliária
Já fui a Florianópolis mil vezes e, diferente da maioria das pessoas, nunca me atraí muito por esta cidade. Acredito que em grande parte por ter passado algumas experiências sofriadas nas vezes em que estiva na alta temporada. O fato de não ser fã número um de praia também deve contar; 40 praias em uma única cidade não é um ponto positivo pra mim. Mas, como tenho bons amigos e um tio nesta cidade, costumo visitá-la frequentemente. E confesso, comecei a ver Floripa com outros olhos.
Os motivos da minha última ida à capital de Santa Cataria foram basicamente dois: aproveitar o finalzinho do meu Passaporte Azul para visitar meu amigo Diogo e meu tio Maurício e dar uma pesquisada em terrenos para venda no bairro do Rio Vermelho, para poder comparar com o preço que estavam ofertando para um terreno que meus pais haviam comprado há alguns anos.
E foi divertido, reservei um dos três dias que fiquei em Floripa, peguei o carro emprestado do meu tio e rumei pro norte da ilha. Visitei algumas imobiliárias e vi bastante terrenos, deu pra ter uma ideia boa. Na hora do almoço comi um peixe em um restaurante - recomendado por um dos guias - que estava sensacional!
Aproveitando que estava no Rio Vermelho, acabei indo dar uma olhada na antiga casa do meu tio. Na verdade a casa parece mesmo mais uma cabana, toda de madeira, simples e cercada por árvores e mata. Sempre adorei a toca do meu tio, muito tranquila e gostosa. Porém, ao chegar na antiga casa (agora ele está morando em um apartamento no centro da cidade, acho que já comentei sobre isso em outro post) a decepção foi muito grande. A casa, devido às chuvas de verão e abandono do meu tio, estava toda destruída e jogada às traças. Até pra chegar na frene da casa foi difícil, o mato estava tomando conta de tudo. Sem contar o antigo carro do meu tio, que, como a casa, também estava abandonado.
Não consigo entender tamanho desleixo e abandono, mas esse é meu tio. Diz ele que vai começar a voltar pro Rio Vermelho e reparar a casa, pago pra ver. O carro ele falou que vai colocar à venda, antes de derreter, eu espero. Ao visitar a casa, encontrei uma vizinha, amiga do meu tio, e fiquei conversando com ela, que se queixava que meu tio havia sumido e cortado o contato abruptamente. Deu-me um papel com seu telefone e quase implorou pra eu entregá-lo ao meu tio e pedir pra que ele ligasse pra ela. Foi engraçado, ao conversar com a mulher e escutá-la falar sobre meu tio, parecia que ia descobrindo pequenas coisas do passado de uma pessoa que conheço bem mas sempre descubro algo novo, sempre tem histórias que vão se revelando aos poucos, emergindo na superfície.
Falando nas histórias do meu tio, no primeiro dia, ao chegar em sua cidade, fomos para a padaria ao lado do seu apê e ficamos conversando e tomando chope. Não sei como o assunto chegou à tona, mas ele começou a contar uma bizarra história de uma prima dele e de minha mão que foi parar nos Estados Unidos. O motivo para tal peregrinação era bem obscuro, algo envolvendo bandidagem, extermínio da polícia e adoção.
Não me lembro muito bem dos detalhes, mas, mesmo se lembrasse, acho que não seria sensato e prudente expô-los aqui. O fato é que esta prima está hoje radicada no exterior e tem uma vida, a princípio, estavel e confortável. O segundo fato é que meu tio, há pouco, havia entrado em contato com ela após inúmeros anos, talvez décadas, de rompimento. Agora lembrei, foi por isso que chegamos nesse assunto.
Como comentei acima, aproveitei também e encontrei o Diogo e sua trupe, neste caso, seu irmão Tomaz e irmã Paula. Das últimas vezes que encontrei o Diogo, saímos todos juntos, eu, ele e seus irmãos; legal a união da família Santiago. Não me lembro muito bem mas acho que fomos em um bar que vende cerveja super barata perto da faculdade e outro dia em um restaurante e show de samba. É sempre muito legal e engraçado encontrar a peça rara do Diogo. E assim acabou a última viagem que fiz com o muito aproveitado Passaporte Azul.
Os motivos da minha última ida à capital de Santa Cataria foram basicamente dois: aproveitar o finalzinho do meu Passaporte Azul para visitar meu amigo Diogo e meu tio Maurício e dar uma pesquisada em terrenos para venda no bairro do Rio Vermelho, para poder comparar com o preço que estavam ofertando para um terreno que meus pais haviam comprado há alguns anos.
E foi divertido, reservei um dos três dias que fiquei em Floripa, peguei o carro emprestado do meu tio e rumei pro norte da ilha. Visitei algumas imobiliárias e vi bastante terrenos, deu pra ter uma ideia boa. Na hora do almoço comi um peixe em um restaurante - recomendado por um dos guias - que estava sensacional!
Aproveitando que estava no Rio Vermelho, acabei indo dar uma olhada na antiga casa do meu tio. Na verdade a casa parece mesmo mais uma cabana, toda de madeira, simples e cercada por árvores e mata. Sempre adorei a toca do meu tio, muito tranquila e gostosa. Porém, ao chegar na antiga casa (agora ele está morando em um apartamento no centro da cidade, acho que já comentei sobre isso em outro post) a decepção foi muito grande. A casa, devido às chuvas de verão e abandono do meu tio, estava toda destruída e jogada às traças. Até pra chegar na frene da casa foi difícil, o mato estava tomando conta de tudo. Sem contar o antigo carro do meu tio, que, como a casa, também estava abandonado.
Não consigo entender tamanho desleixo e abandono, mas esse é meu tio. Diz ele que vai começar a voltar pro Rio Vermelho e reparar a casa, pago pra ver. O carro ele falou que vai colocar à venda, antes de derreter, eu espero. Ao visitar a casa, encontrei uma vizinha, amiga do meu tio, e fiquei conversando com ela, que se queixava que meu tio havia sumido e cortado o contato abruptamente. Deu-me um papel com seu telefone e quase implorou pra eu entregá-lo ao meu tio e pedir pra que ele ligasse pra ela. Foi engraçado, ao conversar com a mulher e escutá-la falar sobre meu tio, parecia que ia descobrindo pequenas coisas do passado de uma pessoa que conheço bem mas sempre descubro algo novo, sempre tem histórias que vão se revelando aos poucos, emergindo na superfície.
Falando nas histórias do meu tio, no primeiro dia, ao chegar em sua cidade, fomos para a padaria ao lado do seu apê e ficamos conversando e tomando chope. Não sei como o assunto chegou à tona, mas ele começou a contar uma bizarra história de uma prima dele e de minha mão que foi parar nos Estados Unidos. O motivo para tal peregrinação era bem obscuro, algo envolvendo bandidagem, extermínio da polícia e adoção.
Não me lembro muito bem dos detalhes, mas, mesmo se lembrasse, acho que não seria sensato e prudente expô-los aqui. O fato é que esta prima está hoje radicada no exterior e tem uma vida, a princípio, estavel e confortável. O segundo fato é que meu tio, há pouco, havia entrado em contato com ela após inúmeros anos, talvez décadas, de rompimento. Agora lembrei, foi por isso que chegamos nesse assunto.
Como comentei acima, aproveitei também e encontrei o Diogo e sua trupe, neste caso, seu irmão Tomaz e irmã Paula. Das últimas vezes que encontrei o Diogo, saímos todos juntos, eu, ele e seus irmãos; legal a união da família Santiago. Não me lembro muito bem mas acho que fomos em um bar que vende cerveja super barata perto da faculdade e outro dia em um restaurante e show de samba. É sempre muito legal e engraçado encontrar a peça rara do Diogo. E assim acabou a última viagem que fiz com o muito aproveitado Passaporte Azul.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Dois irmãos no 5o Festival Latino Americano de São Paulo
Dias atrás aconteceu aqui em São Paulo o 5o Festival Latino Americano de São Paulo. Uma pena que fiquei sabendo do evento quando o mesmo já havia começado e, por isso, só consegui ver a apenas um filme: Dois irmãos, filme argentino do diretor Daniel Burman. O filme se passa tanto em Buenos Aires como uma pequena e pacata cidade balneário do Uruguai em um vai-e-vem constante. As idas e vindas são causadas pela dificuldade dos dois irmãos - um homem e uma mulher, ambos já adentrando na terceira idade - em se relacionar após a morte da mãe.
Enquanto a irmã é esperta, calculista e má, o irmão é apenas pacato e condescendente. E é este exatamente o problema da relação dos dois após o falecimento da matriarca. O irmão, por imposição da irmã - uma fajuta corretora de imóveis que tenta enriquer à custa de golpes aplicados em outros vendedores - acaba sendo convencido a se mudar para uma casinha no Uruguai que a irmã comprou há tempos e ainda nem terminou de pagar.
À primeira vista, a pequena cidade uruguaia será de extrema dificuldade para o irmão se adaptar, ainda mais sendo acostumado com a cosmopolita Buenos Aires. Porém, assim que os quadros do filme vão passando, nos surprendemos ao constatar que o irmão começa a se engajar em um grupo de teatro e passa a desfrutar da nova morada. Isso enfurece a maligna irmã, que, mavada que é, tenta prejudiar o irmão, falando pro diretor da peça de teatro que ele não é bom ator e, pro irmão, que o diretor não gostou de sua atuação. É revoltante presenciar tamanha maldade da irmã, que sempre está causando o caos à sua volta. Mais para o final do filme, mesmo que mal explicado e insuficiente, podemos compreender o motivo de tanta revolta e malícia da irmã.
O filme é sutil ao mostrar o envolvimento que o irmão começa a ter com o diretor do teatro. Ambos conversam sempre sobre viagens e andanças na Europa que já fizeram, onde frequentaram ambientes e meios sociais requintados e cultos, como bares e teatros. Fica claro, mas não escancarado, que os dois são homossexuais e passam a ter atração mútua. Cenas que comprovem tal fato, porém, ficam apenas na imaginação dos espectadores.
A possibilidade de uma nova relação amorosa, agora do lado da irmã, que conhece um potencial par idoso em uma festa, também é a força motivadora para que algumas transformações, para melhor, começam a ocorrer na personagem. O desfecho do filme ocorre quando a peça de teatro em que o irmão estava ensaiando é finalmente inaugurada, com uma ótima atuação de improvismo do ator. No final da peça, o ápice da atuação do irmão, a irmã chega ao teatro e presencia seu grandioso talento artístico. É um grande clichê, mas pelo menos um clichê bonito, que comove.
Quando os irmãos passam a se dar melhor, não é mais necessário as incontáveis travessias marinhas em que eles se submeteram após a morte da mãe. Logo depois do filme, ao folhear o catálogo do festival, vi que o Daniel Burman também dirigiu O Abraço Partido, outro filme muito bom que assisti há muito tempo no Cine Cultura em Campo Grande. Sem contar a trilha sonora de Dois Irmãos, maravilhosa e empolgante.
Enquanto a irmã é esperta, calculista e má, o irmão é apenas pacato e condescendente. E é este exatamente o problema da relação dos dois após o falecimento da matriarca. O irmão, por imposição da irmã - uma fajuta corretora de imóveis que tenta enriquer à custa de golpes aplicados em outros vendedores - acaba sendo convencido a se mudar para uma casinha no Uruguai que a irmã comprou há tempos e ainda nem terminou de pagar.
À primeira vista, a pequena cidade uruguaia será de extrema dificuldade para o irmão se adaptar, ainda mais sendo acostumado com a cosmopolita Buenos Aires. Porém, assim que os quadros do filme vão passando, nos surprendemos ao constatar que o irmão começa a se engajar em um grupo de teatro e passa a desfrutar da nova morada. Isso enfurece a maligna irmã, que, mavada que é, tenta prejudiar o irmão, falando pro diretor da peça de teatro que ele não é bom ator e, pro irmão, que o diretor não gostou de sua atuação. É revoltante presenciar tamanha maldade da irmã, que sempre está causando o caos à sua volta. Mais para o final do filme, mesmo que mal explicado e insuficiente, podemos compreender o motivo de tanta revolta e malícia da irmã.
O filme é sutil ao mostrar o envolvimento que o irmão começa a ter com o diretor do teatro. Ambos conversam sempre sobre viagens e andanças na Europa que já fizeram, onde frequentaram ambientes e meios sociais requintados e cultos, como bares e teatros. Fica claro, mas não escancarado, que os dois são homossexuais e passam a ter atração mútua. Cenas que comprovem tal fato, porém, ficam apenas na imaginação dos espectadores.
A possibilidade de uma nova relação amorosa, agora do lado da irmã, que conhece um potencial par idoso em uma festa, também é a força motivadora para que algumas transformações, para melhor, começam a ocorrer na personagem. O desfecho do filme ocorre quando a peça de teatro em que o irmão estava ensaiando é finalmente inaugurada, com uma ótima atuação de improvismo do ator. No final da peça, o ápice da atuação do irmão, a irmã chega ao teatro e presencia seu grandioso talento artístico. É um grande clichê, mas pelo menos um clichê bonito, que comove.
Quando os irmãos passam a se dar melhor, não é mais necessário as incontáveis travessias marinhas em que eles se submeteram após a morte da mãe. Logo depois do filme, ao folhear o catálogo do festival, vi que o Daniel Burman também dirigiu O Abraço Partido, outro filme muito bom que assisti há muito tempo no Cine Cultura em Campo Grande. Sem contar a trilha sonora de Dois Irmãos, maravilhosa e empolgante.
Recife, Olinda e Porto de Galinhas
Recife é a capital da cultura, pelo menos do Nordeste. Fiquei impressionado como esta cidade possui um movimento artístico e cultural tão efervescente. Não é para menos, o que podíamos imaginar do reduto de onde o mestre Chico Science, um dos idealizadores do movimento Mangue Beat, fez sua voz aparecer para todo o Brasil e o mundo? E não e só por causa da música que escrevo essas linhas. Recife é cheia de exposições, esculturas - muitas delas do Brennand, consagrado artista que cria sua arte com grande influência onírica - e atrações.
Como em todas outras viagens que realizem com meu Passaporte Azul, arrumei lugar para me hospedar, desta vez na casa do Mauro e Flaviane, primos da minhã mãe. Sem contar as gêmeas, filhas deles que ficaram super animadas com a minha estada por lá. O dia em que cheguei, tarde da noite, elas já estavam dormindo. Ao acordar, elas vieram correndo para o meu quarta me abraçar e dar as boas vindas para o "primo"! A Flávia (ruiva) é esperta e arteira; já a Letícia (morena), calma e mais amorosa. Minha permanência de 5 dias na capital de Pernambuco se resumiu basicamente em passear durante o dia todo pela quente cidade e à noite brincar com as gêmeas e conversar com o Mauro e Flaviane.
O lado ruim de Recife é a violência, todo mundo que eu conversava me advertia sobre os riscos de andar pela cidade. Não aconteceu nenhum imprevisto, talvez porque fiquei sempre com um olho aberto e outro fechado. Como em Manaus, andei bastante de transporte público em cada canto da cidade. Transporte público em Recife se resumiu basicamente aos ônibus circulares, os coletivos de Chico.
Conheci vários lugares interessantes. No primeiro dia visitei o Marco Zero, ponto localizado no centrinho de Recife onde acontece shows e comemorações. Bem em frente do Marco, após um canal artificial, fica uma pequena ilha com várias esculturas do Brennand. Para chegar do outro lado utilizei o serviço de atravessador que vai remando até lá. Estive também no Paço Alfândega, um pequeno centro comercial restaurado e muito chique e, ao lado, logo depois, no prédio da Livraria Cultura, onde comprei o há muito tempo tão almejado livro do Marcos Correia Brito - Galiléia.
Outros lugares legais que conheci foram o Mercado Municipal, Pátio São Bento e Casa da Cultura, um antigo presídio que foi transformado em mercado de artesanato e bugigangas. O interessante: cada antiga sela se transformou em uma lojinha! Sem falar que o prédio é muito bonito por fora e fica bem em frente ao rio.
Um dos dias reservei para ir para o Instituto Ricardo Brennand e Oficina Brennand, por serem bem afastados da cidade. Para chegar precisei tomar dois ônibus e no final, um taxi. Não teve jeito. O Instituto é um castelo muito bacana com várias obras de arte e um jardim muito bonito. Dá pra ver como a família Brennand foi (acho que ainda é, na verdade) influente em Recife. Já a Oficina Brennand é o antro de exposição das obras do Ricardo Brennand, escultor reconhecido mundialmente. Como já comentei, suas esculturas e obras são muito malucas, mistura de animais com monstros, passáros estranhos, mastes, e por aí vai. O lugar é imenso e tem quase um milhão de obras do Brennand.
Aproveitei a chance de estar em Recife com bastante tempo e fui também para Olinda, onde passei a metade de um dia. Fui abordado por um guia local com a qualidade de insistência infina e convencido a fazer um passeio guiado pelo centro da cidade. Valeu a pena, ela foi contando sobre os prédios e história da cidade durante uma hora, tempo necessário para dar uma volta completa nos pontos principais. A vista que se tem do mar e Recife a partir de uma igreja - e não faltam igrejas em Olinda! - é espetacular.
Em Porto de Galinhas meu passeio se resumiu em ficar embaixo de um guarda-sol tomando cerveja e lendo o livro que havia comprado na Cultura. Comi também um peixe e não entrei no mar, pra variar! O livro é realmente muito bom, assim como a criativa capa, que foi o que me chamou a atenção quando o vi pela primeira vez. De volta em Recife, fui à noite com o Mauro e as gêmeas comer tapioca em um supermercado. Ficamos conversando bastante, voltamos para o apartamento e dormi um pouco antes de ir pro aeroporto e pegar o avião na madrugada. Cheguei em Indaiatuba bem cedinho, descansei e acordei pouco antes do almoço para ajudar na arrumação do churrasco que ia fazer. Era meu aniversário, ia me divertir pra caramba ainda!
Como em todas outras viagens que realizem com meu Passaporte Azul, arrumei lugar para me hospedar, desta vez na casa do Mauro e Flaviane, primos da minhã mãe. Sem contar as gêmeas, filhas deles que ficaram super animadas com a minha estada por lá. O dia em que cheguei, tarde da noite, elas já estavam dormindo. Ao acordar, elas vieram correndo para o meu quarta me abraçar e dar as boas vindas para o "primo"! A Flávia (ruiva) é esperta e arteira; já a Letícia (morena), calma e mais amorosa. Minha permanência de 5 dias na capital de Pernambuco se resumiu basicamente em passear durante o dia todo pela quente cidade e à noite brincar com as gêmeas e conversar com o Mauro e Flaviane.
O lado ruim de Recife é a violência, todo mundo que eu conversava me advertia sobre os riscos de andar pela cidade. Não aconteceu nenhum imprevisto, talvez porque fiquei sempre com um olho aberto e outro fechado. Como em Manaus, andei bastante de transporte público em cada canto da cidade. Transporte público em Recife se resumiu basicamente aos ônibus circulares, os coletivos de Chico.
Conheci vários lugares interessantes. No primeiro dia visitei o Marco Zero, ponto localizado no centrinho de Recife onde acontece shows e comemorações. Bem em frente do Marco, após um canal artificial, fica uma pequena ilha com várias esculturas do Brennand. Para chegar do outro lado utilizei o serviço de atravessador que vai remando até lá. Estive também no Paço Alfândega, um pequeno centro comercial restaurado e muito chique e, ao lado, logo depois, no prédio da Livraria Cultura, onde comprei o há muito tempo tão almejado livro do Marcos Correia Brito - Galiléia.
Outros lugares legais que conheci foram o Mercado Municipal, Pátio São Bento e Casa da Cultura, um antigo presídio que foi transformado em mercado de artesanato e bugigangas. O interessante: cada antiga sela se transformou em uma lojinha! Sem falar que o prédio é muito bonito por fora e fica bem em frente ao rio.
Um dos dias reservei para ir para o Instituto Ricardo Brennand e Oficina Brennand, por serem bem afastados da cidade. Para chegar precisei tomar dois ônibus e no final, um taxi. Não teve jeito. O Instituto é um castelo muito bacana com várias obras de arte e um jardim muito bonito. Dá pra ver como a família Brennand foi (acho que ainda é, na verdade) influente em Recife. Já a Oficina Brennand é o antro de exposição das obras do Ricardo Brennand, escultor reconhecido mundialmente. Como já comentei, suas esculturas e obras são muito malucas, mistura de animais com monstros, passáros estranhos, mastes, e por aí vai. O lugar é imenso e tem quase um milhão de obras do Brennand.
Aproveitei a chance de estar em Recife com bastante tempo e fui também para Olinda, onde passei a metade de um dia. Fui abordado por um guia local com a qualidade de insistência infina e convencido a fazer um passeio guiado pelo centro da cidade. Valeu a pena, ela foi contando sobre os prédios e história da cidade durante uma hora, tempo necessário para dar uma volta completa nos pontos principais. A vista que se tem do mar e Recife a partir de uma igreja - e não faltam igrejas em Olinda! - é espetacular.
Em Porto de Galinhas meu passeio se resumiu em ficar embaixo de um guarda-sol tomando cerveja e lendo o livro que havia comprado na Cultura. Comi também um peixe e não entrei no mar, pra variar! O livro é realmente muito bom, assim como a criativa capa, que foi o que me chamou a atenção quando o vi pela primeira vez. De volta em Recife, fui à noite com o Mauro e as gêmeas comer tapioca em um supermercado. Ficamos conversando bastante, voltamos para o apartamento e dormi um pouco antes de ir pro aeroporto e pegar o avião na madrugada. Cheguei em Indaiatuba bem cedinho, descansei e acordei pouco antes do almoço para ajudar na arrumação do churrasco que ia fazer. Era meu aniversário, ia me divertir pra caramba ainda!
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Ansiedade
Sou ansioso, sempre soube disso. Ultimamente até comecei a tomar um medicamento para combater esta anomalia comportamental, mas parece que às vezes a genética fala mais alto. Afinal, sou filho do meu pai, sobrinho do meu tio e neto da minha avó materna, todos bastante ansiosos. E esses dias não deu, a ansiedade me corroeu por dentro por alguns minutos intermináveis. Uma ocasião besta, mas a ansiedade é assim, quando se manifesta, é difícil controlar.
O dia começou calmo. Estava no trabalho e às 10 da manhã, a convite do Fernando, colega de trabalho, participaria de uma reunião com um auditor que já conhecida, interessado em juntar esforços da instituição em que trabalha com a nossa para realizar um seminário sobre um assunto qualquer. O auditor é uma peça-rara, eu já havia me encontrado com ele uma única vez, o suficiente pra perceber seu estilo único de jesticular e falar. Talvez um pouco por não ser brasileiro, mas sim de um país da América Central. Como diriam os próprios falantes da língua espanhola, um tipo raro.
Eu gosto de reuniões de trabalho, elas quebram o clima do trabalho em frente ao computador e é sempre muito bom conversar com pessoas pra saber o que se passa em outras esferas profissionais. Geralmente elas duram uma hora e podem ser das mais variadas possíveis. Algumas são interessantes, outras já sabe-se desde o começo que não acontecerá nada de relevante, outras surpreendem. Existem pessoas mal-educadas em reuniões, pessoas simpáticas; alguns falam bastante, outros querem basicamente ouvir.
A reunião com o auditor, apesar de ter começado meia hora atrasada - problemas com o trânsito, ele justificou - trascorreu muito bem. O Fernando, porém, já havia me falado que não estava esperando nada de interessante. Dava mesmo pra perceber, enquando o auditor falava, um pouco animado, ele ficava desenhando quadrados e retângulos na beira de seu caderno de anotações. Não precisava disso, mostrar desinteresse de forma tão clara; forçou a barra, o Fernando.
No final das contas o Fernando teve que sair mais cedo por conta de outro compromisso e eu fiquei batendo um papo com o auditor, que ainda tinha algumas coisas a falar comigo. Quando eu achei que a reunião seria terminada, ele falou que iria ao banheiro e continuaríamos depois. Sem problemas, pensei. Mostrei à ele o caminho para o banheiro e fiquei aguardando na sala. Estava bem, a ansiedade nem demonstrava o mínimo sinal. Ele voltou, conversamos mais alguns minutos e deu a hora de ir embora, o horário de almoço estava se aproximando e meu estômago roncando. Porém, na hora de ir embora percebi que ele não queria realmente ir embora. Queria conhecer os outros escritórios do mesmo andar, todos vinculados de alguma maneira com a Alemanha: câmara de comércio, instituições de pesquisa, escritórios de turismo, banco (onde trabalho), etc.
Disse a ele que não conhecia muito bem o andar em que trabalho e acabei mostrando pra ele a sala de uma instituição de pesquisa e ciência, ao lado do escritório onde trabalho. Somente uma mulher estava trabalhando. Apresentei-os e começamos os três a conversar. Ele queria saber o que exatamente eles faziam, ela começou a explicar. Pelo sotaque, era alemã, como muitos do 3o andar. Já no início da conversa, a ansiedade começou a me atrapalhar, ficava mudando o pé de apoio toda hora, estávamos os três conversando em pé. E ele não parava de fazer perguntas; ela dava corda. De poucos em poucos minutos eu tirava o celular do bolso pra checar que horas eram, mas não estava interessado no horário em si, era automático. Quando a conversa chegava ao fim, o auditor arrumava outro assunto e o diálogo ganhava força de novo. Uma hora quase fomos embora, já estávamos nos despedindo, quando ele perguntou de onde ela era. Ao falar que era alemã, ele puxou papo em alemão, eu nao podia acreditar! O auditor havia morado muitos anos na Alemanha, começaram a falar da diferença de se morar no Brasil e na Alemanha, o clima, as pessoas, infra-estrutura, todas as diferenças que quem já passou pelo menos um dia em cada país está careca de saber. No verão era muito bom, eu sempre fazia churrasco com meus amigos, dizia o auditor. Enquanto isso a alemã falava do tempo gasto em São Paulo para se deslocar da casa ao trabalho. As pessoas, porém, eram mais amigáveis no Brasil. De vez em quando eu concordava com a cabeça e falava alguma coisa, não queria passar por chato e ficar como uma estátua no meio dos dois. Na verdade eu só queria sair de lá bem rápido, os dois já haviam conversado bastante. O papo vai acabando, mas o auditor recomeça: uma vez decidi viajar de carro com um amigo para o mar, fomos de última hora, logo depois voltamos. Percebi que até a alemã já estava ficando um pouco sem graça. Tinha notado também que o auditor queria algo mais e logo confirmei minha teoria: ele, antes de começar a trabalhar como auditor, se dedicou à ciência em algumas instituições na Alemanha. Havia entrado pro mundo das auditorias por acaso, o que gostava mesmo era de pesquisar. Nós não estávamos naquela sala por acaso. Não era à toa que ele encompridava o papo com a garota do escritório de pesquisa. Quando realmente não havia mais o que encompridar, finalmente nos despedimos.
Como sempre quando uma reunião acaba, levei o convidado até a porta de saída. As palavras de despedida são sempre as mesmas: obrigado por ter vindo, a gente vai mantendo contato, bom final de semana ou uma boa semana ainda, etc. Quando voltei para o escritório, estavam quase todos de saída para o almoço. Incrivelmente, em poucos segundos, minha ansiedade havia se dissipado, não havia nenhum traço sequer do anterior sentimento atordoante. Era hora do almoço, estava feliz, estava tranquilo.
O dia começou calmo. Estava no trabalho e às 10 da manhã, a convite do Fernando, colega de trabalho, participaria de uma reunião com um auditor que já conhecida, interessado em juntar esforços da instituição em que trabalha com a nossa para realizar um seminário sobre um assunto qualquer. O auditor é uma peça-rara, eu já havia me encontrado com ele uma única vez, o suficiente pra perceber seu estilo único de jesticular e falar. Talvez um pouco por não ser brasileiro, mas sim de um país da América Central. Como diriam os próprios falantes da língua espanhola, um tipo raro.
Eu gosto de reuniões de trabalho, elas quebram o clima do trabalho em frente ao computador e é sempre muito bom conversar com pessoas pra saber o que se passa em outras esferas profissionais. Geralmente elas duram uma hora e podem ser das mais variadas possíveis. Algumas são interessantes, outras já sabe-se desde o começo que não acontecerá nada de relevante, outras surpreendem. Existem pessoas mal-educadas em reuniões, pessoas simpáticas; alguns falam bastante, outros querem basicamente ouvir.
A reunião com o auditor, apesar de ter começado meia hora atrasada - problemas com o trânsito, ele justificou - trascorreu muito bem. O Fernando, porém, já havia me falado que não estava esperando nada de interessante. Dava mesmo pra perceber, enquando o auditor falava, um pouco animado, ele ficava desenhando quadrados e retângulos na beira de seu caderno de anotações. Não precisava disso, mostrar desinteresse de forma tão clara; forçou a barra, o Fernando.
No final das contas o Fernando teve que sair mais cedo por conta de outro compromisso e eu fiquei batendo um papo com o auditor, que ainda tinha algumas coisas a falar comigo. Quando eu achei que a reunião seria terminada, ele falou que iria ao banheiro e continuaríamos depois. Sem problemas, pensei. Mostrei à ele o caminho para o banheiro e fiquei aguardando na sala. Estava bem, a ansiedade nem demonstrava o mínimo sinal. Ele voltou, conversamos mais alguns minutos e deu a hora de ir embora, o horário de almoço estava se aproximando e meu estômago roncando. Porém, na hora de ir embora percebi que ele não queria realmente ir embora. Queria conhecer os outros escritórios do mesmo andar, todos vinculados de alguma maneira com a Alemanha: câmara de comércio, instituições de pesquisa, escritórios de turismo, banco (onde trabalho), etc.
Disse a ele que não conhecia muito bem o andar em que trabalho e acabei mostrando pra ele a sala de uma instituição de pesquisa e ciência, ao lado do escritório onde trabalho. Somente uma mulher estava trabalhando. Apresentei-os e começamos os três a conversar. Ele queria saber o que exatamente eles faziam, ela começou a explicar. Pelo sotaque, era alemã, como muitos do 3o andar. Já no início da conversa, a ansiedade começou a me atrapalhar, ficava mudando o pé de apoio toda hora, estávamos os três conversando em pé. E ele não parava de fazer perguntas; ela dava corda. De poucos em poucos minutos eu tirava o celular do bolso pra checar que horas eram, mas não estava interessado no horário em si, era automático. Quando a conversa chegava ao fim, o auditor arrumava outro assunto e o diálogo ganhava força de novo. Uma hora quase fomos embora, já estávamos nos despedindo, quando ele perguntou de onde ela era. Ao falar que era alemã, ele puxou papo em alemão, eu nao podia acreditar! O auditor havia morado muitos anos na Alemanha, começaram a falar da diferença de se morar no Brasil e na Alemanha, o clima, as pessoas, infra-estrutura, todas as diferenças que quem já passou pelo menos um dia em cada país está careca de saber. No verão era muito bom, eu sempre fazia churrasco com meus amigos, dizia o auditor. Enquanto isso a alemã falava do tempo gasto em São Paulo para se deslocar da casa ao trabalho. As pessoas, porém, eram mais amigáveis no Brasil. De vez em quando eu concordava com a cabeça e falava alguma coisa, não queria passar por chato e ficar como uma estátua no meio dos dois. Na verdade eu só queria sair de lá bem rápido, os dois já haviam conversado bastante. O papo vai acabando, mas o auditor recomeça: uma vez decidi viajar de carro com um amigo para o mar, fomos de última hora, logo depois voltamos. Percebi que até a alemã já estava ficando um pouco sem graça. Tinha notado também que o auditor queria algo mais e logo confirmei minha teoria: ele, antes de começar a trabalhar como auditor, se dedicou à ciência em algumas instituições na Alemanha. Havia entrado pro mundo das auditorias por acaso, o que gostava mesmo era de pesquisar. Nós não estávamos naquela sala por acaso. Não era à toa que ele encompridava o papo com a garota do escritório de pesquisa. Quando realmente não havia mais o que encompridar, finalmente nos despedimos.
Como sempre quando uma reunião acaba, levei o convidado até a porta de saída. As palavras de despedida são sempre as mesmas: obrigado por ter vindo, a gente vai mantendo contato, bom final de semana ou uma boa semana ainda, etc. Quando voltei para o escritório, estavam quase todos de saída para o almoço. Incrivelmente, em poucos segundos, minha ansiedade havia se dissipado, não havia nenhum traço sequer do anterior sentimento atordoante. Era hora do almoço, estava feliz, estava tranquilo.
terça-feira, 6 de julho de 2010
PNRS
Há mais de 20 anos sendo tramitada no congresso brasileiro, a lei que tenta instaurar a Política Nacional de Resíduos Sólidos finalmente obteve um avanço significativo. Há poucos dias ela começou a ser analisada no Senado e, caso venha a ser aprovada, aumentaria muito sua chance se realmente ser instituída, com o intuito de organizar a questão da gestão dos resíduos sólidos no Brasil.
Apesar de muita discussão e divergência entre especialistas, políticos e empresários, existe um consenso: os benefícios para a sociedade com a aprovação da lei que regulamenta o gerenciamento dos resíduos sólidos no Brasil seriam imensos. Primeiramente, a PNRS permitiria que todos estados e municípios se enquadrassem em um esquema único, o federal, acabando assim com disparidades e anomalias legislativas entre diferentes regiões brasileiras. Outra grande consequência postiva seria o incentivo à reciclagem e, consequentemente, a redução do desperdício de matérias-prima recicláveis ou energia.
O texto tem como preceitos básicos a criação de condições necessárias para a instituição da prática de logística reversa para os fabricantes, importadores e distribuidores responsáveis pela geração de resíduos. Isto é, obrigatoriedade ou incentivo para que os resíduos produzidos ou comercializados sejam coletados e reprocessados. Esta prática, comum em países desenvolvidos, permite um duplo ganho: desafogamento dos já esgotados aterros sanitários brasileiros e receitas com a reciclagem. Embalagens de agrotóxicos e óleos lubrificantes, pilhas e baterias, pneus, lâmpadas fluorescentes e produtos eletrônicos, assim como seus componentes, são os ítens que merecem destaque no desenvolvimento da engenharia reversa, de acordo com a nova lei em tramitação.
Muitos especialistas do setor estão comparando esta prática com o sistema de Imposto de Renda brasileiro, onde empresas seriam cadastradas e, anualmente, deveriam prestar contas a um orgão responsável pela fiscalização.
Caso implementada, a PNRS também ajudaria muito a consituir e normalizar a classe dos catadores de lixo, agentes da sociedade pouco valorizados em sua função importante na dinâmica do lixo. Seus salários são ainda baixíssimos, sem contar que muitas vezes não existe uma entidade de classe que os represente e revindique seus direitos. Além da componente ambiental, o lado social também seria trabalhado e estimulado com a nova lei.
Mesmo muito atrasada - se comparada com outros países que há anos possuem eficazes sistemas de gestão dos resíduos sólidos - a PNRS se faz cada dia mais necessária e urgente, visto a voraz sociedade de consumo existente atualmente. De 2008 a 2009, a geração de resíduos sólidos urbanos per capita no Brasil aumentou expressivamente em 6,6%. Para piorar, São Paulo, a cidade campeã geradora de lixo no Brasil, recicla apenas 1% de seu potencial.
As consequências da ingerência na gestão dos resíduos são facilmente perceptíveis: corpos d'água altamente poluídos e estrofizados, aumento de doenças e contaminações sofriadas pela população, custo cresente com a construção e operação de aterros sanitários para a deposição dos resíduos, assim como com o sistema de coleta. Sem contar com imensas quantidades de materiais que serviriam para a reciclagem, isto é, montes de dinheiro que são jogados no lixo.
O especialista em resíduos sólidos e reciclagem, Sabetai Calderoni, doutor em Ciências pela USP, comprovou em seu livro Os bilhões perdidos no lixo que, atráves de políticas públicas consistentes, educação da população e engajamento das indústrias, o péssimo quadro atual da gestão de resíduos poderia ser alterado, distribuindo ganhos para todas as esferas da população. Porém, ao contrário do que grande parte da sociedade pensa, os maiores ganhadores de um sistema de reciclagem bem implementado seriam as indústrias, e não as prefeituras ou governos. Isto porque a quantidade de recicláveis aproveitados pelas indústrias geram grandes economias de matéria primas e energia.
Só resta agora torcer para que a Política Nacional dos Resídos Sólidos seja de fato implementada e justamente utilizada. Como argumentado acima, os benefícios são imensuráveis, não há nada a perder!
Apesar de muita discussão e divergência entre especialistas, políticos e empresários, existe um consenso: os benefícios para a sociedade com a aprovação da lei que regulamenta o gerenciamento dos resíduos sólidos no Brasil seriam imensos. Primeiramente, a PNRS permitiria que todos estados e municípios se enquadrassem em um esquema único, o federal, acabando assim com disparidades e anomalias legislativas entre diferentes regiões brasileiras. Outra grande consequência postiva seria o incentivo à reciclagem e, consequentemente, a redução do desperdício de matérias-prima recicláveis ou energia.
O texto tem como preceitos básicos a criação de condições necessárias para a instituição da prática de logística reversa para os fabricantes, importadores e distribuidores responsáveis pela geração de resíduos. Isto é, obrigatoriedade ou incentivo para que os resíduos produzidos ou comercializados sejam coletados e reprocessados. Esta prática, comum em países desenvolvidos, permite um duplo ganho: desafogamento dos já esgotados aterros sanitários brasileiros e receitas com a reciclagem. Embalagens de agrotóxicos e óleos lubrificantes, pilhas e baterias, pneus, lâmpadas fluorescentes e produtos eletrônicos, assim como seus componentes, são os ítens que merecem destaque no desenvolvimento da engenharia reversa, de acordo com a nova lei em tramitação.
Muitos especialistas do setor estão comparando esta prática com o sistema de Imposto de Renda brasileiro, onde empresas seriam cadastradas e, anualmente, deveriam prestar contas a um orgão responsável pela fiscalização.
Caso implementada, a PNRS também ajudaria muito a consituir e normalizar a classe dos catadores de lixo, agentes da sociedade pouco valorizados em sua função importante na dinâmica do lixo. Seus salários são ainda baixíssimos, sem contar que muitas vezes não existe uma entidade de classe que os represente e revindique seus direitos. Além da componente ambiental, o lado social também seria trabalhado e estimulado com a nova lei.
Mesmo muito atrasada - se comparada com outros países que há anos possuem eficazes sistemas de gestão dos resíduos sólidos - a PNRS se faz cada dia mais necessária e urgente, visto a voraz sociedade de consumo existente atualmente. De 2008 a 2009, a geração de resíduos sólidos urbanos per capita no Brasil aumentou expressivamente em 6,6%. Para piorar, São Paulo, a cidade campeã geradora de lixo no Brasil, recicla apenas 1% de seu potencial.
As consequências da ingerência na gestão dos resíduos são facilmente perceptíveis: corpos d'água altamente poluídos e estrofizados, aumento de doenças e contaminações sofriadas pela população, custo cresente com a construção e operação de aterros sanitários para a deposição dos resíduos, assim como com o sistema de coleta. Sem contar com imensas quantidades de materiais que serviriam para a reciclagem, isto é, montes de dinheiro que são jogados no lixo.
O especialista em resíduos sólidos e reciclagem, Sabetai Calderoni, doutor em Ciências pela USP, comprovou em seu livro Os bilhões perdidos no lixo que, atráves de políticas públicas consistentes, educação da população e engajamento das indústrias, o péssimo quadro atual da gestão de resíduos poderia ser alterado, distribuindo ganhos para todas as esferas da população. Porém, ao contrário do que grande parte da sociedade pensa, os maiores ganhadores de um sistema de reciclagem bem implementado seriam as indústrias, e não as prefeituras ou governos. Isto porque a quantidade de recicláveis aproveitados pelas indústrias geram grandes economias de matéria primas e energia.
Só resta agora torcer para que a Política Nacional dos Resídos Sólidos seja de fato implementada e justamente utilizada. Como argumentado acima, os benefícios são imensuráveis, não há nada a perder!
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segunda-feira, 5 de julho de 2010
Cinema
Toda vez que vou ao teatro, percebo o quão pouco eu frequento este tipo de espetáculo e penso que deveria mudar um pouco meu hábito neste sentido, já que todas as vezes eu saio da sala bem impressionado e satisfeito. Da última vez não foi diferente. Fui assistir, a convite da Danusa, uma peça chamada Cinema. Cinema porque este espatáculo foi baseado nas reações que os espectadores têm ao assistir os mais diversos filmes, seja em relação ao gênero ou mesmo o país de origem.
Ao entrar no teatro já me veio a primeira surpresa, o palco: era constituído apenas de cadeiras de cinemas, divididas em dois blocos por um corredor, como na maioria dos cinemas. Detalhe: as poltronas eram muito antigas, daquelas vermelhas e acolchoadas, com rasgos e imperfeições em algumas delas. É claro, elas estavam voltadas de modo que víamos os atores de frente.
Eu contei, eram 15 atores divididos quase (digo quase porque não tenho certeza, poderia ter usado igualmente) uniformemente entre homens e mulheres. Li na em uma sinopse na internet que eles foram rigorosamente selecionados dentre mais de mil concorrentes. Outra coisa interessante que li no site foi que a preparação para Cinema durou dois meses e que quase todo dia os atores assistiam àlgum filme e discutiam sobre o mesmo; também trocavam ideias de como o filme visto poderia influenciar no teatro preparado por eles. Assistiram Godard, Trouffau, filmes novos, antigos, raros, etc, tudo para maximizar o diálogo e criatividade. Deve ter ajudado muito mesmo, a peça é muito boa e original.
Logo nos primeiros minutos tive a impressão de que a peça seria monótoma. Os atores não fizeram muito além do que prestar atenção ao filme, quer dizer, ao som que o filme sem projeção estava emitindo, pois não havia tela no palco; se existisse ela estaria entre a platéia e os atores. Estava enganado, logo depois do meu pensamento errante, a ação roubou o lugar da mesmice.
Haviam casais presentes, solitários e até grupos de três ou quatro pessoas. O tempo foi passando e o estático cenário começou a se movimentar: um casal começou a se beijar fervorosamente, uma mulher começa a traduzir, simultaneamente e em voz alta, o diálogo em língua estrangeira do filme em movimento. Sem contar um personagem maníaco sexual, que fica, de tempos em tempos, circulando pelas fileiras atrás dos outros espectadores e, assim que passa atrás dos mesmos, se aproxima para abusar da vítima fazendo movimento sexuais. Alguns fingem que não sentem nada, outros ficam inconformados. A platéia acha graça.
Logo depois uma espectadora com encontro marcado chegou atrasado buscando seu par. Ao encontrá-lo, começaram a conversar. Eram amigos de escola que a muito tempo não se viam. Ela, muito bonita e atraente. Ele, empolgado com a beleza dela. alguns diálogos depois percebe-se que ela tem um tique muito esquisito de afinar a voz invonlutariamente no meio da frase, até da palavra, e logo depois voltar ao normal, como se nada anormal tivesse acontecido. Ele, agora assustado e frustrado, sai da sala envergonhado. Cenas como essa, bem interpretadas e hilárias, fizeram a plateia toda rir e tornaram Cinema uma peça descontraída.
Cinema é também um exercício de olhar e ser visto, perceber e analisar a expressão e reação de várias pessoas ao mesmo tempo em seus momentos de intimidades, momentos em que geralmente ninguém as observa. Um artifício interessante, que acontece bem no meio da peça, entre a mudança de um filme e outro, é a iluminação do palco e a paralisação dos atores, que passam a observar a platéia com olhares fixos, sérios. É a mudança da condição de observador para observado, ou vice e versa. Muito legal, alguns expectadores se sentiram tão incomodados que manifestaram através de comentários risonhos.
Preciso ir mais ao cinema. Quer dizer, ao teatro!
Ao entrar no teatro já me veio a primeira surpresa, o palco: era constituído apenas de cadeiras de cinemas, divididas em dois blocos por um corredor, como na maioria dos cinemas. Detalhe: as poltronas eram muito antigas, daquelas vermelhas e acolchoadas, com rasgos e imperfeições em algumas delas. É claro, elas estavam voltadas de modo que víamos os atores de frente.
Eu contei, eram 15 atores divididos quase (digo quase porque não tenho certeza, poderia ter usado igualmente) uniformemente entre homens e mulheres. Li na em uma sinopse na internet que eles foram rigorosamente selecionados dentre mais de mil concorrentes. Outra coisa interessante que li no site foi que a preparação para Cinema durou dois meses e que quase todo dia os atores assistiam àlgum filme e discutiam sobre o mesmo; também trocavam ideias de como o filme visto poderia influenciar no teatro preparado por eles. Assistiram Godard, Trouffau, filmes novos, antigos, raros, etc, tudo para maximizar o diálogo e criatividade. Deve ter ajudado muito mesmo, a peça é muito boa e original.
Logo nos primeiros minutos tive a impressão de que a peça seria monótoma. Os atores não fizeram muito além do que prestar atenção ao filme, quer dizer, ao som que o filme sem projeção estava emitindo, pois não havia tela no palco; se existisse ela estaria entre a platéia e os atores. Estava enganado, logo depois do meu pensamento errante, a ação roubou o lugar da mesmice.
Haviam casais presentes, solitários e até grupos de três ou quatro pessoas. O tempo foi passando e o estático cenário começou a se movimentar: um casal começou a se beijar fervorosamente, uma mulher começa a traduzir, simultaneamente e em voz alta, o diálogo em língua estrangeira do filme em movimento. Sem contar um personagem maníaco sexual, que fica, de tempos em tempos, circulando pelas fileiras atrás dos outros espectadores e, assim que passa atrás dos mesmos, se aproxima para abusar da vítima fazendo movimento sexuais. Alguns fingem que não sentem nada, outros ficam inconformados. A platéia acha graça.
Logo depois uma espectadora com encontro marcado chegou atrasado buscando seu par. Ao encontrá-lo, começaram a conversar. Eram amigos de escola que a muito tempo não se viam. Ela, muito bonita e atraente. Ele, empolgado com a beleza dela. alguns diálogos depois percebe-se que ela tem um tique muito esquisito de afinar a voz invonlutariamente no meio da frase, até da palavra, e logo depois voltar ao normal, como se nada anormal tivesse acontecido. Ele, agora assustado e frustrado, sai da sala envergonhado. Cenas como essa, bem interpretadas e hilárias, fizeram a plateia toda rir e tornaram Cinema uma peça descontraída.
Cinema é também um exercício de olhar e ser visto, perceber e analisar a expressão e reação de várias pessoas ao mesmo tempo em seus momentos de intimidades, momentos em que geralmente ninguém as observa. Um artifício interessante, que acontece bem no meio da peça, entre a mudança de um filme e outro, é a iluminação do palco e a paralisação dos atores, que passam a observar a platéia com olhares fixos, sérios. É a mudança da condição de observador para observado, ou vice e versa. Muito legal, alguns expectadores se sentiram tão incomodados que manifestaram através de comentários risonhos.
Preciso ir mais ao cinema. Quer dizer, ao teatro!
terça-feira, 29 de junho de 2010
Frankfurt (2)
A segunda semana em Frankfurt foi tão boa quanto a primeira, apenas um pouco diferente. O treinamento foi mais específico e com todo o time do Fundo de Carbono; algumas pessoas eu já havia conhecido na primeira semana, isto é, trabalhavam para o Fundo de Carbono e eram, como eu, recém-contratados. Foi muito legal conhecer os rostos da pessoas que eu costumava lidar em São Paulo pelo telefone ou e-mail. Algumas eu achava que eram mais velhas, outras mais novas. Engraçado.
Foi muito importante conversar durante toda a semana sobre o mesmo assunto, conhecer as dificuldades e pontos fortes de outros países, receber sugestões, etc. Os últimos dias foram destinados para as apresentações da estratégia para o final de 2010 e 2011 de cada país que faz aquisição de créditos de carbono. Para encerrar a semana, fomos na sexta-feira a um restaurante muito agradável perto do banco. Comemos ao ar livre em uma nível mais alto que do térreo, a vista era bonita, muito verde na Europa nesta época do ano.
Como na primeira semana, o KfW organizou atividades recreativas para depois do expediente de treinamento. Uma que eu achei bem criativa e divertida foi nossa ida a uma cozinha de um restaurante onde o chef de cozinha nos ensionou a preparar tapas espanholas. Depois dele, foi a nossa vez: nos dividimos em grupos e cada um fez um prato diferente. Eu fiquei com o Klaus e cozinhamos um tira-gosto de cogumelos e copa. Não faltou comida este dia!
Outro encontro aconteceu em um bier garten bem na frente do Main, fantástico! O único problema foi o frio que incomodou um pouco. O lado bom foi as cervejas alemãs, já comentadas aqui em outro post anterior. O legal destes encontros e atividades é que o pessoal que trabalha em um mesmo departamente em países diferentes tem a oportunidade de se conhecer melhor e ficar mais íntimo.
No final da minha estada em Frankfurt, apesar de muito divertida e proveitosa, já estava querendo voltar para o Brasil. Não sei por que mas parece que quando viajamos, nos preparamos psicologicamente para ficar o tempo estipulado e, quando vai chegando no final, já estamos cansados e querendo voltar pra rotina. Estava com saudades do meu apartamento também, não faz muito tempo que me mudei. Sem falar dos amigos e família.
Mas uma coisa é verdade: não vejo a hora de chegar o próximo encontro do Fundo de Carbono!
***
Conversando com uma colega da Bukina Faso, que participou do programa da primeira semana, percebi como pode ser difícil a integração de um negro em um país majoritariamente branco. Mesmo morando há anos na Alemanha e falando alemão muito bem, ela não se sentia à vontade. Estava sempre com a pulga atrás da orelha e, segundo ela, sofrendo censuras e passando por constrangimentos. Ao sentar então em um assento no trem ou ônibus ao lado de um alemães, era constrangimento na certa. Mas você não está preparada e já esperando sofrer preconceito, eu perguntei. Pode ser, ela respondeu, talvez o problema seja eu também. Porém, estava feliz em voltar para Bukina Faso e trabalhar em seu verdadeiro país.
Foi muito importante conversar durante toda a semana sobre o mesmo assunto, conhecer as dificuldades e pontos fortes de outros países, receber sugestões, etc. Os últimos dias foram destinados para as apresentações da estratégia para o final de 2010 e 2011 de cada país que faz aquisição de créditos de carbono. Para encerrar a semana, fomos na sexta-feira a um restaurante muito agradável perto do banco. Comemos ao ar livre em uma nível mais alto que do térreo, a vista era bonita, muito verde na Europa nesta época do ano.
Como na primeira semana, o KfW organizou atividades recreativas para depois do expediente de treinamento. Uma que eu achei bem criativa e divertida foi nossa ida a uma cozinha de um restaurante onde o chef de cozinha nos ensionou a preparar tapas espanholas. Depois dele, foi a nossa vez: nos dividimos em grupos e cada um fez um prato diferente. Eu fiquei com o Klaus e cozinhamos um tira-gosto de cogumelos e copa. Não faltou comida este dia!
Outro encontro aconteceu em um bier garten bem na frente do Main, fantástico! O único problema foi o frio que incomodou um pouco. O lado bom foi as cervejas alemãs, já comentadas aqui em outro post anterior. O legal destes encontros e atividades é que o pessoal que trabalha em um mesmo departamente em países diferentes tem a oportunidade de se conhecer melhor e ficar mais íntimo.
No final da minha estada em Frankfurt, apesar de muito divertida e proveitosa, já estava querendo voltar para o Brasil. Não sei por que mas parece que quando viajamos, nos preparamos psicologicamente para ficar o tempo estipulado e, quando vai chegando no final, já estamos cansados e querendo voltar pra rotina. Estava com saudades do meu apartamento também, não faz muito tempo que me mudei. Sem falar dos amigos e família.
Mas uma coisa é verdade: não vejo a hora de chegar o próximo encontro do Fundo de Carbono!
***
Conversando com uma colega da Bukina Faso, que participou do programa da primeira semana, percebi como pode ser difícil a integração de um negro em um país majoritariamente branco. Mesmo morando há anos na Alemanha e falando alemão muito bem, ela não se sentia à vontade. Estava sempre com a pulga atrás da orelha e, segundo ela, sofrendo censuras e passando por constrangimentos. Ao sentar então em um assento no trem ou ônibus ao lado de um alemães, era constrangimento na certa. Mas você não está preparada e já esperando sofrer preconceito, eu perguntei. Pode ser, ela respondeu, talvez o problema seja eu também. Porém, estava feliz em voltar para Bukina Faso e trabalhar em seu verdadeiro país.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Köln
Ainda no Brasil, antes de embarcar para Frankfurt, comprei uma passagem para ir para Colônia no final de semana, entre as minhas duas semanas de treinamento do KfW em Frankfurt. Escolhi Colônia porque meus colegas de trabalho da DEG (braço do KfW com sede nesta mesma cidade), me recomendaram e disseram que era muito bonita. Sem falar que não era muito distante de Frankfurt.
O único problema foi que eu comprei a passagem para a sexta-feira depois do almoço, logo depois que o programa da semana se encerraria. Eu só não contei que na quinta eu sairia com os colegas de treinamento e voltaria muito tarde. Resultado: acordei na sexta sem ter arrumado nada para a viagem e tive que ir correndo para o KfW, senão chegaria atrasado. Infelizmente, como comprei em uma tarifa promocional, não pude reaproveitar a passagem para o sábado. Mas foi melhor, curti a sexta-feira em Frankfurt, descansei e, no sábado, fui para Köln com calma.
Fui despreparado para conhecer a cidade, não quis me planejar muito e achei que seria uma ideia legal ir me surpreendendo com a cidade. A única coisa que eu sabia de Colônia era a sua famosa catedral. E foi a primeira coisa que fiz logo quando cheguei. A catedral fica bem do lado da estação de trem; saí do trem e, acidentalmente, fui direto conhecer o prédio cristão. Não sou muito ligado em religiões/supertições mas admito que a catedral era bem expressiva! Bem grande, alta, enorme, na verdade. O legal foi que após subir mais de 500 degraus, a vista do topo dela era sensacional! Dava para ver Colônia inteira.
Não havia me preparado mesmo, tanto é que quando desci da catedral me preocupei em arrumar uma cama para passar a noite. Fui na loja de informações turísticas e eles me recomendaram alguns albergues. Fui em dois e estavam lotados. Azar. No terceiro, depois de andar bastante pela cidade e me perder (senso de localização nota ZERO!), finalmente achei uma cama disponível: a última de um quarto com outras nove; a última de um grande albergue. Sorte.
Não sei por que mas estava um pouco preguiçoso este final de semana. Somado a isso o fato das ótimas cervejas alemãs, acabei ficando um bom tempo no balcão do bar do albergue tomando cerveja e pensando na vida. Eu sabia que logo voltaria para o Brasil e não poderia mais me deliciar com essas cervejas. Mas um homem não sobrevive só com cerveja, é preciso comer algo de vez em quando; meu estômago já estava roncando, então decidi voltar para a cidade e procurar algo para comer.
Impressionante como Colônia oferece bastantes bares e restaurantes. Perto do Rio Reno existem vários lugares para comer, beber e se divertir, um do lado do outro. É tanta coisa que chega a ser difícil de escolher. Depois de andar bastante acabei escolhendo um lugar onde poderia comer um prato alemão. Decidi por um Schnitzel com molho de cogumelos, acho nem preciso falar o quanto estava bom! Enquanto comia fiquei vendo o jogo da Copa EUA x Inglaterra: empate com uma gol pra cada time.
Como havia ligado pro David (coincidentemente ele também estava em Köln neste final de semana) e ele já havia marcado algo para a noite, acabei indo para uma baladinha que o Fernando, meu amigo do trabalho, havia indicado. Por sorte ela era bem do lado do albergue. Acho que se não fosse eu não teria ânimo de ir. No começo fiquei um pouco incomodado por estar sozinho, mas logo depois fiquei me divertindo olhando as pessoas, escutando os hits alemães (alguns são os mesmos que no Brasil), bebendo outra cerveja e conversando ora ou outra com pessoas que devem ter me achado solitário. Eu acho que eu realmente me diverti, quando cheguei no club, às 11 da noite, pensei comigo mesmo: "Ok, vou ficar aqui uma hora apenas e volto pro albergue." Acabei deitando na cama, que havia reservado horas antes, quatro da manhã passadas!
O problema foi na manhã seguinte. Ou melhor, na mesma manhã, porque quando estava voltando para o albergue me lembro que já estava ficando claro. Teoricamente era pra eu fazer o check-out até às 11 da manhã, porém, acabei acordando quase duas da tarde. Caramba! Tive que me despreender da teoria e passar para a prática para convencer a recepcionista a não me cobrar outra diária. No final tudo dá-se um jeito, eu acredito nisso, apesar de mencionar lá em cima que não sigo nenhuma supertição. Vai entender...
Ao sair do albergue, comi uma pizza turca na esquina e rumei para a estação. No trem fiquei vendo a paisagem, o trilho corre ao lado do Reno por um longo trecho. Muito bonito.
O único problema foi que eu comprei a passagem para a sexta-feira depois do almoço, logo depois que o programa da semana se encerraria. Eu só não contei que na quinta eu sairia com os colegas de treinamento e voltaria muito tarde. Resultado: acordei na sexta sem ter arrumado nada para a viagem e tive que ir correndo para o KfW, senão chegaria atrasado. Infelizmente, como comprei em uma tarifa promocional, não pude reaproveitar a passagem para o sábado. Mas foi melhor, curti a sexta-feira em Frankfurt, descansei e, no sábado, fui para Köln com calma.
Fui despreparado para conhecer a cidade, não quis me planejar muito e achei que seria uma ideia legal ir me surpreendendo com a cidade. A única coisa que eu sabia de Colônia era a sua famosa catedral. E foi a primeira coisa que fiz logo quando cheguei. A catedral fica bem do lado da estação de trem; saí do trem e, acidentalmente, fui direto conhecer o prédio cristão. Não sou muito ligado em religiões/supertições mas admito que a catedral era bem expressiva! Bem grande, alta, enorme, na verdade. O legal foi que após subir mais de 500 degraus, a vista do topo dela era sensacional! Dava para ver Colônia inteira.
Não havia me preparado mesmo, tanto é que quando desci da catedral me preocupei em arrumar uma cama para passar a noite. Fui na loja de informações turísticas e eles me recomendaram alguns albergues. Fui em dois e estavam lotados. Azar. No terceiro, depois de andar bastante pela cidade e me perder (senso de localização nota ZERO!), finalmente achei uma cama disponível: a última de um quarto com outras nove; a última de um grande albergue. Sorte.
Não sei por que mas estava um pouco preguiçoso este final de semana. Somado a isso o fato das ótimas cervejas alemãs, acabei ficando um bom tempo no balcão do bar do albergue tomando cerveja e pensando na vida. Eu sabia que logo voltaria para o Brasil e não poderia mais me deliciar com essas cervejas. Mas um homem não sobrevive só com cerveja, é preciso comer algo de vez em quando; meu estômago já estava roncando, então decidi voltar para a cidade e procurar algo para comer.
Impressionante como Colônia oferece bastantes bares e restaurantes. Perto do Rio Reno existem vários lugares para comer, beber e se divertir, um do lado do outro. É tanta coisa que chega a ser difícil de escolher. Depois de andar bastante acabei escolhendo um lugar onde poderia comer um prato alemão. Decidi por um Schnitzel com molho de cogumelos, acho nem preciso falar o quanto estava bom! Enquanto comia fiquei vendo o jogo da Copa EUA x Inglaterra: empate com uma gol pra cada time.
Como havia ligado pro David (coincidentemente ele também estava em Köln neste final de semana) e ele já havia marcado algo para a noite, acabei indo para uma baladinha que o Fernando, meu amigo do trabalho, havia indicado. Por sorte ela era bem do lado do albergue. Acho que se não fosse eu não teria ânimo de ir. No começo fiquei um pouco incomodado por estar sozinho, mas logo depois fiquei me divertindo olhando as pessoas, escutando os hits alemães (alguns são os mesmos que no Brasil), bebendo outra cerveja e conversando ora ou outra com pessoas que devem ter me achado solitário. Eu acho que eu realmente me diverti, quando cheguei no club, às 11 da noite, pensei comigo mesmo: "Ok, vou ficar aqui uma hora apenas e volto pro albergue." Acabei deitando na cama, que havia reservado horas antes, quatro da manhã passadas!
O problema foi na manhã seguinte. Ou melhor, na mesma manhã, porque quando estava voltando para o albergue me lembro que já estava ficando claro. Teoricamente era pra eu fazer o check-out até às 11 da manhã, porém, acabei acordando quase duas da tarde. Caramba! Tive que me despreender da teoria e passar para a prática para convencer a recepcionista a não me cobrar outra diária. No final tudo dá-se um jeito, eu acredito nisso, apesar de mencionar lá em cima que não sigo nenhuma supertição. Vai entender...
Ao sair do albergue, comi uma pizza turca na esquina e rumei para a estação. No trem fiquei vendo a paisagem, o trilho corre ao lado do Reno por um longo trecho. Muito bonito.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Frankfurt (1)
Tive sorte. Logo depois de começar a trabalhar para o KfW fiquei sabendo que meses depois do meu começo iria fazer uma viagem de duas semanas para Frankfurt com o intuito de conhecer melhor o banco, seus programas, projetos, relacao com o governo alemão, etc. Nas duas semanas, participei de dois programas diferentes: introdução sobre o KfW Entwicklungsbank e treinamento do Fundo de Carbono. Neste texto escreverei como foram os meus sete primeiros dias na capital financeira da Alemanha.
Frankfurt me impressionou desde o começo, primeiro porque a cidade é muito menor do que eu imaginava. Na verdade eu já sabia que Frankfurt tinha mais ou menos 700 mil habitantes quando deixei o Brasil, mas mesmo assim, na hora que comecei a andar pela cidade, achei que ela deveria ser maio. Maior porque é a capital financeira do principal país do bloco europeu. Ok, existem alguns arranha-céus, muito deles bem bonitos e imponentes, mas nada comparado a São Paulo ou até outras cidades menores brasileiras.
Por outro lado, Frankfurt me impressionou pela qualidade de vida que oferece a seus moradores ou aos de passagem, como eu. Existem diversos restaurantes internacionais, metrô espalhado pela cidade inteira (algo inédito para mim, se lembramos que a cidade não tem nem um milhão de habitantes)e o mais legal, muitas pessoas vão de bicicleta para o trabalho! É muito comum ver engravatados montados em suas bicicletas percorrendo as ruas de Frankfurt. Ou melhor, as calçadas. Em quase todas as calçadas da cidade existe uma faixa em vermelho destinada para os ciclistas; os pedestres precisam ficar atentos para não ser atropelados por algo sem motor!
Os meus colegas de treinamento foram os mais amigáveis e interessantes possíveis. Sem contar suas procedências: Iêmen, Bukina Faso, Madagascar, Indonésia, Egito, Palestina (achei que nunca encontraria alguém desta região), África do Sul, Ruanda, Índia e Casaquistão. Foi interessante que o KfW organizou algumas atividades extra-curriculares, como jogar boliche em uma noite ou o jantar de boas vindas no primeiro domingo. Me impressionei também como a maioria de nós ficamos bem íntimos logo nos primeiros dias; na quinta-feira, quando alguns já estavam se preparando para voltar para casa (aqueles que não teriam outro treinamento na semana seguinta), tratamos de nos reunir depois das palestras e ficamos conversando e bebericando algo para nos despedir.
Adoro esses encontros internacionais, é muito legal conversar com pessoas de todos os cantos do mundo sobre seus países, hábitos, governos, etc. Por exemplo, fiquei sabendo que vários países da África Ocidental possuem a mesma moeda, que me esqueci o nome porque tenho memória de peixe; fiquei sabendo como é o dia-a-dia na Autoridade Palestina e, para minha surpresa, é muito mais normal do que imaginava; confirmei com uma colega alemã que mora na Áfica do Sul há 20 anos que realmente o atual presidente deste país estuprou a filha de um amigo seu e confessou para todo país. Já havia lido sobre isso mas, tamanho o disparate, achei que o jornalista havia se confundido. Nosso governo é inacreditável, me disse ela.
Não é só o Brasil que pára em época de copa do mundo. A Alemanha também entrou no clima: todos os bares colocaram telões ou TVs nas calçadas para as pessoas acompanharem os jogos; muitos dos carros penduraram bandeiras para apoiar o país; pessoas andavam pintadas e festejando nas ruas. O único problema foi no jogo da Alemanha contra a Sérvia. Ninguém esperava uma derrota, eles se acanharam. Fiquei impressionado como os alemães gostam do Brasil. Um dia vi um menininho de uns 5 anos correndo com duas bandeiras na mão, uma da Alemanha, outra do Brasil. Outra hora vi um carro passando também com as bandeiras destes dois países. Quero só ver se o Brasil enfrentar a Alemanha em alguma etapa da Copa.
Não posso deixar de falar das palestras introdutórias sobre o KfW - Banco de Desenvolvimento. Não foi coincidência que todos os participantes vinham de países em desenvolvimento. Essa área do banco, a qual o Fundo de Carbono pertence, destina suas atividades somente nos países pobres ou emergentes. Teve uma palestra que explicou, por exemplo, o critério para decidir o tipo de projetos que cada país vai implementar. Eles podem ser desde eficiência energética e energia renovável (caso do Brasil) até infra-estrutura, educação ou combate à AIDS. Os tipos de financiamentos, estrutura e gestão dos projetos também foram apresentados. No final da semana estávamos entendendo o banco muito melhor do que quando chegamos em Frankfurt.
Até no Ministério Alemão de Cooperação Internacional, sediado em Bonn, nós fomos, para assistir uma palestra que explicava como o ministério trabalha com o KfW. Após a palestra, fomos para o Museu de História Moderna, que conta a história da Alemanha logo depois do final da segunda guerra mundial. O guia possuia um humor sutil e sabia muito sobre o tema. Interessante: a indústria alemã atual é muito moderna porque ao final da segunda guerra, quando o país estava dividido e ocupado, os países ocupantes - União Soviética, França, Ingraterra e EUA - levaram todos os maquinários para seus países. Só restou à Alemanha então, começar a reconstruir seu parque industrial e, como criaram tudo do novo, sua indústria ficou moderna. Até hoje.
Frankfurt me impressionou desde o começo, primeiro porque a cidade é muito menor do que eu imaginava. Na verdade eu já sabia que Frankfurt tinha mais ou menos 700 mil habitantes quando deixei o Brasil, mas mesmo assim, na hora que comecei a andar pela cidade, achei que ela deveria ser maio. Maior porque é a capital financeira do principal país do bloco europeu. Ok, existem alguns arranha-céus, muito deles bem bonitos e imponentes, mas nada comparado a São Paulo ou até outras cidades menores brasileiras.
Por outro lado, Frankfurt me impressionou pela qualidade de vida que oferece a seus moradores ou aos de passagem, como eu. Existem diversos restaurantes internacionais, metrô espalhado pela cidade inteira (algo inédito para mim, se lembramos que a cidade não tem nem um milhão de habitantes)e o mais legal, muitas pessoas vão de bicicleta para o trabalho! É muito comum ver engravatados montados em suas bicicletas percorrendo as ruas de Frankfurt. Ou melhor, as calçadas. Em quase todas as calçadas da cidade existe uma faixa em vermelho destinada para os ciclistas; os pedestres precisam ficar atentos para não ser atropelados por algo sem motor!
Os meus colegas de treinamento foram os mais amigáveis e interessantes possíveis. Sem contar suas procedências: Iêmen, Bukina Faso, Madagascar, Indonésia, Egito, Palestina (achei que nunca encontraria alguém desta região), África do Sul, Ruanda, Índia e Casaquistão. Foi interessante que o KfW organizou algumas atividades extra-curriculares, como jogar boliche em uma noite ou o jantar de boas vindas no primeiro domingo. Me impressionei também como a maioria de nós ficamos bem íntimos logo nos primeiros dias; na quinta-feira, quando alguns já estavam se preparando para voltar para casa (aqueles que não teriam outro treinamento na semana seguinta), tratamos de nos reunir depois das palestras e ficamos conversando e bebericando algo para nos despedir.
Adoro esses encontros internacionais, é muito legal conversar com pessoas de todos os cantos do mundo sobre seus países, hábitos, governos, etc. Por exemplo, fiquei sabendo que vários países da África Ocidental possuem a mesma moeda, que me esqueci o nome porque tenho memória de peixe; fiquei sabendo como é o dia-a-dia na Autoridade Palestina e, para minha surpresa, é muito mais normal do que imaginava; confirmei com uma colega alemã que mora na Áfica do Sul há 20 anos que realmente o atual presidente deste país estuprou a filha de um amigo seu e confessou para todo país. Já havia lido sobre isso mas, tamanho o disparate, achei que o jornalista havia se confundido. Nosso governo é inacreditável, me disse ela.
Não é só o Brasil que pára em época de copa do mundo. A Alemanha também entrou no clima: todos os bares colocaram telões ou TVs nas calçadas para as pessoas acompanharem os jogos; muitos dos carros penduraram bandeiras para apoiar o país; pessoas andavam pintadas e festejando nas ruas. O único problema foi no jogo da Alemanha contra a Sérvia. Ninguém esperava uma derrota, eles se acanharam. Fiquei impressionado como os alemães gostam do Brasil. Um dia vi um menininho de uns 5 anos correndo com duas bandeiras na mão, uma da Alemanha, outra do Brasil. Outra hora vi um carro passando também com as bandeiras destes dois países. Quero só ver se o Brasil enfrentar a Alemanha em alguma etapa da Copa.
Não posso deixar de falar das palestras introdutórias sobre o KfW - Banco de Desenvolvimento. Não foi coincidência que todos os participantes vinham de países em desenvolvimento. Essa área do banco, a qual o Fundo de Carbono pertence, destina suas atividades somente nos países pobres ou emergentes. Teve uma palestra que explicou, por exemplo, o critério para decidir o tipo de projetos que cada país vai implementar. Eles podem ser desde eficiência energética e energia renovável (caso do Brasil) até infra-estrutura, educação ou combate à AIDS. Os tipos de financiamentos, estrutura e gestão dos projetos também foram apresentados. No final da semana estávamos entendendo o banco muito melhor do que quando chegamos em Frankfurt.
Até no Ministério Alemão de Cooperação Internacional, sediado em Bonn, nós fomos, para assistir uma palestra que explicava como o ministério trabalha com o KfW. Após a palestra, fomos para o Museu de História Moderna, que conta a história da Alemanha logo depois do final da segunda guerra mundial. O guia possuia um humor sutil e sabia muito sobre o tema. Interessante: a indústria alemã atual é muito moderna porque ao final da segunda guerra, quando o país estava dividido e ocupado, os países ocupantes - União Soviética, França, Ingraterra e EUA - levaram todos os maquinários para seus países. Só restou à Alemanha então, começar a reconstruir seu parque industrial e, como criaram tudo do novo, sua indústria ficou moderna. Até hoje.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Em Belo Horizonte: uma Campo Grande expandida
Como entusiasta das obras de Niemeyer, não tinha como não gostar de Belo Horizonte, que serviu, a pedido de JK, então governador de Minas Gerais, como ensaio e preparação para o grande arquiteto brasileiro construir a então nova capital federal. Prédios, edifícios e casas com a sua assinatura estão espalhados por toda BH, mas aonde se pode perceber realmente o exercício para o posterior desafio de Brasília é no bairro da Pampulha. O que eu mais gostei foi da pequena Igreja, embora o Museu de Arte e Casa do Baile sejam também interessantes; uma pena que estavam fechados.
Belo Horizonte é uma cidade muito arborizada e planejada. Por isso a lembrança da minha natal Campo Grande, que apesar de bem menor, tem uma grande semelhança com a capital de Minas Gerais. As ruas centrais, como em Campo Grande, são todas quadriculadas, mas as de BH estão dispostas em ângulo de 45 graus com as grandes avenidas. A princípio achei que a disposição dificultaria muito o trânsito, mas não na verdade. Falando em trânsito, as pessoas na capital mineira têm horror ao aglomerado de veículos nas ruas. Pequenos engarrafamentos são encarados como o fim do mundo, algo que em São Paulo quase ninguém se incomodaria.
Um lugar bem interessante no centro de Belo Horizonte é o bairro Savassi, onde fiquei andando um dia que estava esperando a Raquel – minha anfitriã – sair da faculdade pra gente voltar pra casa dela. Na Savassi existem várias livrarias, bares, lojas despojadas e restaurantes. Apesar de estar incrustada no centro da cidade, possui uma aparência muito bonita e atmosfera leve. Deve ser bem legal sair à noite nesta região, mas não tive oportunidade. Porém, oportunidade eu tive de conhecer o Mineirão e assistir um jogo amistoso (demais de amistoso, por sinal) entre a seleção da África do Sul contra o Cruzeiro. Placar: o mais entediante do mundo, zero a zero. Valeu pra conhecer o Mineirão.
Conheci também alguns museus e casas de cultura nesta cidade como, por exemplo, o Museu de Artes e Ofícios, patrocinado por uma mulher ligada à construtora Andrade e Gutierrez. Se não me engano ela doou quase todo o acervo pessoal pro museu. É interessante porque vários dos ofícios são relacionados com a região ou estado de Minas Gerais. Já o pequeno museu Abílio Barreto, onde se localizava a primeira fazenda de Belo Horizonte, conta um pouco da história da cidade, que, como Campo Grande, tem pouco mais de cem anos. Mas o que mais gostei foi de ir, ao acaso, ao IMS, localizado no centro. Estava acontecendo uma exposição com fotos em PB do Otto Stupakoff, muito marcantes!
Gostei bastante também de ir com a Raquel, que estuda Medicina na UFMG, de conhecer o campus da faculdade federal. Almoçamos por lá em um dos vários e diferentes restaurantes oferecidos e logo depois do almoço, em uma tenda no meio da faculdade, estava tocando uma banda muito legal, tinha até instrumento de sopro, o som era muito original. Uma pena que tivemos que ir embora porque a Raquel tinha aula no outro campus da faculdade logo depois.
No ônibus que me levava pro longíssimo aeroporto de Confins, prestei atenção para achar a tão comentada pelos mineiros e recém-inaugurada cidade administrativa de Minas Gerais. São três grandes prédios – um deles o auditório – que abrigam agora as secretarias, palácio do governo e outras repartições. A arquitetura é muito marcante, e o arquiteto responsável pela obra, como esperado, foi o Oscar Niemeyer. O que me chamou muito a atenção é que um dos grandes prédios está pendurado por cabos, que devem ser de aço. É como um MASP, porém pendurado e não tocando os grandes pilares que dão suporte aos cabos. Só vendo.
Um pouco antes de embarcar, fiquei vendo aviões tocando o chão ou se descolando dele; nunca me canso disso. Alguns minutos depois foi a minha vez de decolar.
Belo Horizonte é uma cidade muito arborizada e planejada. Por isso a lembrança da minha natal Campo Grande, que apesar de bem menor, tem uma grande semelhança com a capital de Minas Gerais. As ruas centrais, como em Campo Grande, são todas quadriculadas, mas as de BH estão dispostas em ângulo de 45 graus com as grandes avenidas. A princípio achei que a disposição dificultaria muito o trânsito, mas não na verdade. Falando em trânsito, as pessoas na capital mineira têm horror ao aglomerado de veículos nas ruas. Pequenos engarrafamentos são encarados como o fim do mundo, algo que em São Paulo quase ninguém se incomodaria.
Um lugar bem interessante no centro de Belo Horizonte é o bairro Savassi, onde fiquei andando um dia que estava esperando a Raquel – minha anfitriã – sair da faculdade pra gente voltar pra casa dela. Na Savassi existem várias livrarias, bares, lojas despojadas e restaurantes. Apesar de estar incrustada no centro da cidade, possui uma aparência muito bonita e atmosfera leve. Deve ser bem legal sair à noite nesta região, mas não tive oportunidade. Porém, oportunidade eu tive de conhecer o Mineirão e assistir um jogo amistoso (demais de amistoso, por sinal) entre a seleção da África do Sul contra o Cruzeiro. Placar: o mais entediante do mundo, zero a zero. Valeu pra conhecer o Mineirão.
Conheci também alguns museus e casas de cultura nesta cidade como, por exemplo, o Museu de Artes e Ofícios, patrocinado por uma mulher ligada à construtora Andrade e Gutierrez. Se não me engano ela doou quase todo o acervo pessoal pro museu. É interessante porque vários dos ofícios são relacionados com a região ou estado de Minas Gerais. Já o pequeno museu Abílio Barreto, onde se localizava a primeira fazenda de Belo Horizonte, conta um pouco da história da cidade, que, como Campo Grande, tem pouco mais de cem anos. Mas o que mais gostei foi de ir, ao acaso, ao IMS, localizado no centro. Estava acontecendo uma exposição com fotos em PB do Otto Stupakoff, muito marcantes!
Gostei bastante também de ir com a Raquel, que estuda Medicina na UFMG, de conhecer o campus da faculdade federal. Almoçamos por lá em um dos vários e diferentes restaurantes oferecidos e logo depois do almoço, em uma tenda no meio da faculdade, estava tocando uma banda muito legal, tinha até instrumento de sopro, o som era muito original. Uma pena que tivemos que ir embora porque a Raquel tinha aula no outro campus da faculdade logo depois.
No ônibus que me levava pro longíssimo aeroporto de Confins, prestei atenção para achar a tão comentada pelos mineiros e recém-inaugurada cidade administrativa de Minas Gerais. São três grandes prédios – um deles o auditório – que abrigam agora as secretarias, palácio do governo e outras repartições. A arquitetura é muito marcante, e o arquiteto responsável pela obra, como esperado, foi o Oscar Niemeyer. O que me chamou muito a atenção é que um dos grandes prédios está pendurado por cabos, que devem ser de aço. É como um MASP, porém pendurado e não tocando os grandes pilares que dão suporte aos cabos. Só vendo.
Um pouco antes de embarcar, fiquei vendo aviões tocando o chão ou se descolando dele; nunca me canso disso. Alguns minutos depois foi a minha vez de decolar.
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