quarta-feira, 23 de junho de 2010

Frankfurt (1)

Tive sorte. Logo depois de começar a trabalhar para o KfW fiquei sabendo que meses depois do meu começo iria fazer uma viagem de duas semanas para Frankfurt com o intuito de conhecer melhor o banco, seus programas, projetos, relacao com o governo alemão, etc. Nas duas semanas, participei de dois programas diferentes: introdução sobre o KfW Entwicklungsbank e treinamento do Fundo de Carbono. Neste texto escreverei como foram os meus sete primeiros dias na capital financeira da Alemanha.

Frankfurt me impressionou desde o começo, primeiro porque a cidade é muito menor do que eu imaginava. Na verdade eu já sabia que Frankfurt tinha mais ou menos 700 mil habitantes quando deixei o Brasil, mas mesmo assim, na hora que comecei a andar pela cidade, achei que ela deveria ser maio. Maior porque é a capital financeira do principal país do bloco europeu. Ok, existem alguns arranha-céus, muito deles bem bonitos e imponentes, mas nada comparado a São Paulo ou até outras cidades menores brasileiras.

Por outro lado, Frankfurt me impressionou pela qualidade de vida que oferece a seus moradores ou aos de passagem, como eu. Existem diversos restaurantes internacionais, metrô espalhado pela cidade inteira (algo inédito para mim, se lembramos que a cidade não tem nem um milhão de habitantes)e o mais legal, muitas pessoas vão de bicicleta para o trabalho! É muito comum ver engravatados montados em suas bicicletas percorrendo as ruas de Frankfurt. Ou melhor, as calçadas. Em quase todas as calçadas da cidade existe uma faixa em vermelho destinada para os ciclistas; os pedestres precisam ficar atentos para não ser atropelados por algo sem motor!

Os meus colegas de treinamento foram os mais amigáveis e interessantes possíveis. Sem contar suas procedências: Iêmen, Bukina Faso, Madagascar, Indonésia, Egito, Palestina (achei que nunca encontraria alguém desta região), África do Sul, Ruanda, Índia e Casaquistão. Foi interessante que o KfW organizou algumas atividades extra-curriculares, como jogar boliche em uma noite ou o jantar de boas vindas no primeiro domingo. Me impressionei também como a maioria de nós ficamos bem íntimos logo nos primeiros dias; na quinta-feira, quando alguns já estavam se preparando para voltar para casa (aqueles que não teriam outro treinamento na semana seguinta), tratamos de nos reunir depois das palestras e ficamos conversando e bebericando algo para nos despedir.

Adoro esses encontros internacionais, é muito legal conversar com pessoas de todos os cantos do mundo sobre seus países, hábitos, governos, etc. Por exemplo, fiquei sabendo que vários países da África Ocidental possuem a mesma moeda, que me esqueci o nome porque tenho memória de peixe; fiquei sabendo como é o dia-a-dia na Autoridade Palestina e, para minha surpresa, é muito mais normal do que imaginava; confirmei com uma colega alemã que mora na Áfica do Sul há 20 anos que realmente o atual presidente deste país estuprou a filha de um amigo seu e confessou para todo país. Já havia lido sobre isso mas, tamanho o disparate, achei que o jornalista havia se confundido. Nosso governo é inacreditável, me disse ela.

Não é só o Brasil que pára em época de copa do mundo. A Alemanha também entrou no clima: todos os bares colocaram telões ou TVs nas calçadas para as pessoas acompanharem os jogos; muitos dos carros penduraram bandeiras para apoiar o país; pessoas andavam pintadas e festejando nas ruas. O único problema foi no jogo da Alemanha contra a Sérvia. Ninguém esperava uma derrota, eles se acanharam. Fiquei impressionado como os alemães gostam do Brasil. Um dia vi um menininho de uns 5 anos correndo com duas bandeiras na mão, uma da Alemanha, outra do Brasil. Outra hora vi um carro passando também com as bandeiras destes dois países. Quero só ver se o Brasil enfrentar a Alemanha em alguma etapa da Copa.

Não posso deixar de falar das palestras introdutórias sobre o KfW - Banco de Desenvolvimento. Não foi coincidência que todos os participantes vinham de países em desenvolvimento. Essa área do banco, a qual o Fundo de Carbono pertence, destina suas atividades somente nos países pobres ou emergentes. Teve uma palestra que explicou, por exemplo, o critério para decidir o tipo de projetos que cada país vai implementar. Eles podem ser desde eficiência energética e energia renovável (caso do Brasil) até infra-estrutura, educação ou combate à AIDS. Os tipos de financiamentos, estrutura e gestão dos projetos também foram apresentados. No final da semana estávamos entendendo o banco muito melhor do que quando chegamos em Frankfurt.

Até no Ministério Alemão de Cooperação Internacional, sediado em Bonn, nós fomos, para assistir uma palestra que explicava como o ministério trabalha com o KfW. Após a palestra, fomos para o Museu de História Moderna, que conta a história da Alemanha logo depois do final da segunda guerra mundial. O guia possuia um humor sutil e sabia muito sobre o tema. Interessante: a indústria alemã atual é muito moderna porque ao final da segunda guerra, quando o país estava dividido e ocupado, os países ocupantes - União Soviética, França, Ingraterra e EUA - levaram todos os maquinários para seus países. Só restou à Alemanha então, começar a reconstruir seu parque industrial e, como criaram tudo do novo, sua indústria ficou moderna. Até hoje.

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