sábado, 6 de novembro de 2010

Bogotá DC

Há mais ou menos dois anos, quando estava morando em Londres, mudei totalmente meu conceito sobre a Colômbia. Como a grande maioria dos brasileiros eu relacionava este país somente com pobreza, tráfico e violência. Estava muito enganado, preso em mais uma das armadilhas do preconceito. O que fez mudar minha imagem na capital da Inglaterra? Um livro de fotos de Medellin que uma amiga colombiana me mostrou. O fato de ter outros amigos colombianos (incrível como existiam pessoas deste país no curso de inglês que fiz) também ajudou a me esclarecer algumas coisas. Eles falavam que seu país era muito bonito, legal pra sair a noite e não tão violento como os jornais noticiavam.

Por sorte, tive a oportunidade de conhecer Bogotá há mais ou menos um mês. Foi sorte mesmo, fui convidado pelo trabalho a participar de um fórum na Republica Dominicana e, como não havia nenhum voo direto, acabei indo pela Avianca, empresa colombiana. Como o fórum começava na quarta e na terça era feriado, remarquei minha passagem para domingo e passei três dias andando pela capital colombiana e confirmando que fizera muito bem em mudar meu conceito sobre este país.

Fiquei hospedado em um albergue no centro da Candelária, um bairro muito pitoresco e agradável de Bogotá. Sua pequenas casas e prédios antigos, a maioria deles coloridos, fazem com que um passeio por essa região seja bem agradável. É na Candelária que está localizada a praça Bolívar e, bem em frente da praça, a catedral da cidade, cartão postal de Bogotá. Mas não é só isso, existem muitas outras coisas interessantes na Candelária como museus, praças, restaurantes...

Por falar em restaurantes, devo dizer que gostei muito da culinária colombiana, comi bastante arepas (salgado de milho recheado com queijo), ajiaco (sopa com vários tipos de batata, espiga de milho e frango desfiado) e um outro prato que não me lembro o nome, basicamente com vários tipos de carne, linguiças, arroz, feijão e abacate. Sim, eles comem abacate com tudo! Aprovei. Sem falar nos sucos, tinha um de frutas vermelhas que era uma delícia. Bom, minha mãe sempre fala, o turismo que eu mais gosto é o gastronômico, deve ser verdade.

Me marcou em Bogotá DC - maneira como os colombianos chamam sua capital - a dinâmica da cidade, maior do que eu imaginava. A cidade se espalha no eixo norte e sul, limitada a leste por montanhas e a oeste... talvez pela preguiça de se contruir para esta direção, acredito. A arquitetura é única, muitos prédios, mesmo os comerciais, são de tijolinho à vista, criando uma imagem única e original da cidade. As ruas se dividem em carreras e calles, e o mais legal é que eles não se importam em dar nomes de políticos e celebridades às ruas, mas sim números. As carreras cortam a cidade de norte a sul e as calles de leste a oeste. É muito fácil de se localizar e calcular a distância de um lugar ao outro, penso que toda cidade deveria adotar este sistema. O que adianta ter uma avenida chamada Afonso Pena? Eu mesmo nem sei quem ele foi.

Outra coisa legal de Bogotá é o sistema de transporte público. Há alguns anos eles criaram os corredores para os ônibus Transmilênio, todos vermelhos, novos e articulados. O projeto foi inspirado nos corredores de Curitiba, porém, no caso de Bogotá, foi o primeiro projeto de crédito de carbono no setor de transportes a ser registrado na ONU. A justificativa: conseguiram provar que com os corredores, os ônibus andariam mais uniformemente e, assim, economizariam combustível, reduzindo as emissões de gases efeito estufa.

A componente social também foi contemplada: em muitos lugares onde os corredores do Tranmilênio foi contruídos, locais públicos como praças, parques e ruas foram revitalizados, trazendo as pessoas de volta às ruas e criando uma intereção maior cidadão/cidade assim como cidadão/cidadão. Muito interessante, sinto falta disto em São Paulo.

Ainda no contexto social e da urbanização, é interessante destacar a abrupta queda da violência que a Colombia alcançou. Com todos colombianos que conversei, a resposta foi unânime: o país está agora muito mais seguro, fruto de um combate acirrado com as FARC e outras organizações criminosas. Andando pelas ruas de Bogotá eu não me senti ameaçado nenhuma vez; claro que evitei andar em locais desconhecidos pela noite, mas dava para perceber que as pessoas estavam tranquilas e sem medo. Fiquei surpreso ao saber que grande parte dos colombianos não gosta da Ingrid Bittencourt, política que estava concorrendo à presidência e foi sequestrada durante sua campanha eleitoral, ficando refém das FARC durante seis anos. O povo alega que ela foi longe demais e que era óbvio que ela seria sequestrada. Muitos querem ainda que ela perca sua cidadania colombiana, já que está refugiada, junto com sua família, na França.

Como me disseram os amigos de Londres, Bogotá tem uma vida noturna muito badalada. No última dia de minha estada nesta cidade fui para o norte, onde está localizada uma região cheia de casas noturnas, bares e restaurantes. É como se fosse uma Rua Agusta de Bogotá, com a diferença que é muito mais agradável de caminhar, as calçadas são largas, o bairro bonito.

Acabei indo (sozinho) em uma bar-balada-restaurante chamado Andrés Carne de Résl, uma das paradas obrigatórias em Bogotá. O dono do lugar é meio artista, meio empreendedor e o conceito é muito original: em um prédio de 5 andares, pode-se comer, beber e dançar. Nos andares mais baixos, estão as pessoas comendo. Nos mais alto, apenas dançando e bebendo. Nos intermediários, os três, tudo misturado! Sem falar que a música ambiente é uma só pro prédio todo e a decoração também é única. Teria sido muito legal caso eu estivesse com amigos. Os colombianos são, de maneira geral, muito simpáticos e receptivos, mas não muito neste bar. Devia ser a nata (nariz em pé) da sociedade colombiana. Mas tudo bem, toda cidade tem seu defeito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário