terça-feira, 9 de novembro de 2010

A República Dominicana de hoje e a da ditadura no passado

Depois de três dias em Bogotá acabei indo para Santo Domingo, capital da República Dominicana. Nunca imaginei que fosse conhecer este país, ainda mais tão cedo assim. O congresso para o qual eu havia sido convidado era sobre o mercado de carbono na America Latina e Caribe. Fiz uma apresentação no segundo dia do encontro sobre Programa de Atividades (PoA), um tipo de programa de crédito de carbono onde se pode agrupar vários pequenos projetos semelhantes. Estava um pouco ansioso no começo, nunca havia feito uma palestra pra tanta gente, ainda mais em inglês. Mas deu tudo certo, passei a mensagem.

Pra falar a verdade, eu estava a princípio mais interessado em descobrir como seria a vida neste país caribenho do que nas praias em si. A primeira impressão que tive ao chegar em Santo Domingo foi o calor. Ou melhor, o calor e a umidade, lembrando bastante Manaus, mas talvez não tão perto do inferno quanto a capital do Amazonas.

Tive sorte de ficar hospedado no mesmo hotel onde a conferência se realizou. Uma: o hotel era na beira-mar; apesar de ficar o dia todo infurnado nas salas de conferência, dava pra dar uma escapada até o saguão do hotel e olhar o mar (do lado de dentro, lá fora era muito quente!), parado e verde. Outra: ter um quarto no mesmo local da conferência serviu como ponto de apoio para trabalhar ou até descansar.

Na primeira noite, logo após minha chegada à ilha, pedi informação no guichê e fui até um restaurante pra tirar a barriga da miséria. No pequeno percurso (o restaurante ficava na mesma quadra do hotel) fui abordado mais ou menos 13 vezes por cafetões que queriam porque queriam que eu entrasse nas casas e conhecesse suas garotas. Incrível com eles reconhecem um gringo de longe. Eu não sabia que eu parecia um gringo. Será? Após me desvencilhar de todos eles, cheguei ao restaurante, comi um sanduíche sem graça e conversei um pouco com o garçom, que, segundo ele, havia atendido nosso presidente Lula há pouco tempo. Coitado do Lula se comeu o mesmo sanduíche que eu.

Fiquei impressionado com o tanto de SUVs que andam pelas ruas de Santo Domingo. A cada dois carros, um era grande e alto. Depois de averiguar um pouco descobri as razões: status (como não?) mas também lei da sobrevivência, já que as ruas não são muito boas e no período das chuvas parte delas ficam inundadas. Havia também muitos desses caminhões enormes que a gente só vê nos filmes americanos, como aquele no doFalcão.

Já que não conseguia aproveitar durante o dia, acabei saindo à noite e descobrindo um pouco como a cidade funcionava depois do horário comercial. Nos três dias do fórum acabei indo para bares ou restaurantes com um pessoal que conheci durante o dia. Isso foi bem legal, pessoas do continente todo, alguams eu já conhecia de outros eventos, a maioria não. Em um desses bares, depois de um cocktail organizado pelo evento, estava conversando com meus novos amigos quando, de repente, olho para o fundo do bar e vejo um caboclo, capacete na cuca, taco de beiseball na mão, rebatendo as bolinhas que uma máquina cuspia. Achei incrível, parecia que estava sonhando. Imaginem um bar no Brasil onde se pode jogar beiseball sozinho! Depois fiquei sabendo, este é o esporte mais difundido na República, eles até exportam jogadores pros Estados Unidos. Cada país com seu esporte.

Na útima noite, quando o congresso havia acabado, fomos comemorar em um restaurante requintado na Cidade Colonial. Esta parte da cidade é bem interessante, parece um forte com construções muito antigas, nunca havia visto algo parecido. Comemos muito bem e, pra variar, seguimos pra outro bar depois. Encarnamos o espírito espanhol e acabamos mundando pra outro bar ainda. Esta noite foi bem divertida.

Pra fechar a viagem com chave de ouro, fomos no sábado pra uma praia chamada Guayacanes, distante uma hora da capital. Quem nos levou foi uma local que tinha trabalhado no seminário e fez amizade com a gente. É claro, fomos de SUV para a praia, que era linda! A água do mar era verde azulada ou azul esverdeada, impossível definir. Ficamos a manhã e tarde toda conversando, dando rizada e até eu, que não sou muito fã de água, acabei entrando no mar. Valeu a pena!

***

Um pouco antes de embarcar para a Colômbia e República Dominicana, a Danusa me presenteou com mais um livro do Mario Vargas Llosa, A Festa do Bode. O momento não podia ser melhor, já que a história se passa na Santo Domingo do começo da década de 60 e ilustra quão terrível era vida sob a ditadura de Trujillo, presidente do país que acabou sendo assassinato em 1961.

Até o nome da cidada mudou durante o período da ditadura, tornando-se Capital Trujillo. O ditador era ferrenho, mandava matar seus companheiros por qualquer desconfiança, abusava de suas mulheres, humilhava o povo, e daí pra pior. Lendo o livro tive a impressão de que as ditaduras do Brasil ou Argentina foram fichinhas em comparação com a da República Dominicana.

Como na maioria dos livros do Vargas Llosa que li, a trama é muito bem elaborada. O personagem principal é uma mulher, filha de um alto funcionário durante o regime ditatorial, que volta para Santo Domingo após vários anos de refúgio nos Estados Unidos. Conforme a leitura vai se desenvolvendo, começamos a perceber os reais motivos da volta da personagem principal à terra natal. Paralelamente (característica do escritor) outra trama se desenvolve lentamente: um grupo contra o regime está prestes a atacar o carro do ditador para matá-lo e, talvez assim, acabar com o regime sangrento e injusto.

Foi interessante pelo menos começar a ler o livro antes de chegar em Santo Domingo, pude identificar algumas coisas como nome de praias ou bairros, clima e até a cerveja local, Presidente, que por sinal é muito boa. Talvez se o livro não possuísse tantos detalhes, a leitura fosse um pouco mais dinâmica, mas, de maneira geral, o livro ainda é muito bom e passa um belo panorama das dificuldades deste país durante sua ditadura. Provavelmente se a ditadura ainda estivesse presente, eu não teria conhecido a República Dominicana. Muito menos escrito estas linhas, é claro.

Um comentário:

  1. Cara, vi um filme esses dias de um jogador de beisebol da República Dominicana que é "exportado" para os EUA. Sofrida a vida do cara, numa cultura diferente, sem saber falar inglês, e aquela pressão do caralho pra ele jogar bem. Seu eu lembrar o nome te mando.

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