quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Salão do Automóvel: a retroalimentação do caos

Primeiro foi o Daniel, chegou em casa contando que havia visitado o Salão do Automóvel. Carro de 1000 cavalos, um Subaru fatiado no meio para as pessoas conhecerem o interior do mesmo, sem falar nas tradicionais marcas como Ferrari, Porsche e Masserati. Uma semana depois foi a vez dos meus pais. Meu pai, que havia tentando visitar o último Salão na edição anterior, mas não conseguiu por causa do trânsito, desta vez pôde ver as novidades automobilísticas. E levou minha mãe junto, que chegou em casa cheia de fotos na câmera, encantada com o estande da Mercedes.

Eu, como alguns de vocês já devem desconfiar, não tive vontade alguma de ver os mais novos e exorbitantes carros do momento. E não me arrependo disso. Porém, senti na pele os reflexos deste mega evento sem graça, que fez São Paulo parar por vários dias. O pior, eu não tinha nada a ver com isso.

Aconteceu que me apareceu uma viagem de última hora a trabalho para o Uruguai, que fez com que eu tivesse que ir até o aeroporto de Guarulhos, bem mais longe do usual Congonhas. Tudo bem. Como eu viajaria na segunda-feira, no meio do feriado do 2 de novembro, cheguei à conclusão de que o trajeto demoraria mais ou menos uma hora. Meu voo era às 20:20 e saí pontualmente às cinco da tarde do trabalho. A corrida começou bem, avenidas Vereador José Diniz e Ibirapuera uma beleza, vai demorar pouco mais de meia hora desta vez, pensei.

Chegando perto da 23, a surpresa: tudo parado, travado, engarrafado, congestionado. Dê o nome que quiser. O taxista sintonizou o rádio e, minuto após minuto, os boletins sobre o trânsito não paravam de cuspir informações negativas. Eu escutava o adjetivo moroso, qualificando nosso amigo trânsito, a cada segundo. O motorista, que conhecia São Paulo na palma da mão, fez mil desvios mas, mesmo assim, não conseguíamos fugir da aglomeração. Demoramos 2 horas e quarenta minuros até o aeroporto.

Lógico, perdi o voo.

A dinâmica funciona assim: muitas pessoas dependem do carro para irem ao trabalho, faculdade ou qualquer compromisso; as ruas, pontes e avenidas de São Paulo (e de qualquer outra cidade grande), que foram construídas há muitos anos, não suportam mais a infinita quantidade de automóveis; mesmo assim, os motoristas não abrem mão de utilizar o transporte individual porque o público é muito ruim; e, para finalizar, a cada dois anos, como os brasileiros gostam de carros, muitos deles visitam o Salão do Automóvel, onde ficam babando pelos novos modelos e idolatrando cada vez mais este meio de transporte que está se mostrando inviável nesta cidade. O resultado é que, apesar da falta de espaço nas vias, cada vez mais as concessionárias de automóveis estão enchendo o bolso de dinheiro.

Existe uma especulação de quando que São Paulo vai parar. Mas não está claro que já parou? Qual o verdadeiro sentido de parar? Conversando com taxistas a estatística é sempre a mesma: a cada dia São Paulo licencia 800 novos carros. Em São Paulo não se pode simplesmente sair a qualquer hora do dia se você tem que andar um percurso um pouco distante. Eu, por exemplo, quando saio de sexta-feira à noite, volto do trabalho, faço hora em casa (algumas horas, na verdade), e só depois, quando o horário de pico acabou, rumo para o ponto de ônibus. Se choveu ou está chovendo... Esquece. E tem gente pensando ainda que essa cidade só vai parar em 2017.

Mas é claro que o governo e administração pública têm sua parcela de culpa nesta história. Faltam ônibus, trens e metrôs. Como eu já citei acima, é difícil as pessoas acabarem com a dependência dos carros se o transporte público não é eficiente. O metrô comemora que em 2013 o bairro de Santo Amaro estará interligado com as outras linhas mais centrais. Mas era pra estar há muito tempo, era pra existir muito mais linhas e estações. Os ônibus deveriam ser muito melhores e passar com mais frequência nos pontos. E o governo pensando em trem bala pra ligar São Paulo ao Rio de Janeiro. Dá licença!

A solução? Talvez criar o Salão do Transporte Público, onde os cidadãos possam conferir as novidades em matéria de ônibus, trens, metrôs e vans. Poderiam daí, em vez de babar por carros que nunca vão ter, escolher algo que seria útil para todos. Outra ideia: que o Cristovam Buarque dos Transportes imite o da Educação e proponha uma lei (como estão dizendo por aí) onde os políticos e sua trupe sejam obrigados a utilizar somente transporte público, nada de carros. Radical? Pois um cidadão, como muitos em São Paulo, perder quatro horas todo dia no trânsito é muito mais radical pra mim.

Um comentário:

  1. Boa!! Fique feliz por ter uma bike irmão. Logo vc vai precisar dela mais do que imagina.

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