terça-feira, 10 de agosto de 2010

Eu, que gostava tanto daquele carro

A Bê fez a última curva do caminho e entrou na rua de casa. Como o prédio não ficava muito longe da esquina, percebi imediatamente que algo estranho acontecera. Sim, meu carro havia sido roubado!

É engraçado como nossa mente funciona; mesmo quando constatamos que algo ruim aconteceu, procuramos saídas para não acreditar no ocorrido, e muitas vezes é como se essas tentativas de escapatória nos levassem a ruas sem saída. Comigo não foi diferente. Pensei inicialmente que pudesse ter ido de carro para o trabalho... Não. Talvez houvesse deixado o carro na garagem, no lugar do carro do Daniel... Negativo. e se o Daniel tivesse pegado meu carro emprestado, por qualquer motivo? Muito improvável.

Confirmado, meu carro havia sido roubado. E olha que eu gostava tanto daquele carro.

Não pude acreditar que alguém tivesse conseguido furtar o meu único bem. Dias atrás havia deixado o carro em uma loja para que fosse instalada a famosa trava MUL-T-LOCK. Imaginava que com ela meu carro estaria seguro, mesmo estacionado na rua por vários dias seguidos. E eu dormia tranquilo: chave especial, sistema de trava do câmbio firmemente fixado no assoalho do veículo, necessidade de cartão do usuário para copiar a chave, etc. Mas eu aprendi, para os bandidos nada é empecilho. Aprendi da maneira mais amarga e ordinária possível: o carro não possuía seguro. Game Over.

Eu tinha planos com aquele carro. A princípio, quando o ganhei dos meus pais no início da faculdade, pensava em usá-lo até receber o diploma e depois trocar por outro, mais novo. Porém, o semestres letivos foram passando, me tornei engenheiro e não queria me desgrudar mais do esboço - apelido carinhosamente escolhido pelos amigos de Campo Grande, pelo fato do Clio não ter nenhum opcional.

Ele estava com 69.000 kilômetros rodados e eu já tinha feito a nova previsão de ficar com ele até os cem mil, pelo menos. O carro estava novinho ainda. E tem outra, fui me apegando à medida que novas viagens e travessias eram feitas com ele.

O último percurso foi feito para um bar de samba da Vila Madalena, um dia antes do furto. Houve também viagens épicas de Sorocaba para Campo Grande quando as férias do final de ano irrompiam, viagens estas que fiz a maioria das vezes sozinho. Fomos também, com o carro lotado, para o Festival de Inverno de Bonito; para Minas Gerais na casa do Daniel; Avaré com o pessoal da faculdade... Boas lembranças.

Na sexta-feira depois do trabalho estava em um happy-hour para a despedida de um colega do trabalho. Como tinha combinado com a Bê de sairmos à noite, ela parou no bar em que eu estava e tomamos umas cervejas. Depois rumamos para casa encontrar o Daniel, que também iria com a gente. Nosso plano era subir pro apartamento e logo depois ir até outro bar. Porém, assim que a Bê fez a última curva para chegar na rua de casa...

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