terça-feira, 21 de setembro de 2010

A energia do Brasil

Nesta última segunda fui a um evento da revista EXAME chamado Fórum Energia, muito bem organizado, palestras e debates interessantes e presença de personalidades importantes como o ministro de minas e energia - que fez sua palestra e logo depois abandonou o fórum -, presidente da EPE e outros pesos-pesados do setor energético brasileiro.

Em geral, a pauta mais marcante e discutida foi a nova capitalização da Petrobras (não tinha como não), onde a companhia pretende arrecadar mais de R$ 200 bi para poder dar continuidade nos investimentos e explorar os recém-descobertos poços de petróleo, principalmente os do pré-sal. Como objetivo intrínseco de cada debate, algumas rodas de discussão (uma pena que não todas elas) possuíam um debatedor contra a opinião geral. No caso do gigantismo da Petrobras, um comentário interessante foi tecido: O Brasil não correria grande risco de abandonar sua critividade em desenvolver energia limpa e renovável caso o petróleo passe a ser abundante e domine o setor energético brasileiro?

Mesmo com toda esta tematização, uma coisa não se discute: a necessidade de nossa estatal do petróleo ser capitalizada. Porém, muitas críticas foram feitas na maneira como o governo está conduzindo tal processo. A mudança do tipo de exploração do petróleo, que para os blocos do pré-sal deixará de ser concessão, se tornando modo partilha, ainda gera muitos comentários controversos pelos especialistas. Uma opinião interessante foi que o Brasil, ao realizar esta mudança, abandonará o clube de países como Estados Unidos, Noruega e Reino Unido para entrar no grupo do Irã, Arábia Saudita, Venezuela e Argélia, tidos como ditaduras e regimes instáveis.

Sem contar a cessão onerosa de alguns poços que a Petrobras incorporou do Estado por um preço relativamento baixo, criando assim a controvérsia de que para o contribuinte brasileiro, ainda mais aquele que não é acionista da estatal, o governo entregou de bandeija um ativo que possuía à uma empresa que a grande maioria dos cidadãos não é acionista. Ficou claro que o Brasil está querendo aumentar significativamente o controle na maior empresa brasileira e neste setor que se torna cada dia mais importante para a economia brasileira. Entretanto, segundo um analista presente no evento, os preços das ações da companhia estão pagando caro por essa intervenção política.

Fugindo um pouco do tema central do evento, foi discutido também outras fontes de energia como a fotovoltaica, etanol e hídrica. No caso da energia proveniente do Sol, a mensagem ficou clara: o preço desta tecnologia está caindo abruptamente. Talvez presenciaremos em apenas poucos anos o mesmo fenômemo que, embora ainda um pouco nebulos e inexplicável, está acontecendo com as eólicas no Brasil, ou seja, grande desenvolvimento de parques, empresas fabricantes de aerogeradores se instalando no nosso páis e o preço chegando a ser competitivo com os das PCHs.

Já o futuro do etanol e da energia elétrica gerada por este setor, através da queima do bagaço da cana-de-acúcar, não está tão promissor. O presidente da UNICA, união das usinas sucro-alcooleiras do Estado de São Paulo, presente no fórum, mencionou que os boom dos investimentos entre os anos 2006 e 2008 não continuaram nos anos seguintes. Caso esta tendência continue, haverá um decréscimo no consumo de etanol pela frota brasileira devido à escassez desta commodity.

No caso das PCHs, as pequenas centrais hidrelétricas com potência instalada de até 30 MW, a grande barreira enfrentada pelos empreendedores e companhias é o licensiamento ambiental. Falta de critério e demasiado poder atribuído a funcionários juniores, foram citados como os principais entraves. Exemplos engraçados porém preocupantes foram mencionados como o motivo para grandes atrasos na execução das pequenas hidrelétricas. O primeiro deles causado por uma questão indígena, que reivindicou que a cachoeira onde a PCH estava sendo instalada foi, há milhares de anos, palco do casamento entre o Sol e a lua, sendo assim este argumento acatado pelo orgão licenciador temporariamente; já o segundo caso, o reservatório de outra usina precisou ser desviado devido à presença de uma bromélia na área que seria inundada. Mesmo sendo um engenheiro ambiental, não posso deixar de comentar quão hilário são estes exemplos!

Outro fator que aumentou a qualidade do Fórum EXAME de Energia foi a presença do George Vidor, jornalista/economista da Globo News, que mediou muito bem os debates e apresentações. Sem contar que estava trajando sua gravata borboleta indefectível. Engraçado ver pessoalmente as celebridades que estamos acostumados a encontrar quase todos os dias na TV. Agora é só esperar o próximo fórom no ano que vem, tomara que tão bom quanto este.

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