Dias atrás aconteceu aqui em São Paulo o 5o Festival Latino Americano de São Paulo. Uma pena que fiquei sabendo do evento quando o mesmo já havia começado e, por isso, só consegui ver a apenas um filme: Dois irmãos, filme argentino do diretor Daniel Burman. O filme se passa tanto em Buenos Aires como uma pequena e pacata cidade balneário do Uruguai em um vai-e-vem constante. As idas e vindas são causadas pela dificuldade dos dois irmãos - um homem e uma mulher, ambos já adentrando na terceira idade - em se relacionar após a morte da mãe.
Enquanto a irmã é esperta, calculista e má, o irmão é apenas pacato e condescendente. E é este exatamente o problema da relação dos dois após o falecimento da matriarca. O irmão, por imposição da irmã - uma fajuta corretora de imóveis que tenta enriquer à custa de golpes aplicados em outros vendedores - acaba sendo convencido a se mudar para uma casinha no Uruguai que a irmã comprou há tempos e ainda nem terminou de pagar.
À primeira vista, a pequena cidade uruguaia será de extrema dificuldade para o irmão se adaptar, ainda mais sendo acostumado com a cosmopolita Buenos Aires. Porém, assim que os quadros do filme vão passando, nos surprendemos ao constatar que o irmão começa a se engajar em um grupo de teatro e passa a desfrutar da nova morada. Isso enfurece a maligna irmã, que, mavada que é, tenta prejudiar o irmão, falando pro diretor da peça de teatro que ele não é bom ator e, pro irmão, que o diretor não gostou de sua atuação. É revoltante presenciar tamanha maldade da irmã, que sempre está causando o caos à sua volta. Mais para o final do filme, mesmo que mal explicado e insuficiente, podemos compreender o motivo de tanta revolta e malícia da irmã.
O filme é sutil ao mostrar o envolvimento que o irmão começa a ter com o diretor do teatro. Ambos conversam sempre sobre viagens e andanças na Europa que já fizeram, onde frequentaram ambientes e meios sociais requintados e cultos, como bares e teatros. Fica claro, mas não escancarado, que os dois são homossexuais e passam a ter atração mútua. Cenas que comprovem tal fato, porém, ficam apenas na imaginação dos espectadores.
A possibilidade de uma nova relação amorosa, agora do lado da irmã, que conhece um potencial par idoso em uma festa, também é a força motivadora para que algumas transformações, para melhor, começam a ocorrer na personagem. O desfecho do filme ocorre quando a peça de teatro em que o irmão estava ensaiando é finalmente inaugurada, com uma ótima atuação de improvismo do ator. No final da peça, o ápice da atuação do irmão, a irmã chega ao teatro e presencia seu grandioso talento artístico. É um grande clichê, mas pelo menos um clichê bonito, que comove.
Quando os irmãos passam a se dar melhor, não é mais necessário as incontáveis travessias marinhas em que eles se submeteram após a morte da mãe. Logo depois do filme, ao folhear o catálogo do festival, vi que o Daniel Burman também dirigiu O Abraço Partido, outro filme muito bom que assisti há muito tempo no Cine Cultura em Campo Grande. Sem contar a trilha sonora de Dois Irmãos, maravilhosa e empolgante.
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