quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Como no entre-guerras

Durante a grande depressão do período do entre-guerras, houve um expressivo aumento na freqüência com que as pessoas visitavam as salas de cinema. A explicação é simples: os numerosos desempregados possuíam tempo livre demais, e como os preços para assistir aos filmes naquela época, diferente dos praticados hoje, eram muito baixos, ir ao cinema passou a ser um dos hobbys preferidos das famílias. E, mesmo minhas circunstâncias atuais diferindo ligeiramente da época citada (tempo de sobra e apesar dos altos preços, possuo ainda a mágica carteirinha de estudante), também tenho ido frequentemente ao cinema. Só na semana passada, estive três dias seguidos frente a frente com a telona para ver alguns filmes que gostei bastante.

O primeiro deles que assisti foi Uma prova de Amor, com a ótima Abigail Breslin e Cameron Diaz. Desde que eu assisti ao hilário Pequena Miss Sunshine, acabei virando fã da Abigail. Agora ela provou de uma vez por todas que é uma ótima atriz, já que sua atuação neste último filme, dramático, se deu de uma forma totalmente diferente em comparação com seu papel de estréia. Grandes responsabilidades e a amargura de conviver com a irmã mais velha que está à beira da morte tomaram o lugar daquela menina que apenas se preocupava em ganhar um concurso infantil de beleza. Gostei bastante também do artifício utilizado neste filme, que alterna o ponto de vista e dificuldades enfrentadas entre os principais atores, quando seus pensamentos ganham voz.

Em seguida fui ao cinema para assistir ao belíssimo A Partida, longa japonês ganhador do Oscar deste ano na categoria Melhor Filme Estrangeiro. Não foi por menos, o filme toca em um conflito, de maneira triste e cômica, vivenciado por muitas pessoas: os problemas de auto-afirmação criados quando a satisfação profissional vai de encontro à própria reputação. O jovem protagonista, que atrai o carisma da platéia com sua maneira simples de viver e encarar a vida, após perder a vaga como músico em uma orquestra japonesa, resolve se mudar com a namorada para uma pequena cidade do interior onde passou sua infância. Chegando lá, encontra um misterioso anúncio de emprego e resolve se candidatar, porém, não faz idéia do tipo de emprego que o aguarda, algo como preparador de corpos para rituais de despedidas. Apesar do espanto e aversão no primeiro momento com o novo ofício, ele vai se acostumando e até ganhando gosto pela rotina. O problema é, justamente, que as pessoas à sua volta, inclusive sua namorada, não vêem as coisas assim. O filme mostra muito da cultura japonesa ao retratar vários rituais pós-morte e a reação dos familiares. Sem falar no final, que emociona até aos telespectadores mais durões.

No terceiro dia seguido, fui conferir o muito comentado Salve Geral, que mostra como pano de fundo, os ataques do PCC ocorridos no Estado de São Paulo. Entretanto, o enfoque central fica na relação mãe e filho, e tudo o que aquela é capaz de fazer para o último, mesmo este estando errado. È outro filme que explora com alarde a violência brasileira nas ruas, penitenciárias e, também, por que não, a negociação entre Estado e facções criminosas. Infelizmente, este é o filme que vai representar o Brasil na próxima edição do Oscar, e, consequentemente, é o tipo de produção que é assistida pelos estrangeiros. Acho uma pena que este é o tipo de filme que exporta nossas produções cinematográficas, reforçando assim a visão de que no Brasil só existe violência e favelas. Já passou da hora de sairmos do tema-comum da violência e enfatizar filmes que mostram a criatividade do brasileiro, como por exemplo, O Homem que copiava ou O cheiro do ralo, para citar alguns.

Não é só no cinema que tenho conferido as novidades cinematográficas. Agora que mudei para uma casa (fato que quero abordar em outro post) e meu computador está em meu quarto, tenho assistido aos filmes que estão no PC com muito mais facilidade. Não preciso mais passar o arquivo para um pen drive, descarregar no laptop, e, finalmente, liga-lo à TV para poder assistir ao filme. Como o monitor, mesmo que não muito grande, fica perto da cama, fica tranqüilo de assistir pelo computador mesmo.

Nos últimos dias assisti O casamento Sírio e o alemão O Complexo Baader-Meinhof. Fazia já muito tempo que eu esperava pra conferir o primeiro, mas valeu a pena esperar! O filme mostra, no estilo kafkiano, as dificuldades de uma noiva para cruzar a fronteira entre Israel e Síria e se casar com seu pretendente, um apresentador de TV que nunca viu pessoalmente. Interessante por mostrar os problemas e burocracia entre os países árabes da região e Israel, e não menos por revelar alguns fragmentos da cultura árabe, como o casamento marcado, vivência no exílio em busca de outras oportunidades e xenofobia. Já o filme alemão - que eu da mesma maneira esperei bastante pra ver, após me deparar inúmeras vezes com seus cartazes avermelhados no metrô de Londres -, retrata a história, de sua ascensão ao trágico fim, do grupo alemão ocidental e denominado terrorista Baader-Meinhof, ou apenas RAF. O filme tem quase duas horas e meia de duração, mas, exatamente como Munique, é condensado, inspirados em fatos reais e ao acabar, nos dá sensação de pouco. Os dois filmes se assemelham também pelo fato de mostrar atentados terroristas, sendo os do grupo Baader-Meinhof devido às injustiças sociais espalhadas pelo mundo e, principalmente, a condescendência dos regimes; já o filme Munique, tem como eixo central os ataques, ou melhor, retaliações, entre o Mossad e grupos palestinos. O fechamento de O Complexo Baader-Meinhof é inquietante, mostra os principais integrantes do grupo encontrados mortos em suas celas, supostamente vítimas do suicídio, porém, deixa no ar se eles realmente se mataram ou foram assassinados pela polícia repressora.

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