segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O Muro de Berlim

Acabei de ler o ótimo e completo Muro de Berlim - Um mundo dividido 1961-1989, de Frederick Taylor, historiador inglês que morou em Berlim em sua infância. Em relação à época nazista de Hitler e Segunda Guerra Mundial, as décadas em que Berlim ficou dividida pelo Muro sempre me interessaram muito mais. O livro aborda a história do bloqueiro sob vários apectos, dentre eles político, cultural, social, histórias do cotidiano.

Uma vez dada a vitória dos Aliados sobre a Alemanha nazista, Berlim ficou dividida em quatro setores: russo, americano, inglês e francês. Interessante que, logo após o inimigo número um ser derrotado, uma nova ordem global foi estabelecida automaticamente, polarizando, novamente, o mundo em duas frentes, a comunista e a capitalista. O mais curioso é que não somente em um país, mas em uma única cidade, foi imprimida as duas facções antagônicas, mudando bruscamente a vida de milhares de pessoas.

Não demorou muito para a população da Alemanha e Berlim perceberem que a vida era mais agradável e grata na parte ocidental. Sendo assim, começou o processo de fuga em massa de moradores da parte oriental para o Oeste. Existiam também aqueles que, chamados de atravessadores, continuavam morando em Berlim Oriental - mais barata e culturalmente mais ativa - e trabalhando na parte ocidental, onde se ganhava muito mais. A única solução encontrada para a Alemanha Oriental de Ulbricht, e apoiada pela União Soviética de Khrushchev, foi a construção do famoso muro.

O livro narra detalhadamente a engenhosidade de Ulbricht em convencer seus chefes soviéticos de que o muro, apesar de render uma imagem negativa do comunismo aos olhos do mundo, era a melhor ou única solução para estancar a hemorragia de pessoas sentido leste-oeste. Havia também grandes atritos entre o bloco comunista e a administração do presidente Kennedy, dos EUA, marcando o período instável da Guerra Fria.

Parece inacreditável, mas a cerca de contenção de arame farpado, erigida anteriormente ao muro própriamente dito, foi concluída em apenas uma madrugada de agosto de 1961. Alemães orientais e ocidentais acordaram em um domingo e se depararam com a cerca e vários policiais orientais protegendo-a. Parecia sonho, mas não era. Também um tanto quanto atípica foi a reação do bloco ocidental à contrução do bloqueio, por parte dos comunistas. Na realidade, o que houve foi a falta de ação dos países ocidentais, uns por temerem a erupção de uma nova guerra, desta vez nuclear, outros por estarem ocupados com assuntos mais importantes, como a França em relação à independência da Argélia. Aliás, apesar de violar a vida e autonomia de todos berlinenses, a cerca, como ainda era chamada, não estava construída em território ocidental.

Gostei muito da descrição de casos famosos que ocorreram devido à construção do Muro, como por exemplo pessoas que se atiravam de prédios ao redor da cerca para passar para o lado ocidental; grupos de estudantes ocidentais que ajudavam seus conterrâneos orientais a passar para o outro lado com a ajuda de passaportes falsos ou construção de túneis; o do soldado oriental que resolveu pular para o lado ocidental e foi clicado por um fotógrafo exatamente quando o fazia, tendo a foto se tornado famosa imediatamente. Sem mencionar dezenas de pessoas que morreram tentando atravessar a fronteiro nos quase 30 anos de sua existência.

Os anos foram passando e, apesar de muitas pessoas acreditarem, no começo, que a cerca de arame teria um caráter provisório, logo ela foi substituída pelo verdadeiro muro, fortemente construído e isolado, que se tornava cada vez mais instransponível. Também com o passar dos anos outros aspectos foram mudando. O bloco comunista começava a se deparar com vários problemas de ordem econômica e foi se enfraquecendo. Houve também um movimento de afastamento das políticas pregadas por Stalin, culminando na mudança do nome da rua Stalinalee para Karl-Marxalle, por exemplo. O mundo ocidental, por sua vez, começou a empregar um política de convergência para o leste, tentando criar mais humanidade, apesar da distinta divisão política entre os dois lados, para o povo alemão, Berlim principalmente. A Alemanha Oriental começou a receber maciços empréstimos de bancos ocidentais. Porém, o problema financeiro não era resolvido.

Em meados da década de 80 a situação ficara insustentável para o bloco comunista. Entretanto, a primeira rachadura não apareceu exatamente no Muro de Berlim, mas sim na fronteira da Hungria com a Áustria. Antes também controlada rigidamente pela Hungria comunista, a fronteira começou a ficar mais permissiva, devido à União Soviética quase em colapso. Milhares de alemães viajaram então para a Hungria com o objetivo de atravessar para a Austria e, de lá, voar para a Alemanha ou Berlim Ocidental.

Não passou muito tempo e a própria RDA começou a permitir que seus cidadãos orientais pudessem atravessar para o lado ocidental, através de vistos concedidos no momento da travessia. Não havia mais o que fazer. Em novembro de 1989, exatos 28 anos após sua construção, o Muro de Berlim começou a ser derrubado. Deu-se então um movimento e política de reestruturação de Berlim e Alemanha Oriental, que possuim sistemas produtivos muito mais atrasados e ineficazes que o ocidente. Alguns dizem que até hoje a diferença é discrepante. A lado positivo é que, após longos anos tempestivos, alemães e berlinenses puderem novamente se reunificar e compor uma só nação.

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