domingo, 27 de fevereiro de 2011

Os homens do Real

Recomendado por dois amigos, Presunto e Kenny, li o ótimo 3000 Dias no Bunker, de Guilherme Fiuza. O autor narra, de maneira eletrizante e dinâmica, a história da criação do Plano Real, responsável por reduzir a inflação do Brasil a patamares muito baixos. E vai além da criação, acompanhando a história deste plano ousado 10 anos depois de sua implementação, os três mil dias do título.

A história começa quando Fernando Henrique torna-se ministro da Fazenda no governo de Itamar Franco. Diferente do que eu pensava, o Plano Real começou a ser desenvolvido antes mesmo de FHC virar presidente. Para tirar a ideia do papel e implementá-la no mundo real, o antigo presidente contou com o apoio, principalmente, de dois economistas: Pedro Malan, na época ministro da Fazenda, e Gustavo Franco, que chegou a ser presidente do Banco Central.

Segundo o livro, se uma pessoa foi essencial para a criação e sustentação da nova moeda brasileira, essa pessoa só pode ser Gustavo Franco. Caráter central do bunker, Gustavo foi recomendado por Pedro Malan e convidado por FHC para tocar o audacioso plano da estabilização da inflação. Pouco antes de integrar a restrita equipe de economistas, Gustavo tinha acabado seu doutorado nos Estados Unidos. O tema: políticas de redução de inflação. O convite não poderia ter vindo em melhor hora.

Porém, uma coisa é estudar e encontrar a solução nos papéis; outra é achar o X da equação na vida real, ainda mais em um país como o Brasil pré-Plano Real, onde os juros haviam deixado o país de ponta cabeça. O tripé do Plano Real consistiu em reduzir os gastos do governo, âncora cambial e criação de nova moeda, para acabar com o estígma do aumento de preços. E como o Brasil gastava! O livro narra que vários bancos do estado funcionavam como ralos de dinheiro, que puxavam recursos da esfera federal para aumentar o orçamento dos estados. Muitas empresas estatais que não saíam do vermelho também foram privatizadas, apesar das críticas sofridas pelo governo.

A âncora cambial teve o objetivo de forçar a valorização do Real frente ao dólar, para que os brasileiros passassem a importar mais e, assim, diminuir a demanda por produtos nacionais, reduzindo a inflação. Logo após o Plano Real ter sido implementado, Gustavo Franco virou o herói do país. Era reconhecido até no avião por aeromoças e outros viajantes, que lhe davam parabéns e até pediam autógrafos. O plano estava dando certo. A vida dos brasileiros havia ficado muito mais estável.

Nem tudo são flores. Crise asiática, mexicana, apagão, desconfiança dos brasileiros e investidores, o Brasil passou por várias instabilidades que balançaram a credibilidade do Real. E a equipe do Bunker sofreu. Quando investidores começaram a tirar o dinheiro do Brasil, temendo que o país não estava tão seguro e sólido, o Banco Central decidiu elevar drasticamente os juros, para que o investimento no país passasse a ser mais atrativo. Essa manobra é muito criticada até hoje, alguns consideram que ela foi responsável por quase quebrar o Brasil.

Foi interessante ler este livro agora, já que comecei uma pós-graduação em finanças e estou estudando economia. Na última aula, o professor comentou brevemente sobre o Plano Real. Porém, de maneira não muito entusiástica. Ele argumentou que o Brasil não foi radical o suficiente para cortar os gastos mais incisivamente para acabar de vez com a inflação, e que o Plano se baseou basicamente na âncora cambial. A âncora fez com que a conta corrente brasileira se deteriorasse, já que as pessoas passaram a importar muito mais. Segundo o professor, o radical aumento dos juros se fez necessário para cobrir o rombo que ficava cada vez maior.

Outro ponto comum do professor de economia com o livro de Guilherme Fiuza é o constante atrito e divergências entre economistas ditos desenvolvimentistas e ortodoxos, sendo a pricipal corrente dos primeiros a UNICAMP em Campinas e do segundo grupo a PUC-Rio. A equipe que bolou e implementou o plano real, assim como o professor da pós, são os ortodoxos, que acreditam na liberalização da economia e pouca intervenção do Estado. Já os desenvolvimentistas, tendo como o atual ministro da Fazenda, Guido Mantega, um grande exemplo, se baseiam no protecionismo do estado, subsídios para produtores e exportadores, etc.

Apesar de muitas críticas ao Plano Real, uma delas as inúmeras referências de Lula sobre a "herança maldita" deixada por FHC, uma coisa é consenso: o Brasil se tornou muito mais estável depois da criação do Real. Temos hoje uma moeda que, apesar da recente projeção de alta da inflação, vivemos com muito mais segurança econômia e bem-estar, nada comparado ao tempo de turbulências quando a inflação chegou a bater quase 100% ao mês. Coisa de doido.

Como comentei acima, o texto de Fiuza é muito saboroso e ágil, algo que se fosse escrito de outra maneira, poderia perder seu encanto. Quando estava lendo o livro, achei a narrativa, investigativa e cheia de detalhes, bem parecida com várias reportagens que leio na revista piauí. Depois descobri, o Guilherme Fiuza é um dos jornalistas da revista! Fiquei sabendo que ele escreveu também Meu nome não é Johnny e a biografia do Bussunda. Apesar de serem temas bem variados, tenho certeza que esses dois outros livros também vão valer a pena.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O mínimo, a oposição e o palhaço

Dilma teve sua primeira significativa vitória no governo: impediu que o novo reajuste do salário mínimo passasse a marca dos R$ 435,00. Não foi difícil perceber que com a herança maldita deixada pelo seu padrinho político, é preciso fechar vários buracos da metralhada caixa d'água de gastos públicos. Já a oposição (leia-se PSDB), através de uma atitude medíocre e mesquinha, fez lobby para que o piso do salário brasileiro fosse reajustado para 600 reais. Coisa que não teria feito caso estivesse no governo. Somente mais uma prova de que nossos políticos não governam para um Brasil grande, mas sim para conseguirem, o mais rápido possível, voltar ao trono (ou continuar no) e mamar nas tetas do governo, às custas do contribuinte. Para finalizar, o palhaço mais inteligente do Brasil se confundiu e acabou votando errado. Errado quer dizer, neste contexo, diferentemente do que seu partido havia soprado em sua orelha, já que Tiririca não tem capacidade de saber o que quer. Será que o grande palhaço, além de analfabeto, estaria ficando surdo também?

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A presidenta é dementa

Esse é o tipo de texto em que o título fala por si só. Não consigo entender o que leva uma pessoa a querer mudar o gênero de uma palavra sem gênero! Compreendo a estratégia política e social de aumentar a participação das mulheres nos cargos-chave do governo, mas o lance da presidenta é inexplicável pra mim.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

No burburinho

Hoje fui até o centro de São Paulo, mais especificamente na Rua Santa Efigênia. Acertou a maioria que pensou que fui por causa do meu computador ou alguma bugiganga eletrônica. Na verdade os dois, fui comprar uma HP12C (comecei a pós em finanças!) e um CD de instalação do Windows, já que o meu estava pifando. Detalhes eletro-eletrônicos à parte, foi um dia diferente e andar pelo centro da cidade sempre me mostra uma realidade diferente da que vivencio no meu cotidiano.

Primeiro eu peguei um ônibus do lado da minha casa até o Shopping Metrô Santa Cruz. Enchi a barriga em uma padaria ao lado do shopping (mudei de ideia e não quis comer na praça de alimentação do centro de compras) e tomei o comedor de terra até a estação São Bento, no coração de São Paulo. Cruzando a ponte antes de chegar na Santa Efigênia, um monte de vendedores ambulantes oferecendo de tudo, óculos, CDs clandestinos, cavalinhos de plástico que ficam rodeando o maste, pen-drives, e por aí vai. Ainda na ponte, vi um imenso grafite d'Osgemeos em um prédio abaixo, muito bacana!

Acho muito interessante esses lugares onde diferentes pessoas se amontoam e durante o dia trocam mercadorias, conversas, olhares, sorrisos, desavenças e experiências. Não que eu gostaria de morar no formigueiro que é o centro da cidade, mas uma excursão de vez em quando me faz feliz e observador. Existem também outros recantos na capital paulista muito diferente de onde moro - Chácara Santo Antonio, zona sul - e de lugares que frequento geralmente - Vila Madalena, Avenida Paulista, Augusta, Vila Mariana, reuniões na Faria Lima.

Por exemplo, fiquei impressionado esses dias indo para o churrasco de despedida do Fefinha, amigo da faculdade que foi trabalhar em Alcântara. Antes de chegar em sua casa, na zona leste, me deparei com esses enormes elevados para ônibus com uma proteção amarela na lateral. Nem sequer imaginava a existância dessas vias, conhecidas como Fura-Fila - para quem não conseguiu visualizar, é um corredor enorme (e suspenso) de ônibus.

Voltando ao centro, é engraçado como muitas pessoas acabam evitando este reduto e quase nunca por ele passam. Uma vez, conversando com uma colega colombiana na República Dominica, ela me falou que quando veio para um congresso em São Paulo, o único lugar que ela passeou foi no centro. E realmente, existem várias coisas legais para conhecer perto da Sé, Anhangabaú, São Bento e seus vizinhos.

Nas galerias da Santa Efigênia, o de sempre: pechinchar para conseguir um bom preço. Na primeira loja a famosa calculadora custava algo como 230 reais. Depois consegui por R$ 160,00 e, finalmente, por dez reais mais barato que o último preço. Em dinheiro, é claro. Vendedores de todas as nacionalidades ficam em boxes minúsculos oferecendo seus produtos e negociando com os clientes, acho que eles adoram isso. Depois das compras parei pra tomar um suco de laranja em uma padaria, estava muito calor e o suco foi a salvação.

Agora estou aqui em casa, já reinstalei o Windows e a internet voltou a funcionar normalmente. Sem falar que o sistema está muito mais veloz agora. A HP eu não testei ainda, sua vez chegará amanhã, na hora de estudar para a pós. Vou ver se volto com mais frequência no centro da cidade. Nem que for pra tomar um suco de laranja e ver as pessoas andando como formigas.

Impossible Germany

Em breve realizarei um pequeno sonho que sempre tive: irei trabalhar e fazer um treinamento em Frankfurt, sede do KfW. Meu sonho, na verdade, é trabalhar por mais tempo, pelo menos 6 meses ou um ano, mas penso que os dois meses que passarei nesta cidade serão um bom começo. Voarei no dia 19 de abril e com volta marcada para 11 de junho, logo após a semana de treinamento do Fundo de Carbono para as pessoas que trabalham fora da Alemanha. Como podem ver, tirei o maior palitinho da sorte e ficarei algumas semana a mais.

Tomei a notícia de supetão, em uma reunião com a Karin, minha chefe da Alemanha. Ela havia conversado com o Jürgen, meu chefe de Brasília, e os dois acharam que seria legal eu experienciar um pouco mais o banco onde trabalho. Porém, quando ela me contou seus planos para mim, ainda faltava a aprovação final do chefe-mor do fundo. Fiquei um pouco ansioso, até que o e-mail de confirmação finalmente chegou. Ufa!

A ideia é que eu continue com as tarefas diárias que desempenho no Brasil mas trabalhe também com outras pessoas do time na Alemanha. A área principal vai ser Portfolio Management, para me capacitar nas operações depois que um projeto é adquirido (atualmente eu só trabalho com aquisição). Tratarei bastante também com colegas de outras áreas como gestão de fundos e comercialização. Se eu entendi certo, será um mini programa de trainee informal. Estou muito animado.

Fora o lado profissional, será também uma ótima oportunidade para conhecer melhor Frankfurt, outras cidades da Alemanha e talvez, por que não?, outros países. Já escrevi neste blog um pouco sobre Frankfurt quando estive, no ano passado, na semana de treinamento do departamento. A cidade é bem agradável, bonita e pequena. Apesar de ter passado duas semanas na capital financeira da Europa, ainda ficaram lugares que eu gostaria de ter conhecido mas não consegui, como os parques Palmengarten e Grüneburgpark, ambos do lado do KfW. Sem falar em maravilhas como as cervejas alemãs, kebabs, salsichões, restaurantes internacionas acessíveis, ônibus e metrô que funcionam por todos os lados, etc. Quero ver também se consigo comprar um bicicleta pra me locomover com mais flexibilidade.

Com certeza quero passar pelo menos um final de semana em Berlin e outro em Munique. A primeira cidade porque é uma das que mais me fascinou até hoje (se não a que mais), a segunda porque ainda não a conheço e todos falam muito bem dela. Vou ver se consigo fazer uma visita rápida pros amigos e família hospedeira da Suíça. Vão faltar finais de semana pra tanta coisa que quero fazer! Estou achando que estes dois meses serão bem intensos e produtivos. Melhor assim, ich freue mich!

Sobre o título deste texto: é uma das músicas que mais gosto do Wilco, uma grande banda de Chicago que escuto sempre. Eu não me ligo muito na letra dela, mas sempre relaciono, por causa do nome, com a Alemanha. Foi assim quando passei um mês em Berlin; um pouco antes, quando fiquei sabendo que havia ganhado a bolsa para esta cidade; quando, agora, descobri que iria, mais uma vez, passar alguns meses neste país que tanto me fascina e impressiona.