Após anos como chefe de departamento do curso de Economia de uma universidade de Bangladesh, Muhammad Yunus percebeu que estava no caminho errado. Trancafiado em uma sala, ensinava avançados conceitos de economia para seus alunos; fora da sala, a pobreza reinava e suas teorias não contribuiam com nada para a diminuição deste mal. Era preciso fazer algo, era preciso migrar da teoria para a prática.
E foi assim que a semente do Banco Grammen foi plantada, visando ajudar os mais necessitados de seu país, os pobres dos pobres. Mas para o banco se tornar uma árvore, forte e cheia de frutos, muito esforço foi despreendido e, como esperado, muitas vezes Yunus nadou contra a maré (bancos, governo, amigos, políticos). Porém conseguiu chegar em seu porto seguro tão sonhado após muitas braçadas. Tudo isso é narrado de forma muito fascinante em seu livro O Banqueiro dos Pobres.
O conceito do banco funciona mais ou menos assim: emprestar pequenas somas de dinheiro para que pessoas de baixíssima renda possam desenvolver alguma tarefa autônoma, seja ela a confecção e venda de tapetes, uma pequena mercearia, serviços de sapataria etc. Nenhuma garantia é requerida e, para o assombro da maioria, ainda mais daqueles que desde o começo do projeto piloto qualificaram Muhammad como louco, os pobres se revelaram belos pagadores. A inadimplência do Banco Grammen é de mais ou menos 2%. Isso em um país onde os mais ricos são conhecidos por tomarem empréstimos milionários e não pagarem. Sensasional!
Para funcionar tão bem assim, Yunus foi sensível o suficiente para perceber que seu banco precisava operar com regras muito específicas. A maioria dos tomadores de empréstimo, quer dizer, tomadoras, são mulheres. Os homens dever ficar fora do negócio e não podem até mesmo tomar conta do dinheiro. É possível imaginar tamanha a resistência deste modelo em um país islâmico. Porém, após os primeiros casos de sucesso, o modelo decolou.
Outras exigências são que os filhos da família precisam estar matriculados na escola e frequentando a mesma; os empréstimos são desenbolsados individualmente mas para um grupo de cada aldeia ou bairro, onde cada tomadora tem a função de zelar pela boa prática da outra; caso a soma total mais os (pequenos) juros seja paga, a cliente tem a opção de realizar outro empréstimo, desta vez um pouco maior, para aprimorar seu micro-negócio.
A ideia de tão certo que seu modus operandi foi replicado em vários países do mundo, incluindo o Brasil e até mesmo países desenvolvidos como Canadá e Noruega. É claro que em cada país, onde as condições sociais, culturais e financeiras variam, o banco precisa trabalhar de maneira única, porém o núcleo do sistema continua o mesmo.
Uma das coisas mais interessantes que achei do livro e do Banco Grammen é a dinâmica de trabalho. As agências existem mas os funcionários são instigados a trabalhar, em sua maior parte do tempo, nas aldeias, conversando com potenciais clientes, explicando a maneira como a instituição funciona e convencendo-os de que o banco pode mudar para melhor suas vidas. E realmente muda, como é explicitado durante o livro.
Achei bem legal que o banco em que eu trabalho, o KfW (Banco de Desenvolvimento da Alemanha), possui uma linha de financiamento com juros reduzidos com o Banco Grammen. Meu chefe comentou também que o Yunus já foi várias vezes a Frankfurt realizar palestras e participar de rodas de discussão. Legal saber que existe outro modelo de instituição financeira, original e criativo, que auxilia os mais pobres a subir o primeiro degrau do desenvolvimento humano.
domingo, 16 de janeiro de 2011
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Mudanças, bem devagar, mas as mudanças estão acontecendo. É isso que permite a existência dos "otimistas desesperados". O poblema é que agora já não temos mais muito tempo. A curiosidade de ver o desenrolar do futuro é muito grande, mas vamos ter paciência, sem atropelos!!!
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