sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Vermisst
A foto daquele português me marcou profundamente, da primeira a última vez que eu a vi. E não foram poucas as vezes, até porque fiquei perambulando aproximadamente por um mês naquela Berlim fria que me congelava até os ossos e, durante este interlúdio, nada dos angustiantes cartazes sumirem de repente, comprovando que algo de bom havia acontecido, atingindo o objetivo de sua existência. Desaparecido, diziam os vários cartazes confeccionados em duas versões e espalhados pelos principais pontos da capital alemã. Um rapaz com um sorriso comovente estampado no rosto, com a vida inteira pela frente: devia ter seus 25 anos. Acho que foi por esses motivos que fiquei tão abalado, impressionado, às vezes até demasiadamente incomodado e curioso. Digo curioso porque logo após eu avistar um desses suplicantes avisos, ficava com várias perguntas na minha cabeça que demoravam a sair, ou melhor, a se acalmarem ou ficarem latentes, para logo no meu próximo corriqueiro encontro com um desses cartazes, rapidamente voltarem violentamente a aturdir meu pensamento. O que teria sucedido? Como é que uma pessoa desaparece assim? O que ele fazia em Berlim? Teria sido a mais nova vítima dos covardes atos de radicais nacionalistas? Ou talvez se envolveu em uma briga besta e acabou pagando caro demais pelo seu deslize de conduta. Nunca vou saber. E o pior, como já disse, na data em que embarquei de volta para o Brasil, os cartazes continuavam lá, tentando resgatar o português de algum lugar misterioso, desconhecido a todos berlinenses.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
O Mundo é Plano: belos exemplos e a hipocrisia de Tom
Há mais ou menos dois anos meu irmão, recomendado por um professor do cursinho, comprou dois espessos livros que contavam a história da humanidade: Era dos Extremos e O Mundo é Plano. O primeiro, do escritor Eric Hobsbawm, discorre sobre a história do século XX, começando com a Primeira Guerra Mundial e progredindo lentamente até a queda do muro de Berlin, precedendo a falência da União Soviética. Já o livro de Thomas Friedman, relata um fenômeno mais recente e impactante nos dias atuais, a globalização, que nada mais é do que, nas palavras do autor, o achatamento e, consequentemente, planificação do mundo. É deste livro que vou falar aqui.
Uma coisa não se pode dizer a respeito do Mundo é Plano: falta de pesquisa ou coleta de dados para a concepção deste livro. O escritor entrevistou inúmeras pessoas, viajou para diversos países, leu sobre temas relevantes à sua pesquisa, conheceu empresas e seus empreendedores, tudo isso mencionado no decorrer do livro. Suas visitas a empresas de outsourcing indianas contribuíram para que o escritor entendesse e passasse para o leitor como que a globalização está modificando as relações do nosso cotidiano. Porém, o excesso de exemplos indianos, mesmo que surpreendentes, e a lógica simplista ao lidar com terrorismo e comportamento dos países árabes, faz com que o livro perca bastante de seu brilho e destaque.
Dentre os exemplos citados, me recordo de alguns deles, os mais marcantes e incomuns. Um deles é a história de uma mineradora falida no Canadá que foi comprada por um empresário, e para que a mesma saísse dos números vermelhos, foi lançado um desafio mundial através da internet com uma ótima recompensa aos ganhadores. Como o maior problema da mineradora era saber a localização exata dos minérios, o desafio consistia em disponibilizar aos interessados (empresas ou pesquisadores) todos os mapas e dados geológicos da mineradora para que palpites da localização dos pacotes de minérios fossem dados. Através de softwares que utilizavam modelos 3-D , uma empresa australiana de consultoria em geologia acertou em cheio e levou pra casa uma quantia enorme de dinheiro. Este exemplo provou que era possível utilizar meios de comunicação como a internet para que melhores resultados fossem obtidos. A grandiosidade deste ato é ainda maior quando lembrado que o ramo da mineração é muito fechado e conservador, e esta experiência esbanjou em inovação e criatividade.
Já o Wall Mart, maior rede de varejo do mundo, usou também a disponibilidade de novas tecnologias para a introdução do método Just in Time em sua cadeia de suprimentos, reduzindo assim drasticamente o custo dos transportes e operações. Com um rastreamento eficaz, era possível saber que uma mercadoria havia sido comprada logo após o pagamento da mesma. O sistema mandava então uma mensagem ao centro de distribuição mais próximo para que o produto fosse reposto imediatamente. Essa ferramenta possibilitou também analisar e classificar as preferências dos clientes e antecipar futuras demandas, visto que todo produto comprado e suas especificações como marca, cor ou tamanho, era registrado no sistema da cadeia de suprimentos.
Foi interessante ler o livro e ver que alguns relatos, na época em que foram escritos, não passavam de esboços ou início do desenvolvimento de algum produto ou serviço. Foram os casos do Google Earth e da montadora indiana Tata. O Google havia na época acabado de comprar uma empresa de imagens de satélites e os engenheiros da Tata lutavam para desenvolver uma liga de aço apropriada para ser usada num carro com concepção de baixíssimo custo. Hoje, apenas alguns anos após esses registros, o carro super econômico da Tata já é uma realidade e sucesso e o Google Earth está mais presente em nossas vidas cada dia que passa.
Entretanto, na hora de descrever sobre o meio ambiente e a dinâmica das guerras e redes de terrorismo no mundo globalizado, Tom peca devido seu reducionismo simplista e argumentação hipócrita, sem contar que apóia a invasão do Iraque pelas tropas americanas. Ao citar uma de suas teorias, a de que bem estruturadas e desenvolvidas cadeias de suprimentos entre países poderiam frear a eclosão de uma guerra, por causa da importância comercial entre estes países, o escritor sequer menciona que com ou sem cadeia de suprimento, seu país já começou muitas das principais guerras e conflitos da história. É como se não existisse tropas no Iraque e Afeganistão, impossível não atentar a um fato destas proporções, revelando assim mais um exemplo do americano pós 11 de setembro com orgulho ferido.
O erro está em considerar todos os ataques terroristas como atrocidades ou barbáries (concordo plenamente!) sem se perguntar o real motivo de suas causas. Na verdade, o motivo colocado por Friedman é que a inveja da prosperidade dos países ricos, aliada com o sistema repressor em que muitos dos terroristas e homens-bomba vivem, acabam por gerar este comportamento radical. Será que ele não tem conhecimento das atrocidades e manipulações que seu governo já cometeu em vários países por causa de interesses específicos? Tal comportamento não alimenta também o ódio de muitos oprimidos? Benazir Bhutto, em seu livro Reconciliação, cita diversos exemplos da interesseira conduta que os EUA tomaram em relação a países árabes com o intuito de desestabilizar regimes, para que ganhassem presença e poder na região, porém afetando a vida de milhares de pessoas inocentes. É o caso do treinamento e distribuição de armas para os mujahideen quando da invasão russa no Afeganistão (por causa de interesses pessoais, é claro), que logo após se tornou uma ameaça aos próprios americanos que os treinaram.
Para não esquecer o tema meio ambiente, cada vez mais abordado devido à consciência da constante e progressiva degradação ambiental, Tom expressa suas sinceras preocupações com nosso planeta caso Índia e China continuem crescendo às taxas atuais. Realmente é um tópico que precisa ser abordado e discutido com cautela, mas por que ele não mencionou a contribuição de seu país - o maior poluidor do planeta e único desenvolvido que não assinou o protocolo de Kioto - para a deterioração das condições ambientais? Será que precisamos nos preocupar somente com os países em desenvolvimento? Difícil explicar tal conduta e falta de análise profunda sobre essa problemática.
Como o título já diz, este livro contém bons exemplos de globalização e como nossas vidas são modificadas com o desenvolvimento de novas tecnologias. O problema é que algumas vezes estes exemplos são repetitivos e poderiam sair mais do eixo Índa-China, tornando o texto mais dinâmico. Acredito também que a leitura seria mais prazerosa caso o livro fosse reduzido das aproximadamente 500 para apenas 300 páginas e o autor não ocultasse importantes acontecimentos em relação à política externa americana e sua conduta ambiental.
Uma coisa não se pode dizer a respeito do Mundo é Plano: falta de pesquisa ou coleta de dados para a concepção deste livro. O escritor entrevistou inúmeras pessoas, viajou para diversos países, leu sobre temas relevantes à sua pesquisa, conheceu empresas e seus empreendedores, tudo isso mencionado no decorrer do livro. Suas visitas a empresas de outsourcing indianas contribuíram para que o escritor entendesse e passasse para o leitor como que a globalização está modificando as relações do nosso cotidiano. Porém, o excesso de exemplos indianos, mesmo que surpreendentes, e a lógica simplista ao lidar com terrorismo e comportamento dos países árabes, faz com que o livro perca bastante de seu brilho e destaque.
Dentre os exemplos citados, me recordo de alguns deles, os mais marcantes e incomuns. Um deles é a história de uma mineradora falida no Canadá que foi comprada por um empresário, e para que a mesma saísse dos números vermelhos, foi lançado um desafio mundial através da internet com uma ótima recompensa aos ganhadores. Como o maior problema da mineradora era saber a localização exata dos minérios, o desafio consistia em disponibilizar aos interessados (empresas ou pesquisadores) todos os mapas e dados geológicos da mineradora para que palpites da localização dos pacotes de minérios fossem dados. Através de softwares que utilizavam modelos 3-D , uma empresa australiana de consultoria em geologia acertou em cheio e levou pra casa uma quantia enorme de dinheiro. Este exemplo provou que era possível utilizar meios de comunicação como a internet para que melhores resultados fossem obtidos. A grandiosidade deste ato é ainda maior quando lembrado que o ramo da mineração é muito fechado e conservador, e esta experiência esbanjou em inovação e criatividade.
Já o Wall Mart, maior rede de varejo do mundo, usou também a disponibilidade de novas tecnologias para a introdução do método Just in Time em sua cadeia de suprimentos, reduzindo assim drasticamente o custo dos transportes e operações. Com um rastreamento eficaz, era possível saber que uma mercadoria havia sido comprada logo após o pagamento da mesma. O sistema mandava então uma mensagem ao centro de distribuição mais próximo para que o produto fosse reposto imediatamente. Essa ferramenta possibilitou também analisar e classificar as preferências dos clientes e antecipar futuras demandas, visto que todo produto comprado e suas especificações como marca, cor ou tamanho, era registrado no sistema da cadeia de suprimentos.
Foi interessante ler o livro e ver que alguns relatos, na época em que foram escritos, não passavam de esboços ou início do desenvolvimento de algum produto ou serviço. Foram os casos do Google Earth e da montadora indiana Tata. O Google havia na época acabado de comprar uma empresa de imagens de satélites e os engenheiros da Tata lutavam para desenvolver uma liga de aço apropriada para ser usada num carro com concepção de baixíssimo custo. Hoje, apenas alguns anos após esses registros, o carro super econômico da Tata já é uma realidade e sucesso e o Google Earth está mais presente em nossas vidas cada dia que passa.
Entretanto, na hora de descrever sobre o meio ambiente e a dinâmica das guerras e redes de terrorismo no mundo globalizado, Tom peca devido seu reducionismo simplista e argumentação hipócrita, sem contar que apóia a invasão do Iraque pelas tropas americanas. Ao citar uma de suas teorias, a de que bem estruturadas e desenvolvidas cadeias de suprimentos entre países poderiam frear a eclosão de uma guerra, por causa da importância comercial entre estes países, o escritor sequer menciona que com ou sem cadeia de suprimento, seu país já começou muitas das principais guerras e conflitos da história. É como se não existisse tropas no Iraque e Afeganistão, impossível não atentar a um fato destas proporções, revelando assim mais um exemplo do americano pós 11 de setembro com orgulho ferido.
O erro está em considerar todos os ataques terroristas como atrocidades ou barbáries (concordo plenamente!) sem se perguntar o real motivo de suas causas. Na verdade, o motivo colocado por Friedman é que a inveja da prosperidade dos países ricos, aliada com o sistema repressor em que muitos dos terroristas e homens-bomba vivem, acabam por gerar este comportamento radical. Será que ele não tem conhecimento das atrocidades e manipulações que seu governo já cometeu em vários países por causa de interesses específicos? Tal comportamento não alimenta também o ódio de muitos oprimidos? Benazir Bhutto, em seu livro Reconciliação, cita diversos exemplos da interesseira conduta que os EUA tomaram em relação a países árabes com o intuito de desestabilizar regimes, para que ganhassem presença e poder na região, porém afetando a vida de milhares de pessoas inocentes. É o caso do treinamento e distribuição de armas para os mujahideen quando da invasão russa no Afeganistão (por causa de interesses pessoais, é claro), que logo após se tornou uma ameaça aos próprios americanos que os treinaram.
Para não esquecer o tema meio ambiente, cada vez mais abordado devido à consciência da constante e progressiva degradação ambiental, Tom expressa suas sinceras preocupações com nosso planeta caso Índia e China continuem crescendo às taxas atuais. Realmente é um tópico que precisa ser abordado e discutido com cautela, mas por que ele não mencionou a contribuição de seu país - o maior poluidor do planeta e único desenvolvido que não assinou o protocolo de Kioto - para a deterioração das condições ambientais? Será que precisamos nos preocupar somente com os países em desenvolvimento? Difícil explicar tal conduta e falta de análise profunda sobre essa problemática.
Como o título já diz, este livro contém bons exemplos de globalização e como nossas vidas são modificadas com o desenvolvimento de novas tecnologias. O problema é que algumas vezes estes exemplos são repetitivos e poderiam sair mais do eixo Índa-China, tornando o texto mais dinâmico. Acredito também que a leitura seria mais prazerosa caso o livro fosse reduzido das aproximadamente 500 para apenas 300 páginas e o autor não ocultasse importantes acontecimentos em relação à política externa americana e sua conduta ambiental.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Estréia!
Já era tempo, mais que tempo. Apesar de já ter usado dois blogs com o intuito de registrar minhas andanças e explorações por outros países, nunca havia mantido um blog onde escreveria sobre qualquer coisa que me viesse à cabeça, pensamentos, agonias, críticas, lembranças, resenhas ou idéias. O mundo hoje nos oferece as mais diversas maneiras de uploading como podcasting e twitter e eu sequer mantinha um blog. Exclusão digital? Talvez. Porém, como alguém que eu não conheço já disse, antes tarde do que nunca.
Como escrevi aí em cima, quero aqui colocar algumas das coisas que me passam pela cabeça e que geralmente acabo engolindo ou esquecendo. Outro motivo também importante, que eu não posso deixar de mencionar, é a vontade de escrever que me vem acometendo ultimamente. Me parece que os livros que leio sempre não estão sendo suficientes, não que eu não tenha o hábito de ler, mas sim que está na hora de começar a sair, em vez de só entrar. Escrever pra quê? Fácil. Pra me divertir, pra aprender, aperfeiçoar, passar o tempo, pra matar essa minha vontade recente. Agora, pra quem? Pra mim mesmo já basta.
Confesso que já sofri na hora de escolher o nome para este veículo. Nem tanto pela escolha do nome em si, mas sim pela existência de blogs com os diversos nomes que pensei. Solução: usar o nome de um livro que me marcou, de um escritor que eu gosto muito, o livro que me hipnotizou e prendeu do começo ao fim, me obrigando a lê-lo em apenas um dia, ou melhor, uma sentada. A invenção da Solidão, do Paul Auster. O nome, que me apareceu inusitadamente na cabeça, e que me parecia, inicialmente, apenas um tapa buracos, se revelou mais do que justo. Quero escrever por escrever, pra mim mesmo, teria então um nome mais adequado do que este? E quem sabe um dia escrevo por aqui sobre este livro que há alguns anos li e tanto me marcou.
Como escrevi aí em cima, quero aqui colocar algumas das coisas que me passam pela cabeça e que geralmente acabo engolindo ou esquecendo. Outro motivo também importante, que eu não posso deixar de mencionar, é a vontade de escrever que me vem acometendo ultimamente. Me parece que os livros que leio sempre não estão sendo suficientes, não que eu não tenha o hábito de ler, mas sim que está na hora de começar a sair, em vez de só entrar. Escrever pra quê? Fácil. Pra me divertir, pra aprender, aperfeiçoar, passar o tempo, pra matar essa minha vontade recente. Agora, pra quem? Pra mim mesmo já basta.
Confesso que já sofri na hora de escolher o nome para este veículo. Nem tanto pela escolha do nome em si, mas sim pela existência de blogs com os diversos nomes que pensei. Solução: usar o nome de um livro que me marcou, de um escritor que eu gosto muito, o livro que me hipnotizou e prendeu do começo ao fim, me obrigando a lê-lo em apenas um dia, ou melhor, uma sentada. A invenção da Solidão, do Paul Auster. O nome, que me apareceu inusitadamente na cabeça, e que me parecia, inicialmente, apenas um tapa buracos, se revelou mais do que justo. Quero escrever por escrever, pra mim mesmo, teria então um nome mais adequado do que este? E quem sabe um dia escrevo por aqui sobre este livro que há alguns anos li e tanto me marcou.
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