A capital brasileira, apesar de eu nunca a ter visitado, sempre me impressionou por sua arquitetura díspare, Plano Piloto modernista, e pelo simples fato de ter sido erguida, em apenas 3 anos, no meio do nada brasileiro. Em comemoração ao cinquentenário de Brasília, a Revista Veja publicou uma edição especial sobre a construção da cidade: desafios técnicos e financeiros, histórias das pessoas envolvidas neste empreedimento faraônico, como se deu a mudança da capital e curiosidades sobre a nova capital que surgiu e tanto dividiu opiniões.
Os motivos da construção de uma nova capital, que deveria representar a nova cara da política desenvolvimentista do governo JK, eram basicamente dois: deslocar a riqueza e linha de poder do eixo Rio-São Paulo, dando assim importância para uma região esquecida no meio do país; e construir uma capital mais segura, devido também à sua distante localização, que impediria um golpe de estado no Rio de Janeiro, antiga sede do governo brasileiro. A ideia da construção de uma capital inteiramente nova não foi, porém, aplaudida por todos. Muitos se tornaram céticos a respeito do prazo de construção, enquanto outros não queriam nem imaginar o fato de abandonar o Rio de Janeiro com suas praias e locais tão admirados. Entretanto, para desgosto dos oposicionistas, sendo Carlos Lacerda um dos mais ferrenhos, a Nova Capital saiu.
Porém, é exatamente na época da construção de Brasília que o Brasil começou a se deparar com altas taxas de inflação, causadas pelo déficit orçamentário que a construção causou. Estima-se que a capital custou 2 cruzados para cada brasileiro, dinheiro este que foi emitido para idealizar o sonho de JK. Inexistência de controle fiscal e orçamentário pela Novacap - empresa estatal que se responsabilizou pela construção de Brasília - impossibilitam estimar qual foi o exato custo que Brasília trouxe para o país e reforçam a ideia de que houve muita corrupção e desvio de verbas públicas, já que as obras precisavam ser realizadas a toque-de-caixa.
O concurso que escolheu o Plano Piloto de Lucio Costa - esboçado enquanto o mesmo fazia uma travessia de navio entre o Rio de Janeiro e Nova York - tinha como membro do juri o arquiteto Oscar Niemeyer, que ficou com a incubença de criar os prédios, monumentos e sede do governo federal de acordo com o plano de urbanização.
Devido à grandeza dos prédios do renomado arquiteto comunista, Lucio Costa ficou infelizmente um pouco apagado na história da construção de Brasília. Seu esboço urbanístico, hoje consolidado como uma capital de 50 anos e também patrimônio cultural, foi inovador e se diferencia de todas as outras capitais brasileiras: as ruas não recebem o nome de pessoas, mas são identificadas por números e quadras; longas e largas avenidas ligam blocos governamentais a bairros residencias, impossibilitanto assim que vários percursos sejam feitos a pé; grandes espaços ao ar livre fazem com que aglomerações de pessoas, para desgosto dos políticos vaidosos, se tornem quase impossíveis. Uma curiosidade é que Lucio Costa só esteve duas vezes na capital que desenhou. Não se sentia bem em estar em um lugar que ele e a mulher sonharam, visto que sua esposa faleceu antes da inauguração da capital.
Do ponto de vista da engenharia, a construção de Brasília foi um marco para o Brasil e o mundo. Sem contar o prazo enstrangulador, não era nada fácil colocar em pé as curvas idealizadas por Niemeyer, e para isso o arquiteto tinha como braço direito o engenheiro estrutural Joaquim Cardozo. Para que os projetos se materializassem, Cardozo utilizou muito mais ferro - importado dos EUA - nas estruturas de concreto do que a norma recomendava na época. Segundo a revista, o engenheiro morreu, aos 81 anos, triste e só. Após a construção de Brasília, uma obra desenhada por Niemeyer e calculada por ele, desabou, matando vários operários.
Outra figura de fim trágico que merece destaque é o desbravador Bernardo Sayão. Na época, diretor da Novacap, Sayão era responsável pela construção da rodovia Belém-Brasília. Afinal, era preciso ligar a nova capital, localizada em lugar nenhum, às outras cidades. Com fama de espírito aventureiro e gosto pelo trabalho, Sayão morreu vítima de uma árvore que caiu e o atingiu dentro de sua barraca pouco antes das duas frentes de trabalho se encontrarem. Sua morte foi considerada uma perda inestimável para as novas feições do cerrado que estava para nascer.
No dia da inauguração, menos de 2% dos funcionários públicos realmente se mudaram para o novo posto de trabalho. Muitos dos que o fizeram, principalmente os políticos, reclamaram da falta de conforto das moradias inacabadas e muitas delas ainda sem móveis. Outros, os mais radicais que ficaram, ameaçaram reabrir o Palácio do Catete e continuar a trabalhar normalmente na antiga capital. Apesar da grandiosidade do feito, faltou no início de vida da capital, assessoria de imprensa reponsabilizada em registrar a festa de inaguração e os primeiros momentos de Brasília. Essa tarefa ficou a cargo de fotógrafos independentes, alguns deles estrangeiros, que lançavam sobre Brasília um olhar exógeno, diferente.
Diferente da época da concepção e construção, atualmente não se questiona se Brasília foi um erro ou não, parece que a capital no meio do nada provou sua inocência ou justificou sua existência. Inúmeras tranformações vêm ocorrendo, como a alta especulação imobiliária e a criação de cidades satélites, visto que o Plano Piloto não conseguiu abrigar a todos que se interessaram e fazer parta da história da Nova Capital. É lastimável também que esta cidade ímpar seja palco de inúmeros atos ilícitos e egoístas por parte daqueles que deveriam governar o país e tentar criar um futuro mais promissor para a população. Quem sabe um dia, Brasília.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
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